Havia uma menina que gostava muito de contradizer os outros. Acho que vocês já devem ter conhecido muitas crianças assim. A gente pode reconhecê-las pela frequência com que dizem: "Não é assim."
Em geral, elas usam outras frases como: "Não acredito que seja verdade!"; "É mentira!" Vamos ver, por exemplo, com o irmãozinho, que chega do quintal transbordante de alegria, porque acaba de fazer um bonito castelo de areia.
- Que feio! - diz, quando lhe teria sido tão fácil dizer: - Que bem feito está o castelo, que bonito!
Ou quando o outro irmão chega da escola, mostrando um mapa desenhado por ele.
- Olha! - fala com orgulho infantil - não está bonito?
- Não! - replica ela. - Horrível. Qualquer criança desajeitada faz um igual.
E daí começa uma briga entre eles, que demora a acalmar.
E assim vai a nossa menina que gosta de contradizer. Até com o papá e a mamã ela faz assim.
Se a sua mãe diz à hora da refeição:
- Ei, crianças, vocês viram que as nossas galinhas estão pondo novamente? Ontem puseram quatro ovos.
- Não é verdade! - interrompe a menina.
É feita uma repreensão para que ela não contradiga, mas parece que as repreensões não fazem nenhum efeito.
Quando o papá começa a falar:
- Sabem o que vi esta manhã? Um anãozinho de apenas um metro de altura.
- Não acredito! - exclama a habitual interruptora.
O pai ordena que ela se retire da sala, mas ao voltar, traz o mesmo espírito de contradição.
O pior, porém, é que contradiz os pais na presença de visitas, quando é difícil castigá-la. Certa noite, viera tomar chá em sua casa uma senhora, e a mamã esperava que todas as crianças apresentassem um bom comportamento. Estava tudo bem. Porém, quando a mamã começou a contar à visita o que o bebé fizera no jardim, poucos dias atrás, parece que a nossa heroína se esqueceu por completo de que havia uma visita em casa.
- Queria que a Senhora visse, cavou um buraco com o garfo - dizia a mãe.
- Mentira!
A mãe franziu a testa. Depois continuou.
- Tinha quase meio metro de profundidade.
- Não, era um buraco pequeno!
A mãe torna a fazer cara feia, mas faz um esforço e continua:
- Ainda ali está.
- Não está!
- Olha! - disse a mãe à menina - Se tu continuares a interromper-me dessa maneira, a tua nova professora vai fazer um mau conceito de ti.
- Quem será a minha nova professora? - perguntou a menina com ansiedade.
- Esta Senhora - disse a mãe. - Do ano que vem em diante, ela vai lecionar na escola.
- Ah! - murmurou envergonhada a pequena, e saiu correndo da sala.
A mãe disfarçou, e continuou falando com calma sobre o buraco cavado pelo bebé no jardim. Quando acabaram de tomar o chá e a boa senhora se foi embora, ela dirigiu-se para o quarto da menina que, encostada na cama, chorava sozinha. Sabia que se portara mal, muito mal, e calculava o que a estava aguardando. O que realmente lhe doía era que a sua professora tivesse desde o princípio um mau conceito sobre ela, como uma menina mal-educada e grosseira.
- Quantas vezes já te disse para não ficares contradizendo tudo o que os outros falam? - perguntou-lhe a mãe, indo direta ao assunto.
- Nem me lembro - disse a menina em soluços. - Talvez muitas e muitas vezes.
- Não achas que mereces uma surra?
- Sim, mamã. E as lágrimas redobraram.
- Bem, desta vez vou perdoar, mas digo-te uma coisa:
- Sim, mamã - disse, ainda soluçando um pouco.
- Quando tu me contradizes na presença de visitas, sabes o que faz com que as pessoas pensem de mim?
- Não senhora.
- Pois está bem claro! Julgam que estou mentindo. Contra a minha palavra, têm a tua, e talvez imaginem que estou enganada. Tu queres que as pessoas saiam daqui pensando que a tua mãe é uma mentirosa?
- Ah, isso não, mamã, eu não quero isso - disse a menina.
- Pois é assim mesmo. E havendo ou não visitas aqui, tu nunca deves contradizer a ninguém, a não ser nos melhores termos possíveis, e ainda assim deixando sempre a possibilidade de que a outra pessoa tenha razão. E afinal, não é ilógico que uma menina como tu, da tua idade, queira saber mais do que todo o mundo, jovens ou velhos?
- É sim, mamã!
- Ainda vais continuar agindo assim?
- Não mamã; nunca mais farei isso.
E realmente ela cumpriu a sua promessa.
Artur S. Maxwell in As Melhores Histórias do Nosso Amiguinho Vol.2, Casa Publicadora Brasileira