terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O BEM E O MAL TAMBÉM SE APRENDE.
                                                      Até na Quadra de Natal...


DIA  DE  NATAL














Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.


É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce, de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.


De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)


Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.


Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.


Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.


Cada menino abre um olhinho na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha salta da cama,
corre à cozinha mesmo em pijama.


Ah!!!!!!!!!!!!

Na branda macieza da matutina luz
aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.
Jesus, o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho de Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam
que caíam crivados de balas.


Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas alturas.


António Gedeão - Máquina de Fogo (1961), in Poesias Completas, 2ª ed., 1965


















O  NATAL  EM  QUE  FIQUEI  RICA

"Ser  pobre  e  satisfeito  é  ser  rico. E  bastante  rico!"
William Shakespeare

       Havia uma árvore naquele Natal. Não tão grande e frondosa como outras, mas estava pejada de enfeites e tesouros e resplandecia de luzes. Havia presentes, também. Alegremente embrulhados em papel vermelho ou verde, com etiquetas coloridas e fitas. Mas não tantos presentes como de costume. Eu já tinha reparado que a minha pilha de presentes era muito pequena.

       Nós não éramos pobres. Mas os tempos eram difíceis, os empregos escassos, o dinheiro à justa. A minha mãe e eu partilhávamos uma casa com a minha avó e com os meus tios. Naquele ano da Depressão, toda a gente espaçava refeições, levava sanduíches para o trabalho e ia a pé para poupar nos bilhetes de autocarro. Anos antes da Segunda Guerra Mundial, já vivíamos no dia-a-dia, como muitas outras famílias, o que então se iria ouvir como slogan: "Usa-o, aproveita-o ao máximo; faz com que funcione, ou passa sem ele."

       Havia poucas escolhas. Compreendia pois porque era tão pequeno o meu monte de presentes. Compreendia, mas sentia, ainda assim, uma ponta de pesar à mistura com um complexo de culpa. Sabia que não poderia haver surpresas empolgantes naquelas poucas caixas vistosamente embrulhadas. E sabia que uma delas tinha um livro. A minha mãe arranjava sempre um livro para mim. Mas nada de vestidos novos, camisolas ou um roupão acolchoado e quentinho. Nenhum dos miminhos tão desejados na altura do Natal…

       Havia uma caixa com o meu nome da parte da minha avó. Guardei-a para o fim. Talvez fosse uma camisola nova, talvez um vestido — um vestido azul. A minha avó e eu gostávamos ambas de lindos vestidos e de todas as tonalidades de azul. Soltando os devidos "Ohs!" e "Ahs!" ao ver a aromática barra de sabonete feito de mel, as luvas vermelhas, o já esperado livro (um novo da Nancy Drew!), rapidamente cheguei àquele último embrulho. Dei por mim a sentir uma centelha do entusiasmo do Natal… Era uma caixa bastante grande. Com vergonha de mim mesma por ser tão gananciosa, por esperar receber um vestido ou uma camisola (mas esperando na mesma!), abri a caixa.

       Meias! Só meias! Soquetes, meias altas, até mesmo um par daquelas meias horrorosas de algodão branco que estavam sempre a escorregar e se enrodilhavam em volta dos joelhos.

       Esperando que ninguém tivesse dado conta do desapontamento, peguei num dos quatro pares e agradeci à minha avó, com um grande sorriso. Ela também sorria. Não com o seu sorriso educado e distraído de "Sim, querida", mas com o seu sorriso feliz e radiante, de "Isto são coisas importantes para uma mulher!" Será que me esquecera de alguma coisa? Olhei de novo para a caixa no chão — nada, a não ser as meias. Só que agora eu conseguia ver que havia outro par por debaixo do que eu tinha pegado. Duas camadas de meias. E mais uma! Três camadas de meias!

       A sorrir de verdade, comecei a retirá-las da caixa. Meias cor-de-rosa, meias brancas, meias verdes, meias de todos os tons inimagináveis de azul. Toda a gente estava a olhar, rindo comigo, enquanto eu atirava as meias ao ar e as contava. Doze pares de meias!

       Levantei-me e dei um abraço tão apertado à minha avó que até nos doeu às duas. "Feliz Natal, menina Joan!" disse ela. "Agora, todos os dias, terás muitas escolhas a fazer. Estás rica, minha querida!" E era verdade. Naquele Natal e durante todo o ano, todas as manhãs, eu escolhia do meu elegante armário da roupa interior qual o par de meias a usar. E sentia-me rica. E ainda sinto!

       Mais tarde, a minha mãe disse-me que a minha avó tinha andado a esconder aquelas meias durante quase um ano — poupando todas as moedinhas, comprando um par de cada vez. Um dia, tendo visto um lindo par de meias azuis com as beiras elásticas bordadas à mão, ela pedira mesmo ao compreensivo vendedor para deixar um sinal a reservá-las durante três semanas.


Dentro daquela caixa estava embrulhado um ano de amor.
Foi um Natal que eu nunca esquecerei.
A prenda da minha avó mostrou-me como as pequenas coisas podem ser importantes.
E como o amor nos faz a todos imensamente ricos!

Joan Cinelli


Jack Canfield & Mark Victor Hansen
Chicken Soup for the Soul – Christmas Cheer
Chicken Soup for the Soul Publishing, LLC, 2008
(Tradução e adaptação)

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Caros leitores,

O Projecto intitulado Clube de Contadores de Histórias, nascido em 2006 na Escola Secundária Daniel Faria – Baltar, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa, não só em Portugal, mas também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a continuidade do referido clube, foi constituída uma equipa pedagógica, formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que tomarão a seu cargo a selecção, preparação e envio de uma história semanal por correio electrónico, tal como habitualmente tem vindo a ser feito.

Esperando que o projecto continue a merecer a melhor atenção por parte do público leitor, despede-se com os melhores cumprimentos,

A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

ac@contadoresdehistorias.com





ENTÃO É NATAL
(tradução brasileira)

Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez.
Então é Natal, a Festa Cristã do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom Natal, e um Ano Novo também, que seja feliz quem
souber o que é o bem.

Então é Natal, p'ro enfermo e p'ro são, p'ro rico e p'ro pobre, num só coração.
Então bom Natal, p'ro branco e p'ro negro, amarelo e vermelho, p'ra paz afinal.
Então bom Natal, e um Ano Novo também, que seja feliz quem
souber o que é o bem.






AFINAL  QUEM  É  O  ANIVERSARIANTE?...




Neste Natal ofereço a quem me visitar um atractivo Presente: o filme MÃOS TALENTOSAS - Ben Carson, a história de um dos maiores neuro-cirurgiões da actualidade a trabalhar nos EUA (Links 9I).
E podem ouvir mais alguns belos Cânticos de Natal nos Links N-10.


DESEJO A TODOS UM NATAL FELIZ E CHEIO DE AMOR,
COM JESUS! E. E.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

DIA DE ACÇÃO DE GRAÇAS




       O Dia de Acção de Graças (Thanksgiving Day) é uma das mais importantes celebrações do povo norte-americano. Celebra-se na 4ª quinta-feira de Novembro e tem um sentido profundamente religioso.

       Durante as sublevações religiosas dos séculos XVI e XVII, um grupo de homens e mulheres, chamados Puritanos, tentou reformar a Igreja de lnglaterra, a partir do interior. Na essência, pediam uma mais completa protestantização da igreja nacional e defendiam formas mais simples de adoração e fé. É evidente que as ideias reformistas dos Puritanos, ao destruirem a unidade da igreja-estado, ameaçavam dividir o povo e diminuir a autoridade real. Assim, durante o reinado de James I, um pequeno grupo de Separatistas, convencidos de que nunca seria possível reformar a igreja nacional estabelecida, partiu para Leyden, na Holanda. Aí, procuraram viver de acordo com a sua consciência. Mais tarde, alguns membros desta comunidade, que ficaram conhecidos como os 'Pais Peregrinos', decidiram emigrar para o "Novo Mundo" em busca de liberdade religiosa.

       A viagem acidentada para os 102 corajosos passageiros, a bordo do Mayflower, durou de 6 de Setembro a 21 de Dezembro de 1620, através das águas agitadas e dos ventos ciclónicos do Atlântico. Desembarcaram na América do Norte e fundaram a colónia de New Plymouth, mais tarde denominada Nova Inglaterra. O primeiro Inverno foi muito penoso, mas os Índios ensinaram os 'Pais Peregrinos' a plantar cereais, a caçar e a pescar. Quando chegou o Outono, os Peregrinos tinham conseguido uma grande colheita. Estavam agradecidos. Então, fizeram uma festa para dar graças a Deus e convidaram os Índios. Esta foi a 1ª festa de Acção de Graças, que passou a repetir-se todos os anos. Até que, em 1863, o presidente Abraham Lincoln declarou o Dia de Acção de Graças feriado nacional. Ainda hoje, as famílias reúnem-se para um jantar especial com perú recheado, batata-doce e tarte de abóbora.


       Todos os dias deveriam ser 'Dia de Gratidão' ou 'Acção de Graças' pelas inúmeras bênçãos recebidas ao longo do ano. Porque, como diz Dorothy O'Neill: "O coração agradecido é o melhor antídoto para a depressão e o desânimo." Porém, não menos importante é poder viver em liberdade de consciência para adorar a Deus, de acordo com a Revelação que Ele inspirou - a Bíblia Sagrada.

Ezequiel Quintino in Pensar Faz Bem





ACÇÃO DE GRAÇAS

       Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando Eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também. João 14:1-3

       Talvez você já esteja a ouvir alguma coisa sobre este assunto há algumas semanas ou meses em vários jornais e nos comerciais da televisão. Ele é um tópico de muitas conversas entre amigos, familiares e colegas de trabalho.
       Nós americanos, planejamos fazer grandes coisas nesta ocasião especial. Para alguns, significa uma longa viagem para a outra extremidade do país, com crianças irritadas, poucas paragens para descanso, voos atrasados, tempestades de neve, inundações, tornados e falta de sono. Para outros, significa apenas um curto passeio para o outro lado da cidade. Outros, ainda, nunca saem de casa.
       No passado, uma saída de trenó sobre o rio congelado e ir pelos bosques era tudo o que se esperava fazer.

       Você adivinhou, não foi? Pelo último comentário acerca do trenó e dos bosques? Eu bem que gostaria de andar nesse meio de transporte, se a casa da minha avó não ficasse tão longe. Hoje é um pouco diferente, não é verdade? Pergunte a quem quiser, e verá que reunir-se com a família no feriado de Acção de Graças é um grande evento! Por que fazemos isso? O que nos leva a deixar todas as outras actividades de lado? O que queremos ver? O que há de especial?
       Preciso admiti-lo: algumas pessoas viajam por obrigação, outras por lealdade, algumas por causa da tradição e outras são forçadas a isso, mas gosto de pensar que a maioria viaja por amor - o Amor incondicional que uma família pode oferecer.
       No feriado de Acção de Graças, muitas diferenças são postas de lado e recordamos os tempos felizes. Contamos histórias uns aos outros, rimos, brincamos e comemos. Banqueteamo-nos, não só com o alimento, mas com a abundância de amor que permeia a sala de jantar. Deleitamo-nos com a cálida aceitação e a sensação de segurança por nos sentirmos parte daquele grupo. E sentimos falta dos que fazem parte do nosso círculo familiar, mas estão ausentes. O divórcio, a distância e a morte têm o seu triste jeito de nos separar. Conservamos no coração, entretanto, a lembrança daquilo que os ausentes já partilharam connosco.

       Deus fez as famílias para que se amassem, assim como Ele nos ama - incondicionalmente. Deseja que nos envolvamos uns com os outros, oremos uns pelos outros e cuidemos uns dos outros da mesma forma como Ele o faz por nós.
       Um dia Deus nos servirá um grande banquete numa mesa que terá quilómetros de extensão. Ele está preparando um lar, uma mansão para cada um de nós. Um lar cheio de paz e harmonia - para sempre. Quando Jesus vier a fim de levar-nos para o Lar, estaremos viajando por amor. O Amor do Pai, concedido ao Filho e derramado na cruz por todos nós.


       A minha oração é que cada um de nós se prepare agora para a volta de Jesus. Ela promete ser a Maior Festa de Acção de Graças que já aconteceu!

Darlyn Townsend in Meditação da Mulher - Do Fundo do Coração


DAI GRAÇAS

Dai graças, de todo coração; Agradecei, ao único Santo
Agradeça, porque Ele nos deu Seu Filho, Jesus Cristo.

Agora diga o fraco: "Eu sou forte"; Diga o pobre: "Eu sou rico"
Por que assim fez o Senhor por nós.




"A primeira ACÇÃO DE GRAÇAS em Plymouth, por Jennie
A. Brownscombe (1914)"

llllllllllllllllllllllllllll

PROCLAMANDO A GRAÇA DE DEUS

(Atlanta-Parade-59th General Conference of Seventh-Day Adventist-2010)


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

E QUE TAL:
"DIA NACIONAL PARA A ERRADICAÇÃO DO ALCOOLISMO"?


EDITORIAL

       É um facto cultural irrefutável: somos um país de gente que gosta da pinga. Dito assim, de uma forma um tanto brejeira, a frase adquire um tom de anedota que assenta que nem uma luva na figura não menos caricata do Zé Povinho, criada em 1875 por Rafael Bordalo Pinheiro. O 'boneco' boquiaberto, intrigado, de chapéu braguês, com fato coçado e roto, tem mais de 100 anos mas mantém uma actualidade impressionante, continuando a satirizar uma certa mentalidade vigente no nosso povo.
       Falo do tradicional fatalismo acomodado que nos caracteriza, no individualismo desconfiado que nos obriga a olhar para os novos valores com alguma suspeição, no apego às velhas tradições que sempre nos impeliu a fazer um manguito ao que é imposto ou sugerido. Somos um país de teimosos. Pois só a teimosia justifica que mantenhamos certos hábitos, embora a evidência nos indique que deveríamos mudar de rumo. E volto ao início, ao "gosto pela pinga", que é exactamente o mesmo que dizer "o excessivo e irresponsável gosto pelo álcool".
       Só a teimosia nos cega ao ponto de não vermos os números com olhos de ver. Em Portugal existem 800 mil alcoólicos. Cada português consome, em média por ano, 50 litros de vinho, 61 de cerveja e 7 litros de bebidas destiladas. E se quisermos estruturar os números por faixa etária, sabe-se hoje que, ao nível da Europa, um quarto dos jovens entre os 15 e 29 anos morre em acidentes de viação motivados pelo excesso de álcool. É demasiada gente envolvida para que possamos fechar os olhos a esta realidade. E não basta criar legislação proibicionista e aumentar a fiscalização. De nada serve argumentar que a idade mínima permitida para o consumo de álcool deveria ser 18 anos. Que a taxa de alcoolémia deveria ser mais baixa. Que o aumento do preço de algumas bebidas como a cerveja e a redução do horário nocturno de bares e discotecas, poderiam resolver a questão. Não me parece que seja pela lei que consigamos mudar mentalidades. São séculos e séculos de um hábito socialmente aceite e até incentivado. Não se alteram comportamentos de um dia para o outro.
       Por esta altura, certamente farto de ser doutrinado, poderá atirar a grande questão: "E se em vez de constatar e criticar, passasse às soluções?" Bela sugestão. Mas não tenho respostas. Desconheço as técnicas que possam levar a mudança de comportamentos massificados. Assumo que faço parte do grosso do povo que ainda tem os tiques do Zé Povinho, aquele que aponta o dedo, que olha de lado, mas que pouco ou nada faz.
       Não bebo. Porque não gosto do sabor que o álcool me deixa na boca e do peso que me exerce na cabeça. Talvez por isso não entenda as motivações de quem procura afogar numa garrafa os imbróglios do dia-a-dia. Mas não pretendo ser juíza de causa alheia nem tenho a veleidade de me colocar em bicos dos pés e servir de exemplo a quem quer que seja. Sem presunção, e porque a época festiva está à porta e os excessos fazem sempre estragos, só quis falar de números. 800 mil portugueses. É muita gente.
       As estatísticas sempre me cansaram. Têm a desvantagem de serem frias, desprovidas de rostos. Aposto que pensa o mesmo. Mas faça um exercício mental. Imagine que uma só pessoa desse rol de quase um milhão é um familiar seu. Pai, filho, irmão. Agora pense nas consequências nefastas que o álcool pode acarretar na vida dessa pessoa e na vida daquelas que a rodeiam. Inclua-se a si próprio e verá que os números passarão logo a ter outro significado.

Maria Assunção Oliveira, Médica, Chefe de Redacção da SEMANA MÉDICA, 02 a 08/12/2004.

A VIDEIRA

       Existem no mundo cerca de 3000 espécies cultivadas de videira, que produzem um dos frutos mais medicinais que se conhecem. Todas as civilizações antigas da região mediterrânica conheciam a videira e utilizavam-na amplamente.
       Tanto o fruto como as folhas e a seiva desta nobre planta possuem abundantes propriedades medicinais e constituem um excelente alimento-medicamento natural, inteiramente isento de toxicidade. Não podemos dizer o mesmo do vinho, produto da degradação e decomposiçãoo do sumo de uva, em cujo processo de transformação perde as suas notáveis propriedades medicinais e se torna numa droga líquida com capacidade para intoxicar, alterar a conduta e provocar dependência.

       O sumo de uva é rico em substâncias de elevado valor biológico: açúcares de grande valor nutritivo, proteínas, vitaminas e minerais. O vinho, pelo contrário, perde a maior parte dos açúcares, que se transformam em álcool durante a fermentação, assim como as proteínas e vitaminas. O sumo de uva é alimento e remédio. O vinho, que nada mais é do que o produto da sua decomposição, é destituído de substâncias alimentícias. Pelo seu conteúdo em álcool torna-se irritante para os órgãos digestivos, e em especial para o fígado, mesmo em pequenas quantidades.
       Tenha-se em conta que o álcool etílico contido no vinho (de 60 a 120g por litro) é um poderoso veneno para o organismo. Quando o sangue contém 1 grama de álcool por litro, já se verificam sintomas de intoxicação etílica (euforia, falta de domínio mental, perda de reflexos). Um nível de 4-5g por litro de sangue provoca a morte por coma e paragem respiratória. Os valores máximos de alcoolémia (concentração de álcool no sangue) permitidos nos países ocidentais para os condutores oscilam entre 0,2 e O,8g por litro de sangue.
       Pondo de parte os elogios de poetas e gourmets, a única propriedade medicinal do VINHO, realmente reconhecida e comprovada, é a antisséptica, quando se aplica externamente sobre as feridas, devido ao álcool que contém. Como tal se usou na antiguidade, e foi recomendado por Dioscórides. É este o emprego que se lhe dá na parábola do Bom Samaritano. Os antigos mitos de que o vinho "faz sangue", ou de que o vinho é bom "para o coração", foram completamente desmentidos pelo progresso científico, como aconteceu com outras plantas e tratamentos antigos.
Sabemos hoje que o consumo habitual de bebidas alcoó1icas produz anemia megaloblástica e miocardiopatia (degenerescência do músculo do coração).
       "O vinho, tomo-o nos cachos", dizia Louis Pasteur, o grande cientista francês do século XIX. As propriedades medicinais estão na uva e nas folhas da videira, como a Natureza no-las oferece, e não no vinho. ... O melhor vinho, o autêntico vinho, é o sumo puro do fruto da videira.

Jorge Pamplona, Médico de Gastroenterologia e Cirurgia, extraído de A Saúde pela Alimentação, Enciclopédia de Educação e Saúde


EDITORIAL

       Quando um atleta do nosso país alcança um lugar de destaque numa prova desportiva, em despique com atletas de outras nacionalidades, o nosso coração de patriotas vibra de orgulho como se nós próprios tivéssemos ganho alguma coisa. Como nos havemos então de sentir ao constatar que, para grande vergonha nossa, ocupamos na Europa e no Mundo um dos lugares mais negativos que poderíamos ocupar?
       Portugal tem o preocupante 1º lugar no consumo de álcool puro, com o valor de 11 litros per capita e por ano.
Existem em Portugal 800.000 alcoólicos crónicos e mais de 1.500.000 bebedores excessivos, estando afectado um quarto da nossa população. O nosso também triste 1º lugar em acidentes de viação reflecte bem essa situação. Que faz o Estado e a sociedade em geral para combater este terrível flagelo? Perante a enormidade do problema somos tentados a afirmar que se faz pouco mais que nada, sobretudo na prevenção junto aos mais jovens. A incoerência da nossa sociedade, como um todo, em relação a este flagelo é grande. Resta-nos a consolação da admirável saga dos Alcoólicos Anónimos (ver Links 3I) em remendar os 'cacos' de tantas vidas desperdiçadas.
       Sendo, embora, Portugal e, para grande tristeza nossa também, o país da Europa com mais toxicodependentes (de drogas ilícitas) por milhão de habitantes (40 a 150 mil), esse terrível número, mesmo assim, não tem comparação com o número citado de alcoólicos crónicos e aqueles que estão em vias de ser. No entanto, as iniciativas contra a toxicodependência estão (e bem) na primeira linha de preocupações de todos e fazem as manchetes dos jornais, enquanto não se fala no 1º dos nossos vícios nacionais. Como recentemente lamentou o psiquiatra Cabral Fernandes, especialista em alcoolismo, "enquanto se vê aumentar a capacidade de resposta para tratar toxicodependentes, para tratar o problema gravíssimo do álcool não existem estruturas".
       Por outro lado, a SIDA (de que tanto falamos) representa a 57ª causa de morte no nosso país, enquanto o alcolismo se situa no 4º lugar. É certamente importante combater as drogas, que a sociedade considera ilícitas, bem como as suas consequências como a SIDA, a criminalidade e o tráfico que lhes estão associados. Mas porque não se combate do mesma forma o álcool?
       A palavra álcool vem do árabe (al-kohol) significando uma coisa "subtil", ou "enganosa", como lhe chama a Bíblia. Karl Marx chamou-lhe até, "o ópio do povo". Porque se consome, então, o álcool? Ele é realmente enganador e essa sua característica tem-no tornado culturalmente importante para o homem quase desde que existe sobre a Terra. O escritor francês Victor Hugo afirmou na sua obra Les Contemplations: "Deus só criou a água, mas o homem fez o vinho".
       Na realidade, a água, que compõe cerca de 70% do corpo humano, é a única bebida indispensável e necessária à nossa vida.
O álcool, que entra na composição de tantas bebidas, é perfeitamente enganador nos seus efeitos: não alimenta, finge que aquece, não dá verdadeiras forças, nem sequer é preventivo das doenças cardíacas (virtude que parece existir, na realidade, nos taninos da uva). Pelo contrário, a toxicodependência que provoca, as doenças que desencadeia, a desagregação social que motiva e os crimes que inspira transformam-no no primeiro inimigo da nossa sociedade.
       Será a luta contra o alcoolismo uma batalha perdida? É certamente uma batalha muito difícil porque terá de se lutar contra uma cultura vínica, de séculos, que fez o país que somos. No entanto, a Saúde e Lar, com as suas responsabilidades de quase 60 anos de publicação em prol da saúde e bem estar dos portugueses, não poderia deixar de contribuir, mais uma vez, para essa luta.
       Este número pretende ser, por isso, uma pedrada no charco da nossa inércia e incoerência nacional. Esperamos que ele ajude a elucidar os nossos Estimados Leitores quanto aos perigos da ingestão das bebidas alcoólicas, em que o mais seguro é, sempre, a Tolerância Zero e que ajude muitos jovens a escolher uma vida saudável, sem álcool. Os jovens são, aliás, a esperança que nos resta.
Com amizade,

Samuel Ribeiro, Médico Pediatra na Grande Lisboa in Saúde e Lar, Dossier Álcool, Novembro 2000, Publicadora SerVir.

I Believe In You - Acredito em Ti


Cântico dedicado, especialmente, à minha querida amiga Elsa Martins (2º nome alterado), que num acto de grande Força de Vontade e de Amor pela sua família e por si mesma, deixou completamente o álcool. E de um dia para o outro!!!
Substituiu-o por muita actividade que procura desenvolver ao longo de cada dia. Já lá vão uns meses... e tudo o comprova.

Parabéns Elsa! Não Volte Atrás. Continue no Caminho da Vitória! Tem Deus Também Por Si!

Acredito, Acredito, Acredito...!
QUEM QUISER MESMO - SERÁ CAPAZ! (E. E.)


(Leia também em Leituras Para a Vida, 14.11.12 - Links 1R)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sobre o Sofrimento... E Sobre a Alma...



O PROBLEMA DO SOFRIMENTO

É inegável que, como nos ensina a experiência e a observação quotidiana da vida, o sofrimento atinge todos os filhos de Adão, quer sejam bons quer maus.
Em presença desta realidade, nada mais natural do que a pergunta: De onde vem o sofrimento? Quem é o seu causador: Deus, Satánas, os outros, nós mesmos?
A resposta não é simples, dada a multiplicidade de fatores intervenientes.

É evidente que muitos dos nossos sofrimentos são causados por nós próprios, pela nossa maneira incorreta de viver. Nesta categoria entram as doenças resultantes de uma alimentação irracional, do uso de bebidas alcoólicas, da dependência em relação às drogas, da imoralidade sexual, do excesso de trabalho e da falta de repouso, de pensamentos, atos e hábitos errados... e a lista podia ser estendida quase sem limite.
Mas nem todos os sofrimentos são consequência dos nossos próprios erros. Por vezes, é o próximo que nos faz sofrer. Que o digam as inumeras vítimas de guerras, roubos, agressões e violações, de intolerância política, social e religiosa... e, também nesta categoria de causas, a lista seria interminável.
Examinando, porém, mais de perto, as causas do sofrimento, constatamos que nem todas elas radicam em nós ou no nosso próximo. Alguns tipos de sofrimento podem ter, próxima ou remotamente, uma origem sobrenatural. E é aqui que se torna necessário o recurso à Bíblia Sagrada, documento fidedigno de revelação divina.

Na Bíblia somos informados acerca de um poderoso ser, Satanás, que se rebelou contra Deus e que usurpou ao homem o domínio deste Planeta. Na expressão de Jesus, ele tornou-se, por usurpação, o "príncipe deste mundo" (João 12:31; 14:30; 16:11). O apóstolo Paulo designa-o como sendo "o deus deste século" (II Coríntios 4:4). No dizer do apóstolo João, "todo o mundo está no maligno" (I João 5:19). Não admira, pois, que grande parte do sofrimento humano seja causado por Satanás e seja consequência do seu governo abusivo em contravenção das normas perfeitas do governo e da lei de Deus.
Na Sagrada Escritura há um livro que se ocupa precisamente do problema do sofrimento - o livro de Job. Nos capítulos 1 e 2, vemos este homem justo atingido pelas maiores calamidades, causadas por Satanás, mas permitidas por Deus em resposta à acusação satânica de que Job servia o Senhor por interesse egoísta. A fé de Job não foi, porém, dececionada. Ele permaneceu fiel no meio de todas as aflições. E o livro termina com a afirmação de que, provada a falsidade da acusação de Satanás, "abençoou o Senhor o último estado de Job, mais do que o primeiro" (Job 42:12).
Satanás encontra-se ainda na origem de muitos sofrimentos por ele causados contra os que lhe são arrebatados e passam a reconhecer a soberania de Deus e a aceitar Jesus como seu Redentor e Salvador. "Se o mundo vos aborrece", disse o divino Mestre, "sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome; porque não conhecem Aquele que me enviou" (João 15:18-21). E, no livro de Apocalipse, somos advertidos: "O diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo" (Apocalipse 12:12).
Mas não Se encontrará o próprio Deus na origem de alguns dos nossos sofrimentos? Talvez dois textos lancem um pouco de luz sobre este problema. Quando, perante um cego de nascença, os discípulos perguntaram ao Mestre: "Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?", Jesus respondeu: "Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus" (João 9:1-3). O segundo texto refere-se à experiência do apóstolo Paulo, que havia sido objeto de tão maravilhosas manifestações da graça divina: "E, para que não me exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar" (II Coríntios 12:7).

Vemos, pois, que o sofrimento pode ser causado por nós mesmos e pelo nosso próximo, acima de tudo por Satanás, e que, seja qual for a sua causa, Deus pode utilizá-lo para o nosso bem. Como escreveu o apóstolo Paulo, "sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus" (Romanos 8:29).
É verdade que todos passamos pelo sofrimento, mas há uma diferença básica na maneira de o enfrentar: aquele que não é crente sofre e é vencido pelo sofrimento; aquele que é crente sofre e vence o sofrimento.

Ernesto Ferreira, Professor de Teologia e Pastor, Redactor, Editor e Presidente da Igreja Adventista do 7º Dia, in Revista Sinais dos Tempos, 3º Trimestre de 2012, Editorial.


A VERDADE CRISTÃ
"Uma crescente percentagem da população atual sofre de um autêntico vazio existencial, ignorando as raízes do seu passado, profunda razão de ser da sua vida presente e que perspetivas lhe reserva o seu futuro.
A tentativa de preenchimento neste vazio está representada na ampla variedade de religiões e diferenciados segmentos que têm surgido ao longo dos séculos. Tal variedade é uma prova evidente de que a solução definitiva transcende as tentativas de origem puramente humana.
É neste contexto que surge a figura de Jesus Cristo e da Verdade Cristã como solução divina para a tragédia humana. Daí a razão de ser de A Verdade Cristã à Luz da Razão, da Revelação Divina e da Tradição." Texto da contra-capa.

Este livro acima apresentado, com 288 páginas, foi escrito por Ernesto Ferreira, que diz no seu Preâmbulo: "...tenho presentemente noventa e oito anos anos de idade, com a capacidade de visão extremamente diminuída, e confinado a um lar para pessoas idosas". Impressionante! Que força de vontade! Um homem de grande sabedoria e profundos conhecimentos mas muito simples e muito humano. Sempre atento e disponível para as solicitações que lhe são feitas, seja por quem for.

(Procure adquirir o livro A Verdade Cristã na Publicadora Servir, Links 3I. Recomendo-o vivamente!)

Para além deste livro recente, escreveu outras obras importantes: O Senhor Vem; Edificados sobre a Rocha; Profecias Cronológicas na História da Salvação; A Alegria da Salvação e Arautos de Boas Novas.

O livro Arautos de Boas Novas com 790 páginas foi escrito também há poucos anos, 2009, e lemos na Nota dos Editores na pág. 12:
"A presente obra é editada pala União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia.
Ela é o resultado de anos de pesquisa profunda e redacção cuidada. Não teria sido possível sem a dedicação, o papel e a importância do seu autor na Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Foi o seu conhecimento sobre o percurso da Igreja, enriquecido pela sua experiência como interveniente, que permitiu a perspectiva histórica aqui relatada.
Ao Pastor Ernesto Ferreira, o nosso reconhecimento por esta obra e a nossa gratidão por uma vida de serviço. UPASD".



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       A maior parte das religiões aceita que o ser humano tem uma alma imortal. O que dirá a Bíblia, fundamento da crença cristã, relativamente a esta ideia?

       Os antigos egípcios acreditavam que, depois da morte, o coração das pessoas era colocado num dos pratos de uma balança e pesado em relação a uma pena - a Pena de Ma'at. Só as pessoas cujo coração estivesse livre de culpa, ou seja, que fosse mais leve do que a pena, seriam agraciadas com a entrada na vida além da morte.
       Talvez esta lenda antiga tenha influenciado o Dr. Duncan MacDougall. Em 1907, este médico de Harville, Massachussets, conduziu uma série de experiências para determinar com exatidão o peso de uma alma. Quando considerava que a morte de um paciente estava iminente, colocava a cama do paciente numa balança industrial de precisão, com a qual se conseguia pesar cada grama.
Comparando o peso de seis pacientes imediatamente antes e após a morte, determinou que cada um tinha perdido 21 gramas. Como acreditava que a alma abandonava o corpo no momento da morte, concluiu que a alma deveria pesar... 21 gramas.
       É fácil compreender a razão pela qual tanta gente tem partilhado esta perspetiva sobre a alma há tanto tempo. A maioria de nós só vê pessoas em cadáver em funerais. E, nos funerais, ouvimos frequentemente as pessoas dizerem: "Ele (ou ela) parece ter um ar tão natural." Mas, como é óbvio, só o dizemos para conforto dos que perderam alguém querido, porque, de facto qualquer pessoa que já tenha visto um cadáver sabe que é tudo menos natural. Falta-lhe alguma coisa, seja ela a alma ou qualquer outra.

       Ao analisar a composição de um ser humano, podemos catalogar cerca de uma dúzia de órgãos, duzentos ossos, seiscentos músculos, e inumeráveis nervos e vasos sanguíneos, todos organizados em 'sistemas', como o circulatório, o respiratório, e outros. Mas isso só enumera os diferentes componentes do corpo e as suas funções. Mesmo que todos os ossos e músculos estejam presentes num cadáver, a pessoa não se encontra nele.
       Sabemos, mesmo que intuitivamente, que cada um de nós é mais do que uma coleção de músculos e ossos, órgãos e enzimas, memórias e capacidades. Esse 'mais' é aquilo que normalmente pensamos ser a 'alma'.

       Desde há milhares de anos, pessoas de diferentes tradições religiosas olharam para a alma como uma entidade separada e consciente, que habita o corpo. Muitas dessas tradições veem a alma como imaterial, isto é, algo que não consiste em matéria, pelo que não tem massa nem peso - nem mesmo 21 gramas. Estas tradições veem o corpo como transitório, enquanto a alma é eterna, imortal. Talvez isso aconteça porque, quando uma pessoa morre, o feio processo de decomposição que toma conta de um corpo nos repugna, enquanto as carinhosas memórias da pessoa defunta nos fazem desejar que continue a viver.
       Psicologicamente, é apelativo fazer a distinção entre uma alma ou um espírito transcendente e um corpo material e temporal. As diferentes culturas expressaram esta perspetiva de diferentes maneiras. Hindus, Budistas e outras culturas orientais desvalorizam a parte física da natureza humana, talvez porque o corpo seja uma fonte de sofrimento. Para os crentes destas religiões, o propósito de viver uma boa vida é escapar ao corpo e ao sofrimento físico.
       Embora existam diferenças quanto às perspetivas das religiões orientais e do Cristianismo sobre a alma, a maioria dos cristãos adota o seu conceito básico. Olham para a alma como uma entidade imaterial, que habita o corpo durante a sua vida e que, no momento da morte, o abandona, para continuar uma existência num outro lugar - nomeadamente entendido como sendo o Céu ou o inferno.

       A Bíblia, tanto o Antigo como o Novo Testamento, oferece uma alternativa radical para esta suposta natureza dual, entre corpo e alma. A perspetiva bíblica começa com a história da Criação, no livro de Génesis: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente" (Génesis 2:7).
Examinemos em detalhe o conteúdo deste texto.

DEUS FORMOU O HOMEM DO PÓ DA TERRA

       O livro de Génesis apresenta Deus pessoalmente envolvido em 'formar' os primeiros seres humanos, como um escultor a produzir uma obra de arte. Para a Sua escultura, Deus utilizou o mais elementar de todos os elementos - a terra, o pó e a lama do próprio solo.
Ao chamar Adão, que significa 'vermelho', ao primeiro ser humano, Deus tornou clara a ligação entre a vida e a matéria, a terra física. No Velho Testamento, o nome de uma pessoa descrevia o seu caráter. Então, ao dar o nome de 'vermelho', a cor do barro, ao primeiro ser humano que criou, Deus literalmente ligou a humanidade à terra, como alguém que vem da terra.

       Ainda mais surpreendente é o facto de o relato de Génesis apresentar Deus a usar as próprias mãos para moldar o ser humano a partir do barro. Em Génesis 1:26, 27, descobrimos que este primeiro ser humano era, num dado sentido, o autorretrato de Deus, pois as Escrituras apresentam-no como tendo sido feito "à Sua imagem". É fantástico pensar que o Criador de todas as coisas tenha dignado a Sua escultura bárrea com o privilégio de lhe emprestar a Sua imagem. Mas seguem-se outras maravilhas.

DEUS SOPROU EM SEUS NARIZES O FÔLEGO DA VIDA

       Quando um socorrista aplica a técnica da respiração artificial, 'respirando' por uma vítima de um acidente, diz-se com frequência que está a dar-lhe 'o beijo da vida'. Qualquer pessoa que tenha estudado Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), e principalmente alguém que já a tenha aplicado, reconhecerá a razão de ser desta expressão. É este preciso ato, este contacto íntimo, que Génesis sugere. Deus criou-nos à Sua semelhança - que honra espantosa! - e, então, a Fonte de toda a vida soprou essa vida na Sua obra de arte.

       Somente nesse momento, diz-nos o texto, o homem se tornou num ser vivente, ou, como algumas tradições indicam, numa alma vivente. Assim, a Bíblia não descreve a alma como distinta ou separada do corpo. Pelo contrário, pelo relato de Génesis, a Bíblia celebra a união do físico com o espiritual, olhando para o ser humano holística, plena e completamente, e não como uma reunião de diversas partes. A narrativa da Criação apresenta esta combinação, não como um juntar forçado de componentes hostis, mas como uma união feliz entre elementos complementares. Em Génesis, o corpo e a alma são um. Deus não deu a Adão uma alma. Ele deu vida a Adão e ele tornou-se numa alma, numa alma vivente.

UM EXEMPLO

       Estou a escrever este artigo num instrumento a que chamamos computador. Um computador que funcione consiste em três componentes. Em primeiro lugar está o hardware, o equipamento físico - o próprio computador, o monitor e o teclado. Depois, temos o software - uma série de instruções que são instaladas no computador, para que ele possa cumprir as suas funções. Finalmente, precisamos de eletricidade. Se subtraírmos um destes três componentes, o computador 'morre', torna-se inoperacional, deixa de existir para o seu propósito. É como se nunca tivesse sido um computador.
       O mesmo acontece connosco, seres humanos. O nosso corpo físico é como o nosso 'hardware'. O nosso cérebro é preenchido com o 'software' - instintos, memórias, sentimentos e conhecimentos, que nos tornam quem somos. Finalmente, Deus dá-nos vida, a 'corrente elétrica', se assim colocarmos o termo. Se for removido algum destes componentes, deixamos de funcionar, deixamos de existir.

       Sem eletricidade, a memória, as instruções e os dados do computador desaparecem. Da mesma forma, quando o corpo morre, o nosso cérebro pára de funcionar. As memórias, o conhecimento e a informação que nos fazem quem somos, desaparecem. Não existe uma alma consciente e autónoma, do mesmo modo que um computador não tem uma existência 'inteligente' para além da eletricidade que lhe dá energia.
       A Bíblia afirma a visão de que a consciência termina com a morte. Ela declara: "Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem, tão-pouco, eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol" (Eclesiastes 9:5 e 6).

       Para aqueles que se estão a interrogar sobre os 21 gramas das conclusões do Dr. MacDougall e do peso da Pena de Ma'at, aqui fica uma reflexão. Os hieróglifos egípcios apresentavam sempre Ma'at com uma pena de avestruz na mão - a qual, dizem-nos os ornitólogos, pesa pouco mais de seis gramas. Por outras palavras, por curiosidade, os 21 gramas da 'alma' de MacDougall pesariam cerca de 3,5 vezes o peso da pena de Ma'at. O que significa que impossibilitaria que qualquer alma entrasse na vida após a morte!

       Mas não temos de preocupar-nos.
       Deus não olha para nós como registos imateriais de boas e más ações, nem nos menospreza pelo facto de sermos seres corpóreos. Ele idealizou-nos dessa forma. De facto, no seu evangelho, João diz-nos que "a Palavra Se fez carne", que o próprio Filho de Deus Se tornou miraculosamente num ser material e físico, para demonstrar o amor de Deus por nós.
A Bíblia afirma repetidamente o privilégio de se ser uma alma vivente, uma pessoa. Pois, ser-se humano, uma alma vivente, é ser-se objeto do amor de Deus, recebendo a oportunidade de usufruir de uma relação íntima com Aquele que nos criou.


Texto de Ed Dickerson e imagem acima retirados da Revista já mencionada.


(Leia mais em Leituras para a Vida, 02.12.2012, Links 1R)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

ADULTÉRIO, PROSTITUIÇÃO, ETC. E TAL...
Pobreza e Imaturidade - Moral e Mental


A MENTE VORAZ

       Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a senhora, porque é a mulher dele. Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra Deus? Gênesis 39:9

       A resposta de José para a mulher de Potifar é clássica. A cena se assemelha com a de uma novela: o jovem e a mulher mais velha; o escravo e a esposa do mestre, que trama seduzi-lo, aguarda o momento oportuno e, então, ataca. Mas, mesmo em desvantagem (os desejos da carne, a manipulação, a demonstração de poder), o jovem não age conforme o roteiro manda. José vira as costas e foge.
       Não sabemos qual era a aparência da mulher de Potifar, se era atraente ou não. Por ser a mulher de um oficial do governo, há grande possibilidade de que fosse muito atraente. Sem dúvida, ela se adornou com as roupas e jóias mais sedutoras que possuía para tentar atrair o jovem que havia escolhido para conquistar.
       Mas pode ser que ela não tenha sido nada atraente. A tentação geralmente ocorre por meios bem comuns. A tentação ocorre principalmente na mente, sussurrando que os prazeres proibidos são os melhores, que águas roubadas são doces. (Compare com Provérbios 7:21).
       A grande obra de Izaak Walton, The Compleat Angler (O Completo Pescador), aparentemente trata da arte de pescar; mas, na verdade, é mais uma reflexão sobre a vida. Walton observa: "Como pode algo tão pequeno atrair uma mente tão voraz?"
       A mente voraz do peixe leva-o a abocanhar uma isca minúscula pendurada na água. Da mesma forma, a mente voraz do ser humano leva-o a abocanhar "iscas", menos do que atraentes que se apresentam diante dela.
       Podemos observá-las ao longo do relato bíblico, pessoas se vendendo por coisas "tão pequenas". Esaú abriu mão de seu direito de primogenitura por um prato de cozido de lentilhas. Acã vendeu a alma por uma capa comum e uma barra de ouro. E o pior: Judas, um dos 12, vendeu seu Senhor por trinta moedas miseráveis de prata. Vez após outra a sequência se repete: a pessoa se concentra na isca proibida, se encanta e abocanha o anzol.

       Mas não José, graças a Deus! Como ele conseguiu sair ileso de uma tentação tão poderosa? Ele conhecia e amava a Deus e não faria nada – nada – que O desonrasse.
Meditações Diárias da CPB, 26.09.2012
(ver Links 1R - Meditação da MULHER)

As For Me And My House
Quanto a Mim e a Minha Casa


Eu desisto de construir meu próprio reino,
não mais buscando ídolos inúteis.
Como ovelhas, andávamos nós todos desgarrados,
devemos escolher no dia de hoje a quem iremos servir.

Coro
Quanto a mim e a minha casa serviremos ao Senhor,
serviremos ao Senhor.
Ídolos levantados, derrubem-nos, porque nós serviremos ao Senhor.

Serviremos ao Senhor, perante o Rei nos prostraremos;
quanto a mim e a minha casa só vamos servir ao Senhor.

Eu desisto da religião impotente, não mais viver no engano;
vamos atravessar o Jordão, nós vamos reivindicar o que Você prometeu.

Nós não vamos dar nossos corações a outro,
não daremos o nosso coração a outro, nós pertencemos ao Senhor.
Nós não vamos dar nossos corações a outro,
não daremos o nosso coração a outro, só vamos servir ao Senhor.



EU E A MINHA CASA, SERVIREMOS AO SENHOR - Josué 24:15

ENCONTRO NA PRAÇA PÚBLICA
       Encolhida sobre as pedras do pavimento, ofegante como um animal encurralado, meio despida, a mulher tremia. De medo, ou talvez também de frio e de vergonha. À sua roda via cerrar-se o grupo dos que a tinham arrastado até à praça do Templo. 1 Um círculo de dedos acusadores, de cotoveladas cúmplices e de risadas cruéis.
       Porque a teriam arrancado da cama e levado para ali? Porquê, esta traição repentina daqueles que se chamavam seus amigos? E porque traziam consigo pedras?
       Revolviam-se-lhe na memória, como bochechadas amargas, as recordações da sua vida estragada. O remorso das suas infidelidades. O nojo de ter-se entregado aos caprichos de quem não a amava. A raiva de se sentir usada por aqueles que diziam amá-la. A ferida aberta de tantas humilhações. O repetido fracasso das suas tentativas de fugir daquele inferno.
       Ninguém havia acreditado nas suas nostalgias de pureza. Ninguém lhe tinha dado uma oportunidade. Todos juntos haviam acabado por afundá-la naquele imenso lodaçal onde se debatia sozinha sem poder de lá sair...
       Na incerteza daquele momento, toda a sua vida se lhe representava desfilando vertiginosamente no espírito como um pesadelo. Tudo tinha começado com aquela louca rebeldia da sua juventude, quando caiu na armadilha de acreditar na viabilidade de todos os seus sonhos. Na sua ignorância, tinha sucumbido, como tantos jovens, à eterna e banal atracção do proibido. Tinha procurado na intensidade do prazer novas sensações que a libertassem da insatisfação da sua vida. Novas emoções, novos encontros que preenchessem o seu vazio interior. Nisso se iludira: ninguém, nada, nunca, lhe havia dado a felicidade desejada...

       Uma voz disfarçada de santidade ofendida acusava-a agora, quase aos gritos, para que todos ouvissem:
       - Esta mulher acaba de ser surpreendida no próprio acto de adultério. Moisés, na Lei, manda-nos apedrejá-las. Tu, que dizes a isto? 2
       As palavras feriam-na como chicotadas que a faziam estremecer.
       Apedrejada. 3 Iria terminar assim a grotesca ironia da sua vida? Tinha procurado a liberdade e apenas encontrara a escravidão. Tinha sentido a necessidade de amor e apenas conseguira sexo. Tinha querido amigos e só lhe haviam aparecido cúmplices ou verdugos. Tinha desejado, sobretudo, felicidade, e nada mais conseguira do que apressar a sua destruição. Era este o balanço do seu fracasso. Se fosse possível apagar o passado e acabar de vez com aquela vida, ou simplesmente com a vida!
       Foi então que descobriu diante de quem a acusavam. Era um jovem mestre que várias vezes ouvira falar, escondida entre a multidão. Um homem diferente de todos, que pregava o amor e o perdão. Chamavam-lhe Jesus de Nazaré. Espreitando por entre os cabelos, a mulher constatou que, no meio daquela matilha de olhos assustados, ele não a fixava. Há momentos em que a maior prova de respeito por um ser humano consiste em não olhar para ele. Por trás daqueles olhos dirigidos para o chão escondia-se, para ela, todo o respeito do mundo. Os sinais que escrevia no pó pareceram-lhe um admirável pretexto para não a fixar.
       Então, porque se mantinha em silêncio? Ter-se-ia dado conta das intenções do conluio? Porque, evidentemente, o que levava aqueles homens a processar a mulher não era o sentido da moral, nem o respeito pela Lei. A acusada era um engodo para caçar o juiz.

       O ódio dos seus adversários disfarçava-se de lisonja para atingir os seus fins e garantir uma melhor vingança. Já que o novo mestre se arvorava em advogado dos pecadores, obrigavam-no agora a pronunciar-se como juiz, para ver até onde era capaz de ir num caso como este, para eles tão delituoso como manifesto. Tratava-se, antes de tudo, de pô-lo em contradição com a Lei de Moisés, o seu irrefutável código de referência.
       Se o jovem pregador mantivesse, como era de esperar, a sua tese de compreensão e misericórdia, ser-lhes-ia fácil desmascarar publicamente o aspecto subversivo da sua posição. 4 Negando-se a apoiar o castigo regulamentar, o seu repúdio dos cânones sagrados seria tão flagrante que, com toda a facilidade, declarando-o sacrílego e ímpio, poderiam levantar contra ele não só as autoridades religiosas como também a própria opinião pública.
       Se, por alguma razão improvável, consentisse na aplicação da pena estabelecida, o resultado seria ainda pior. Colocar-se-ia em contradição evidente com os seus próprios ensinos sobre a compreensão e o perdão. Assim não só a sua pregação perderia toda a credibilidade, mas além disso seria também denunciado diante do Sinédrio e das autoridades romanas por se atrever a pronunciar uma sentença de morte sem estar legalmente autorizado a fazê-lo. 5 Os acusadores iam preparados para executar imediatamente a condenação e apanhá-lo sem escapatória possível.
       A armadilha estava bem feita. Jesus tinha de pesar bem as suas alternativas.
       Negando-se a pronunciar-se, seria acusado de cobardia ou incoerência. Se, pelo contrário, entrasse em conflito jurídico com os seus oponentes, e conseguisse contrariar-lhes as intenções, poderia fazer recair sobre eles o mesmo mal que lhe queriam fazer, denunciando-os, por sua vez, por ilegalidade. Segundo o código penal vigente, havia duas irregularidades flagrantes a seu favor. Primeira, que só o marido enganado tinha o direito de denunciar a infidelidade da sua mulher. 6 Segunda, a lei exigia que tanto a adúltera como o seu amante fossem apedrejados juntos. 7 Ambas as razões ter-lhe-iam bastado para desmascarar a venalidade e incompetência dos acusadores, colocando-os assim numa situação fortemente embaraçosa.

       Jesus, porém, preferiu renunciar a esse êxito fácil. Deslocando o assunto para outro nível, escolheu uma opção melhor: em vez de defender uma ideia, defenderia uma pessoa.
       Julgando a mulher, os fariseus colocavam-se numa posição de superioridade moral sobre ela. Mas, como não tinham autoridade para acusá-la, nem em nome da lei nem da virtude pessoal, davam oportunidade a que Jesus transferisse a questão do plano jurídico para o moral, no qual podia, com relativa facilidade, surprendê-los em falta e desconcertá-los sem necessidade de se envolver juridicamente.
       A Lei prescrevia que, num apedrejamento, as testemunhas do caso fossem as primeiras pessoas a aplicar a sentença, seguindo-se os restantes voluntários, na condição de que sobre eles não recaísse nenhuma suspeita de cumplicidade nem de terem cometido em qualquer momento o mesmo tipo de delito que se queria castigar. 8 Assim, dirigindo-se resolutamente aos mais exaltados, disse-lhes:
- O que estiver livre de faltas, atire a primeira pedra. 9
       E, tornando a baixar-se, continuou a escrever no solo.


       Um silêncio embaraçador estendeu-se a todo o grupo. A mulher, que por instantes se tinha encolhido, esperando a primeira pancada, descontraía-se agora, como resignada à sua sorte, desejando acabar quanto antes com a sua tortura. A tensão continuava a aumentar. Irritados pelo mutismo de Jesus, alguns aproximaram-se para ver o que escrevia. E o que viram foi suficiente para os obrigar a largar as pedras. Tremendo, uns de raiva e de vergonha pelo que ele tinha escrito, outros de medo pelo que ainda poderia escrever, todos se apressaram a desaparecer, deixando sós a acusada e o seu juiz.
       Deste modo inesperado, sem se opor à autoridade da Lei, sem se envolver em nenhuma polémica jurídica, com algumas simples palavras escritas na areia, Jesus conseguiu deter a maldade daqueles homens e salvar a vida de uma mulher.
       Quando finalmente se endireitou, ela fixava-o assombrada, sem saber o que esperar. Ele estendeu-lhe a mão para ajudá-la a levantar-se, e disse-lhe, quase a sorrir:
       - Onde estão os que te acusavam? Nenhum te condenou?
       Ela olhou em volta deslumbrada pela luz matinal. Vendo apenas as pedras sobre o mármore, 10 numa praça vazia, mal acreditando nos seus olhos, respondeu:
       - Nenhum, Senhor.
Então Jesus disse-lhe as palavras mais surpreendentes que ouvira em toda a sua vida:
       - Vai, e não peques mais. Eu também não te condeno. 11

       Acostumada a ser tratada pelos homens como mulher-objecto, desprezada depois de usada, e habituada à maldade e aos ciúmes das outras mulheres, o "Vai" soava-lhe como uma expressão bem familiar.
       O "Não peques mais", também o ouvira centenas de vezes e de diversas maneiras, desde as contínuas repreensões da sua família até aos furibundos sermões dos sacerdotes. Mas "Eu não te condeno", isso ninguém antes lho dissera. E também nunca alguém lhe tinha falado naquele tom.
       Pela primeira vez se encontrava diante de alguém que não a julgava, nem a cobiçava, nem a humilhava. Que se compadecia dos seus erros, compreendia a sua luta, acreditava no seu arrependimento e a ajudava a aceitar o seu perdão.
       A voz daquele homem ressoava aos seus ouvidos como música celestial. Era um bálsamo sobre as suas feridas, como um convite à esperança, uma promessa de salvação. Naquele momento, soube que começava para ela uma nova vida. Envolta no brilho de uma praça resplandecente de brancura, sentia-se liberta, pura, em paz com Deus. Finalmente, feliz.
       A mulher afastou-se lentamente, sabendo que pouco tempo depois voltaria, e que nunca mais poderia separar-se de quem lhe havia devolvido, naquele singular encontro, a sua dignidade e a sua honra.
       Assim, sabendo que todo o ser humano precisa de mais amor do que aquele que merece, pelo simples método da compreensão e do respeito absoluto, Jesus descobria tesouros ocultos em corações, alguns tão desamparados como os nossos.

NOTAS DO AUTOR
1. O Templo de Jerusalém começou a ser reconstruído por Herodes, o Grande, no ano 19 a. C. (Antiguidades 15:2, 1) e as obras não terminaram completamente antes dos anos 62-64 d.C. com o procurador Albino; ou seja, pouco antes de ser destruído pelos Romanos. Consistia no Santuário propriamente dito e num conjunto de edifícios construídos em vários níveis e ocupando um espaço com cerca de 1500 metros de perímetro. A cena de que nos ocupamos tem lugar no recinto de acesso livre chamado "átrio dos gentios", enorme esplanada que servia de praça pública e de ponto de encontro em Jerusalém. Judeus e pagãos iam ali tratar dos seus assuntos como se fossem ao forum. Era rodeado de pórticos sob os quais as pessoas passeavam e os doutores da Lei, rodeados pelos seus discípulos, ensinavam ou discutiam entre si (Mateus 26:55). Era também ali que se vendiam os animais para os sacrifícios (Marcos 11:15) e se trocavam as moedas para as ofertas, uma vez que no Templo só se aceitava a sua própria moeda. (Riccciotti, Vida de Jesus Cristo, págs 62-64).
2. João 8:4, 5. Como o estipula, entre outras passagens, Levítico 20:10.
3. Entre os delitos punidos com lapidação, contavam-se a blasfémia e o adultério (Cf. Levítico 24:14; Deuteronómio 17:2-5; II Crónicas 24:20-22; Sanhédrin VII:1,4).
4. A pregação do amor acima das exigências da Lei foi sem dúvida o elemento mais perturbador da mensagem de Jesus (Cf. Mateus 5:38-48). Sobretudo apresentado como uma superação das exigências da Torah.
5. "Os Romanos reconheciam oficialmente ao Sinédrio o poder de instruir processos e pronunciar sentenças segundo a lei judaica. No entanto, no caso de condenação à morte, o sinédrio era obrigado a obter a ratificação da autoridade romana". (Cf. X. –L. Dufour, Dictionnaire, pág. 44). "O grande sinédrio reúne-se no Templo, duas vezes por semana, pode condenar à morte, mas, no tempo de Cristo, não pode executar a sentença. É o tribunal supremo religioso que fixa a doutrina, estabelece o calendário litúrgico, regula a vida religiosa". (Etienne Charpentier, Pour lire le N.T, Paris: Cerf, 1981, pág.30).
6. O texto não diz que o delator tenha sido o marido mas um grupo de escribas e de fariseus (João 8:3). No tempo de Jesus, o mais corrente, no caso de infidelidade, não era a lapidação mas o repúdio (Kethubim III S; Deuteronómio 22: 19, 29).
7. A imparcialidade do castigo que não fazia distinção entre o homem e a mulher no adultério era muito clara na legislação bíblica (Cf. Deuteronómio 22:22-24; Levítico 22:10). No caso em questão, o cúmplice desapareceu como no caso da casta Susana (Cf. Daniel 13:39).
8. Cf. Deuteronómio 17:7. Esta prioridade dada às testemunhas foi mesmo reforçada no direito consuetudinário (Cf. Talmud de Babylone, Sotah 47 b).
9. João 8:7.
10. A lapidação só podia ser executada fora da cidade (Levítico 24:14; II Crónicas 24:20-22: Mateus 21:35). O átrio dos gentios, pelo pórtico oriental (dito "de Salomão", João 10:23; Actos 3:11; 5:12) dá directamente para o ribeiro de Cedron. A cidade termina nesse lugar e ainda hoje, junto do muro do Templo, há apenas um cemitério. Se considerarmos que o Templo estava em construção nessa altura (havia quase 46 anos segundo João 2:20), as pedras podiam ser encontradas ali mesmo, entre os materiais de construção utilizados para os trabalhos em curso.
11. No Novo Testamento utilizam-se diferentes termos gregos que as nossas Bíblias traduzem por "pecado". Os mais frequentes são: adikia (22 vezes): "iniquidade", que tem o sentido jurídico de falta cometida contra a justiça; parabasis (14 vezes): que significa "transgressão" e se refere normalmente à violação das leis divinas; mas na maioria dos casos (296 vezes) o termo utilizado é hamartia. Esta palavra (utilizada em João 8:11) vem do verbo hamartano e significa "errar o alvo", "enganar-se", "cometer um erro". Segundo o pensamento hebraico, o pecado (het ou ´avon) dizia particularmente respeito à relação do homem com Deus. O pecado é, antes de tudo, "ser infiel à aliança, trair o amor ou separar-se da comunidade". (X.-L. Dufour, Dictionnaire, pág. 332).


Roberto Badenas, excelente Professor de Teologia, in Encontros - (Texto baseado em S. João 8:1-11)


«Aos Olhos de Deus, Você é Especial»

«Ser Mulher: a Mais Elevada Posição de Honra»

«Respeite-se a Si Mesma Para Poder Ser Respeitada e Valorizada»


(Pode ler mais em Leituras para a Vida, 17.10.12, 1R)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

DIA  MUNDIAL  DO  PROFESSOR


DIA MUNDIAL DO PROFESSOR



"Os Professores Contam!" É com esta afirmação que a Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (UNESCO) relembra que os professores e educadores trabalham diariamente com os seus alunos, com os pais e restante comunidade, na construção de um mundo melhor para todos. Os professores são mais de 60 milhões em todo o mundo. A UNESCO reconhece que se trata de um grupo profissional fundamental, sem o qual "não pode haver nem desenvolvimento durável, nem coesão social, nem paz".
O Dia Mundial do Professor é celebrado a 5 de Outubro, desde 1993. Nesse ano, em Genebra, na Suíça, Federico Mayor, alto responsável da UNESCO, decidiu associar esta comemoração à mesma data em que, em 1966, uma conferência intergovernamental, organizada conjuntamente pela UNESCO e pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), aprovou uma "Recomendação" respeitante ao estatuto dos professores.
Para que os objectivos educacionais possam ser alcançados, é necessário um saudável ambiente de trabalho, com adequados recursos pedagógicos na sala de aula. A construção de uma Escola melhor é vital para o desenvolvimento da sociedade onde professores, alunos, pais e toda a comunidade educativa (a escola como um todo; autarcas, empresas, rede social) têm de desempenhar com confiança e sucesso a sua missão. Neste sentido, entende-se que deve haver uma dignificação e valorização pública dos professores e da sua missão, a fim de manter o necessário clima de confiança, essencial para o êxito do processo educativo.
Madre Teresa de Calcutá resumiu em prosa poética a missão do professor:
Ensinarás a voar... mas não voarão o teu voo.
Ensinarás a sonhar... mas não sonharão o teu sonho.
Ensinarás a viver... mas não viverão a tua vida.
Ensinarás a cantar... mas não cantarão a tua canção.
Ensinarás a pensar... mas não pensarão como tu.
Porém, saberás que cada vez que voem, sonhem, vivam,
cantem e pensem...
Estará a semente do caminho ensinado e aprendido.


Neste Dia Mundial do Professor, não pode ser esquecido o Modelo por excelência - O Mestre dos mestres, JESUS - que viveu de forma perfeita tudo aquilo que perfeitamente ensinou.



Ezequiel Quintino e Natividade Lopes Quintino in Pensar Faz Bem; ele Teólogo e Jornalista, ela Professora e Educadora (ouça-os na Rádio Clube de Sintra).

O MENINO QUE CONSERTOU O MUNDO

Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a encontrar meios de minorá-los. Passava dias no seu laboratório em busca de resposta para as suas dúvidas. Certo dia o seu filho de 7 anos invadiu o seu 'santuário' decidido a ajudá-lo a trabalhar. Vendo que seria impossível demovê-lo, o pai procurou algo que pudesse distrair-lhe a atenção. Até que se deparou com o mapa do mundo. Com o auxílio de uma tesoura, recortou-o em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo:
- Vou-te dar o mundo para concertares. Vê se consegues. Faz tudo sozinho.
Pensou que, assim, se estava livrando do garoto, pois ele não conhecia a geografia do planeta e certamente levaria dias para montar o quebra-cabeças. Uma hora depois, porém, ouviu a voz do filho:
- Pai, pai, já fiz tudo. Consegui terminar tudinho!
Para surpresa do pai, o mapa estava completo. Todos os pedaços tinham sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como é que o menino tinha sido capaz?
Tu não sabias como era o mundo, meu filho, como conseguiste?
- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando o pai tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando tu me deste o mundo para concertar, eu tentei mas não consegui. Foi então que me lembrei do homem. Virei os recortes, e comecei a concertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui concertar o homem, virei a folha e descobri que tinha concertado o mundo!

Autor Desconhecido

A Professora do 10º C, da Escola Secundária dos Anjos, Lisboa, arriscou... pediu uma composição de tema livre. A Aluna (fotos) não se fez rogada. "A boca fala do que o coração está cheio".

             SONHO
       Estava uma noite de luar linda. A lua redonda como uma lâmpada e milhões de estrelas como que se curvando perante ela. Estava realmente uma noite magnífica. Nem frio, nem calor.
Repentinamente, enquanto me deliciava com esta paz e beleza, um clarão enorme invadiu todo o céu. Era tão forte e intenso que feriam-se-me os olhos ao olhar para lá. E como se já não bastasse, um hino tocado por milhares de trombetas completava o ambiente. O intenso clarão só durou alguns segundos, depois pude olhar para o céu e constatar que realmente era verdade o que eu já pensava. Era Jesus, Deus!!
       Deus e os Seus anjos vinham buscar-me. Oh! Fiquei tão emocionada que nem reparei nos meus pais atrás de mim.
Há quanto tempo eu ansiava por este momento! O momento da glória e da verdade!...
       Deus! Um ser majestoso!...
       Sentado num trono de ouro salpicado por pedras preciosas, sobre a nuvem mais pura, límpida e branca que jamais vi.
       Ao seu redor, o céu era todo preenchido com seres de asas, chamados anjos. E cada qual com uma trombeta de prata.
       No seu conjunto era o quadro mais lindo que alguém pode ter visto. Muitos pintores hábeis e talentosos tentariam pintar este momento numa tela de pano. Mas nenhum deles conseguiria pintá-lo com tanta glória!

       Deram-me a mão, era a minha mãe. Olhei ao meu redor, e que vi?...
       As sepulturas abertas e todos os justos de coração, de mãos dadas chorando de alegria, como eu. Os outros, os injustos, esses não olhavam, não podiam ver tanta glória! Gritavam e clamavam às montanhas para lhes cair em cima e os ocultar da face do Todo Poderoso.
Um anjo poisou ao meu lado, com umas asas enormes, vestes brancas e com um grande sorriso. Dei-lhe a mão e começámos a subir... subir... subir...
       Mas que aconteceu?! Oh, simplesmente acordei! Era um sonho.
       Ó Senhor, porquê que eu acordei?!
       Eu queria continuar a viver, embora de olhos fechados, este momento tão maravilhoso e pelo qual tanto anseio.
       Foi um sonho muito lindo, mas acabou! Caí na realidade.

Senhor, só Te peço que nos
venhas buscar depressa!
Obrigada pela noite de repouso
que nos deste.
Guarda-nos e ajuda-nos
neste dia que começou.
É tudo quanto Te agradeço
e peço em nome do Teu
Filho amado Jesus.
Ámen!!
Sandra Daniela Esteves, nº 16 - 10º C

O Segredo Especial
da Doce e Corajosa Menina, que desde pequenina queria ser
"A Melhor Professora De Francês Do Mundo". Acredito que é!


A Professora com os seus Mais Importantes Alunos - os Filhos



Cântico Preferido da Aluna que fez um Mestrado e um Doutoramento
em Língua e Literatura Francesa

ultrapassando inúmeras dificuldades e construindo uma vitória
que lhe deu satisfação e honrou a Deus.

Ó QUE ESPERANÇA! Jesus Vem. E Brevemente!