sábado, 6 de fevereiro de 2016



O Trilho do Bezerro

Havia um certo bezerro que ao voltar ao seu curral,
cometeu um grande erro, para ele natural.
Em vez de diretamente seguir do pasto à porteira,
decidiu, indiferente, fazer à sua maneira.

Inventou um trilho novo ao passar pela floresta,
deu mil voltas o andarilho; para ele isto era festa.
Veio atrás um cão perdido que foi seguindo o bezerro,
repetindo sem sentido cada curva, cada erro.

À frente de seu rebanho, uma ovelhinha faceira,
mesmo em seu pouco tamanho repetiu a mesma asneira.
Um a um, cada animal, foi seguindo o mesmo trilho,
que passou a ser estrada para qualquer andarilho.

Pela estrada em ziguezague veio um dia um fazendeiro;
e as voltas eram tantas que perdeu o dia inteiro.

Surgiu daí um caminho, com muitas curvas fatais,
que passou a ser seguido por homens e animais.
E muitos anos já faz que este erro continua;
muita gente ainda faz as voltas mil dessa rua.

Hoje, se alguém se aproxima, pode ver bem lá do alto
essa estrada que já forma um ziguezague de asfalto.
Mas ninguém corrige o erro, e ninguém faz novos planos;
seguem atrás dum bezerro, já morto há duzentos anos.


Sam Walter Foss

(A mensagem é óbvia... E quando as moças nem os pés podiam molhar mesmo na praia durante a menstruação? E ai de quem passasse, ou passe ainda... por baixo de uma escada... Mas é o que eu faço, até dá mais jeito! E quando as Bíblias eram proibidas... queimadas?! Elas que contêm a mensagem direta, inspirada de Deus, para nós Seus filhos?... Ele nos dá inteligência, logo somos responsáveis! Pelo que pensamos, dizemos, fazemos, acreditamos. Em suma: Para não nos enganarmos, o melhor é irmos - sempre - às origens! Pense nisso... EE)

ENTRE PÉS

Certa manhã, o cozinheiro disse:
     - A senhora devia ir curvar-se diante do mandarim.
     - Mas por que devo curvar-me diante do mandarim?
     - O mandarim é uma pessoa muito importante. Ele pode mandar cortar a sua cabeça.
Essa ideia certamente não me atraía, por isso perguntei:
     - Mas como faço para curvar-me e o que devo dizer?
O cozinheiro não sabia, pois ele mesmo jamais se havia curvado diante do mandarim, mas disse que iria indagar na cidade.
Demorou muito para voltar.
     - Perguntei a muita gente - disse. - Ninguém sabe o que dizer, pois a senhora é estrangeira, mas falaram para usar suas roupas mais finas.
Olhei para as coisas velhas que estava usando.
     - Bem, então está resolvido - respondi aliviada. - Não posso vestir minhas roupas mais finas porque estas são as únicas que possuo.
Assim, o problema parecia resolvido, mas eu estava inquieta. O mandarim era todo-poderoso na província. Era uma espécie de governador local ou magistrado, responsável pela lei e pela ordem de todas as vilas da província.
Três dias depois da minha conversa com o cozinheiro, houve grande tumulto do lado de fora do meu portão. Fui ver o que estava acontecendo e dei de encontro com o próprio mandarim que entrava no meu pátio.
Trajava belas roupagens, e trazia a cabeça ornada por maravilhosa cobertura. Mas o que mais me alarmou foi a espada enorme, longa e recurvada que pendia de seu lado. E atrás dele vinham três soldados, cada um com uma espada longa e recurvada.
O aviso do cozinheiro acerca de cortar a cabeça levou-me a aproximar-me do visitante com grande apreensão. Tiveram início as mesuras, saudações e expressões formais de pêsames pela perda da minha companheira. Finalmente, o mandarim chegou ao motivo da visita.
     - Srta. Aylward, venho pedir a sua ajuda.
     - Minha ajuda! - repeti atoleimada.
     - Sim, vim por causa de seus pés.
     - Não é por causa da minha cabeça?
     - Claro que não, é que a senhora tem pés grandes.
Olhei para baixo atónita. Afinal de contas, eu só calçava tamanho 33!
     - Não compreendo, Mandarim.
     - Recebi uma carta do governo, do novo governo, que me deixou muito preocupado. Ela me informa que, por decreto oficial, o antigo costume de enfaixar os pés das mulheres deve cessar em toda a China!
     - Isso é uma coisa muito boa - retorqui. - Esse costume aleija os pés das pobres mulheres.
     - O governo diz que sou pessoalmente responsável pela erradicação desse costume antigo nesta parte da província de Xansi.
     - Oh, compreendo.
     - Ah, não compreende, não! O governo passa os decretos, mas como posso fazer com que sejam cumpridos? Um homem não pode inspecionar os pés das mulheres; só uma mulher pode fazê-lo. E neste distrito inteiro não existe mulher alguma cujos pés não estejam enfaixados, exceto a senhora.

     - Mas que posso eu fazer, Mandarim?
     - A senhora quer ser inspetora de pés? Significa que terá de viajar por toda a região. O governo fornecerá uma mula e dois soldados para acompanhá-la. O salário, contudo, é muito baixo; apenas uma medida de painço por dia e uma quantia muito pequena em dinheiro para comprar legumes.
Mal podia crer no que ouvia! Seria este o plano de Deus para mim? Era assim que Ele estava cuidando das minhas necessidades básicas?
     - Farei o que deseja, Mandarim, mas deve compreender que vim para a China a fim de falar ao seu povo acerca do Deus a Quem adoro. Se eu for inspecionar os pés das mulheres, tenho de aproveitar a oportunidade para pregar.
     - Compreendo e concordo. Ninguém tem nada que ver com os deuses que as pessoas adoram; não tenho preconceito religioso. Também, do ponto de vista deste decreto governamental, seu ensinamento é bom, pois se a mulher tornar-se cristã, não enfaixará mais os pés.
     - Nesse caso, aceito sua oferta com prazer.
O mandarim despediu-se, e, depois de muitas mesuras, partiu. Fui para meu quarto e caí de joelhos em humilde adoração e ação de graças. Não havia mais dúvidas. O meu lugar era aqui; o plano de Deus para a minha vida estava-se desenrolando perante meus olhos.
Yangcheng continuou sendo meu ponto de partida e o Sr. Lu e o cozinheiro deram continuidade ao trabalho da hospedaria, pois eu às vezes me ausentava por uma semana ou mais. Eu e os soldados saíamos de manhã com nossa mula, que carregava um bom suprimento de alimentos secos, e viajávamos por toda aquela província montanhosa.
Quando chegávamos a um vilarejo, os soldados entravam primeiro e convocavam todos a comparecerem a um lugar espaçoso. Depois, repetiam as instruções do mandarim, anunciando que agora o enfaixamento de pés era ilegal e uma ofensa passível de castigo.
Os homens remexiam-se e pareciam pouco à vontade. Eles gostavam que suas mulheres tivessem pés pequenos; achavam que era sinal de beleza e era assim que sempre fora feito. Então os soldados gritavam: "Se os pés de qualquer criança forem enfaixados, o pai dela será preso. Ai-wed-deh é a inspetora de pés do governo; ela vai examinar os pés de todas as mulheres e crianças. Qualquer mulher que se recusar a deixar examinar os pés será castigada."
Ai-weh-deh era o nome chinês que me haviam dado. Significava "mulher virtuosa".
A seguir, eu começava a falar ao povo. Contava-lhes uma história - muitas vezes um conto de fadas como o "Capuchinho Vermelho". O povo ria de contente, e então eu ensinava um corinho depois de lhes haver explicado o significado da letra.
A seguir, falava-lhes a respeito dos pés.


     - Vocês sabem que os pés dos meninos e das meninas são semelhantes; se Deus quisesse que as meninas tivessem pés pequenos e raquíticos, Ele os teria feito assim. Entretanto, Ele os fez a todos iguais. E assim o governo diz que se deve permitir que os pés das meninas cresçam normalmente. Não devem ser enfaixados. Toda a mulher que enfaixar os pés de seu bebé será castigada. Se vocês homens permitirem que os pés de suas filhas sejam enfaixados, os soldados os levarão presos.
Era tarde demais para ajudar as mulheres mais velhas, mas eu podia fazer algo pelas adolescentes. Fi-las desenfaixar os pés e ordenei-lhes que usassem sapatos suficientemente grandes. A princípio, detestaram a ideia e acharam que eu estava arruinando suas oportunidades de conseguirem marido. Mas os soldados lhes diziam: "Ou vocês desenfaixam os pés ou vão para a cadeia. Podem escolher, irmãzinhas, mas a cadeia não é muito confortável."
Às vezes os aldeões iam até à hospedaria onde eu pernoitava e pediam-me que lhes contasse outras histórias e lhes ensinasse mais corinhos. Assim, durante meses e anos, fui de vilarejo a vilarejo até tornar-me conhecida e bem-vinda, e fiz muitos amigos. Chamavam-me "A Contadora de Histórias", e as pessoas jamais se cansavam de ouvir as histórias do Antigo Testamento, tantas vezes repetidas.


Ao volver meus pensamentos para aqueles tempos, fico maravilhada em ver a forma como Deus levantou oportunidades para o trabalho. Eu tanto desejara ir à China, mas jamais, em meus sonhos mais arrojados, imaginara que Deus prevaleceria de modo a abrir-me as portas de todas as casas em todas as vilas; que eu teria autoridade para banir um costume cruel e horrível; que teria proteção governamental; e que seria paga para pregar o evangelho de Jesus Cristo enquanto inspecionava pés!
Gradualmente, alguns se convertiam aqui e ali, e formava-se um grupinho em cada vilarejo - os primórdios de uma pequena igreja. Assim, durante os anos que se seguiram, à medida que o evangelho ia sendo pregado, a prática de enfaixar os pés deixou de existir, o hábito de tomar ópio diminuiu, e o testemunho da graça salvadora de Jesus Cristo foi estabelecido em diversos lugares.
Eu vivia agora exatamente como uma chinesa. Vestia roupas chinesas, comia seu alimento, falava seu dialeto, e comecei a pensar como os chineses. Este agora era o meu país; os chineses do norte eram o meu povo. Resolvi requerer minha naturalização como cidadã chinesa. Em 1936, meu requerimento foi deferido e passei oficialmente a ser chamada de Ai-weh-deh.

Gladys Aylward in Apenas uma Pequena Mulher, Editora Vida.


"Sem contar com a ajuda de qualquer organização missionária, Gladys Aylward saiu da Inglaterra sem nenhum apoio e com menos de dez dólares na bolsa, rumo à China. Contra o panorama da Guerra Sino-Japonesa dos anos 30, ela labutou ao serviço do governo chinês e do grande orfanato que fundou. Apenas Uma Pequena Mulher conta as inúmeras vezes em que Deus interferiu na vida daquela que se dispôs a fazer a vontade d'Ele - a qualquer custo." Que GRANDE Mulher!!!

(Leia mais em 1R - Leituras para a Vida, 06.02.2016)