sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sobre o Sofrimento... E Sobre a Alma...



O PROBLEMA DO SOFRIMENTO

É inegável que, como nos ensina a experiência e a observação quotidiana da vida, o sofrimento atinge todos os filhos de Adão, quer sejam bons quer maus.
Em presença desta realidade, nada mais natural do que a pergunta: De onde vem o sofrimento? Quem é o seu causador: Deus, Satánas, os outros, nós mesmos?
A resposta não é simples, dada a multiplicidade de fatores intervenientes.

É evidente que muitos dos nossos sofrimentos são causados por nós próprios, pela nossa maneira incorreta de viver. Nesta categoria entram as doenças resultantes de uma alimentação irracional, do uso de bebidas alcoólicas, da dependência em relação às drogas, da imoralidade sexual, do excesso de trabalho e da falta de repouso, de pensamentos, atos e hábitos errados... e a lista podia ser estendida quase sem limite.
Mas nem todos os sofrimentos são consequência dos nossos próprios erros. Por vezes, é o próximo que nos faz sofrer. Que o digam as inumeras vítimas de guerras, roubos, agressões e violações, de intolerância política, social e religiosa... e, também nesta categoria de causas, a lista seria interminável.
Examinando, porém, mais de perto, as causas do sofrimento, constatamos que nem todas elas radicam em nós ou no nosso próximo. Alguns tipos de sofrimento podem ter, próxima ou remotamente, uma origem sobrenatural. E é aqui que se torna necessário o recurso à Bíblia Sagrada, documento fidedigno de revelação divina.

Na Bíblia somos informados acerca de um poderoso ser, Satanás, que se rebelou contra Deus e que usurpou ao homem o domínio deste Planeta. Na expressão de Jesus, ele tornou-se, por usurpação, o "príncipe deste mundo" (João 12:31; 14:30; 16:11). O apóstolo Paulo designa-o como sendo "o deus deste século" (II Coríntios 4:4). No dizer do apóstolo João, "todo o mundo está no maligno" (I João 5:19). Não admira, pois, que grande parte do sofrimento humano seja causado por Satanás e seja consequência do seu governo abusivo em contravenção das normas perfeitas do governo e da lei de Deus.
Na Sagrada Escritura há um livro que se ocupa precisamente do problema do sofrimento - o livro de Job. Nos capítulos 1 e 2, vemos este homem justo atingido pelas maiores calamidades, causadas por Satanás, mas permitidas por Deus em resposta à acusação satânica de que Job servia o Senhor por interesse egoísta. A fé de Job não foi, porém, dececionada. Ele permaneceu fiel no meio de todas as aflições. E o livro termina com a afirmação de que, provada a falsidade da acusação de Satanás, "abençoou o Senhor o último estado de Job, mais do que o primeiro" (Job 42:12).
Satanás encontra-se ainda na origem de muitos sofrimentos por ele causados contra os que lhe são arrebatados e passam a reconhecer a soberania de Deus e a aceitar Jesus como seu Redentor e Salvador. "Se o mundo vos aborrece", disse o divino Mestre, "sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome; porque não conhecem Aquele que me enviou" (João 15:18-21). E, no livro de Apocalipse, somos advertidos: "O diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo" (Apocalipse 12:12).
Mas não Se encontrará o próprio Deus na origem de alguns dos nossos sofrimentos? Talvez dois textos lancem um pouco de luz sobre este problema. Quando, perante um cego de nascença, os discípulos perguntaram ao Mestre: "Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?", Jesus respondeu: "Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus" (João 9:1-3). O segundo texto refere-se à experiência do apóstolo Paulo, que havia sido objeto de tão maravilhosas manifestações da graça divina: "E, para que não me exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar" (II Coríntios 12:7).

Vemos, pois, que o sofrimento pode ser causado por nós mesmos e pelo nosso próximo, acima de tudo por Satanás, e que, seja qual for a sua causa, Deus pode utilizá-lo para o nosso bem. Como escreveu o apóstolo Paulo, "sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus" (Romanos 8:29).
É verdade que todos passamos pelo sofrimento, mas há uma diferença básica na maneira de o enfrentar: aquele que não é crente sofre e é vencido pelo sofrimento; aquele que é crente sofre e vence o sofrimento.

Ernesto Ferreira, Professor de Teologia e Pastor, Redactor, Editor e Presidente da Igreja Adventista do 7º Dia, in Revista Sinais dos Tempos, 3º Trimestre de 2012, Editorial.


A VERDADE CRISTÃ
"Uma crescente percentagem da população atual sofre de um autêntico vazio existencial, ignorando as raízes do seu passado, profunda razão de ser da sua vida presente e que perspetivas lhe reserva o seu futuro.
A tentativa de preenchimento neste vazio está representada na ampla variedade de religiões e diferenciados segmentos que têm surgido ao longo dos séculos. Tal variedade é uma prova evidente de que a solução definitiva transcende as tentativas de origem puramente humana.
É neste contexto que surge a figura de Jesus Cristo e da Verdade Cristã como solução divina para a tragédia humana. Daí a razão de ser de A Verdade Cristã à Luz da Razão, da Revelação Divina e da Tradição." Texto da contra-capa.

Este livro acima apresentado, com 288 páginas, foi escrito por Ernesto Ferreira, que diz no seu Preâmbulo: "...tenho presentemente noventa e oito anos anos de idade, com a capacidade de visão extremamente diminuída, e confinado a um lar para pessoas idosas". Impressionante! Que força de vontade! Um homem de grande sabedoria e profundos conhecimentos mas muito simples e muito humano. Sempre atento e disponível para as solicitações que lhe são feitas, seja por quem for.

(Procure adquirir o livro A Verdade Cristã na Publicadora Servir, Links 3I. Recomendo-o vivamente!)

Para além deste livro recente, escreveu outras obras importantes: O Senhor Vem; Edificados sobre a Rocha; Profecias Cronológicas na História da Salvação; A Alegria da Salvação e Arautos de Boas Novas.

O livro Arautos de Boas Novas com 790 páginas foi escrito também há poucos anos, 2009, e lemos na Nota dos Editores na pág. 12:
"A presente obra é editada pala União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia.
Ela é o resultado de anos de pesquisa profunda e redacção cuidada. Não teria sido possível sem a dedicação, o papel e a importância do seu autor na Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Foi o seu conhecimento sobre o percurso da Igreja, enriquecido pela sua experiência como interveniente, que permitiu a perspectiva histórica aqui relatada.
Ao Pastor Ernesto Ferreira, o nosso reconhecimento por esta obra e a nossa gratidão por uma vida de serviço. UPASD".



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       A maior parte das religiões aceita que o ser humano tem uma alma imortal. O que dirá a Bíblia, fundamento da crença cristã, relativamente a esta ideia?

       Os antigos egípcios acreditavam que, depois da morte, o coração das pessoas era colocado num dos pratos de uma balança e pesado em relação a uma pena - a Pena de Ma'at. Só as pessoas cujo coração estivesse livre de culpa, ou seja, que fosse mais leve do que a pena, seriam agraciadas com a entrada na vida além da morte.
       Talvez esta lenda antiga tenha influenciado o Dr. Duncan MacDougall. Em 1907, este médico de Harville, Massachussets, conduziu uma série de experiências para determinar com exatidão o peso de uma alma. Quando considerava que a morte de um paciente estava iminente, colocava a cama do paciente numa balança industrial de precisão, com a qual se conseguia pesar cada grama.
Comparando o peso de seis pacientes imediatamente antes e após a morte, determinou que cada um tinha perdido 21 gramas. Como acreditava que a alma abandonava o corpo no momento da morte, concluiu que a alma deveria pesar... 21 gramas.
       É fácil compreender a razão pela qual tanta gente tem partilhado esta perspetiva sobre a alma há tanto tempo. A maioria de nós só vê pessoas em cadáver em funerais. E, nos funerais, ouvimos frequentemente as pessoas dizerem: "Ele (ou ela) parece ter um ar tão natural." Mas, como é óbvio, só o dizemos para conforto dos que perderam alguém querido, porque, de facto qualquer pessoa que já tenha visto um cadáver sabe que é tudo menos natural. Falta-lhe alguma coisa, seja ela a alma ou qualquer outra.

       Ao analisar a composição de um ser humano, podemos catalogar cerca de uma dúzia de órgãos, duzentos ossos, seiscentos músculos, e inumeráveis nervos e vasos sanguíneos, todos organizados em 'sistemas', como o circulatório, o respiratório, e outros. Mas isso só enumera os diferentes componentes do corpo e as suas funções. Mesmo que todos os ossos e músculos estejam presentes num cadáver, a pessoa não se encontra nele.
       Sabemos, mesmo que intuitivamente, que cada um de nós é mais do que uma coleção de músculos e ossos, órgãos e enzimas, memórias e capacidades. Esse 'mais' é aquilo que normalmente pensamos ser a 'alma'.

       Desde há milhares de anos, pessoas de diferentes tradições religiosas olharam para a alma como uma entidade separada e consciente, que habita o corpo. Muitas dessas tradições veem a alma como imaterial, isto é, algo que não consiste em matéria, pelo que não tem massa nem peso - nem mesmo 21 gramas. Estas tradições veem o corpo como transitório, enquanto a alma é eterna, imortal. Talvez isso aconteça porque, quando uma pessoa morre, o feio processo de decomposição que toma conta de um corpo nos repugna, enquanto as carinhosas memórias da pessoa defunta nos fazem desejar que continue a viver.
       Psicologicamente, é apelativo fazer a distinção entre uma alma ou um espírito transcendente e um corpo material e temporal. As diferentes culturas expressaram esta perspetiva de diferentes maneiras. Hindus, Budistas e outras culturas orientais desvalorizam a parte física da natureza humana, talvez porque o corpo seja uma fonte de sofrimento. Para os crentes destas religiões, o propósito de viver uma boa vida é escapar ao corpo e ao sofrimento físico.
       Embora existam diferenças quanto às perspetivas das religiões orientais e do Cristianismo sobre a alma, a maioria dos cristãos adota o seu conceito básico. Olham para a alma como uma entidade imaterial, que habita o corpo durante a sua vida e que, no momento da morte, o abandona, para continuar uma existência num outro lugar - nomeadamente entendido como sendo o Céu ou o inferno.

       A Bíblia, tanto o Antigo como o Novo Testamento, oferece uma alternativa radical para esta suposta natureza dual, entre corpo e alma. A perspetiva bíblica começa com a história da Criação, no livro de Génesis: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente" (Génesis 2:7).
Examinemos em detalhe o conteúdo deste texto.

DEUS FORMOU O HOMEM DO PÓ DA TERRA

       O livro de Génesis apresenta Deus pessoalmente envolvido em 'formar' os primeiros seres humanos, como um escultor a produzir uma obra de arte. Para a Sua escultura, Deus utilizou o mais elementar de todos os elementos - a terra, o pó e a lama do próprio solo.
Ao chamar Adão, que significa 'vermelho', ao primeiro ser humano, Deus tornou clara a ligação entre a vida e a matéria, a terra física. No Velho Testamento, o nome de uma pessoa descrevia o seu caráter. Então, ao dar o nome de 'vermelho', a cor do barro, ao primeiro ser humano que criou, Deus literalmente ligou a humanidade à terra, como alguém que vem da terra.

       Ainda mais surpreendente é o facto de o relato de Génesis apresentar Deus a usar as próprias mãos para moldar o ser humano a partir do barro. Em Génesis 1:26, 27, descobrimos que este primeiro ser humano era, num dado sentido, o autorretrato de Deus, pois as Escrituras apresentam-no como tendo sido feito "à Sua imagem". É fantástico pensar que o Criador de todas as coisas tenha dignado a Sua escultura bárrea com o privilégio de lhe emprestar a Sua imagem. Mas seguem-se outras maravilhas.

DEUS SOPROU EM SEUS NARIZES O FÔLEGO DA VIDA

       Quando um socorrista aplica a técnica da respiração artificial, 'respirando' por uma vítima de um acidente, diz-se com frequência que está a dar-lhe 'o beijo da vida'. Qualquer pessoa que tenha estudado Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), e principalmente alguém que já a tenha aplicado, reconhecerá a razão de ser desta expressão. É este preciso ato, este contacto íntimo, que Génesis sugere. Deus criou-nos à Sua semelhança - que honra espantosa! - e, então, a Fonte de toda a vida soprou essa vida na Sua obra de arte.

       Somente nesse momento, diz-nos o texto, o homem se tornou num ser vivente, ou, como algumas tradições indicam, numa alma vivente. Assim, a Bíblia não descreve a alma como distinta ou separada do corpo. Pelo contrário, pelo relato de Génesis, a Bíblia celebra a união do físico com o espiritual, olhando para o ser humano holística, plena e completamente, e não como uma reunião de diversas partes. A narrativa da Criação apresenta esta combinação, não como um juntar forçado de componentes hostis, mas como uma união feliz entre elementos complementares. Em Génesis, o corpo e a alma são um. Deus não deu a Adão uma alma. Ele deu vida a Adão e ele tornou-se numa alma, numa alma vivente.

UM EXEMPLO

       Estou a escrever este artigo num instrumento a que chamamos computador. Um computador que funcione consiste em três componentes. Em primeiro lugar está o hardware, o equipamento físico - o próprio computador, o monitor e o teclado. Depois, temos o software - uma série de instruções que são instaladas no computador, para que ele possa cumprir as suas funções. Finalmente, precisamos de eletricidade. Se subtraírmos um destes três componentes, o computador 'morre', torna-se inoperacional, deixa de existir para o seu propósito. É como se nunca tivesse sido um computador.
       O mesmo acontece connosco, seres humanos. O nosso corpo físico é como o nosso 'hardware'. O nosso cérebro é preenchido com o 'software' - instintos, memórias, sentimentos e conhecimentos, que nos tornam quem somos. Finalmente, Deus dá-nos vida, a 'corrente elétrica', se assim colocarmos o termo. Se for removido algum destes componentes, deixamos de funcionar, deixamos de existir.

       Sem eletricidade, a memória, as instruções e os dados do computador desaparecem. Da mesma forma, quando o corpo morre, o nosso cérebro pára de funcionar. As memórias, o conhecimento e a informação que nos fazem quem somos, desaparecem. Não existe uma alma consciente e autónoma, do mesmo modo que um computador não tem uma existência 'inteligente' para além da eletricidade que lhe dá energia.
       A Bíblia afirma a visão de que a consciência termina com a morte. Ela declara: "Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem, tão-pouco, eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol" (Eclesiastes 9:5 e 6).

       Para aqueles que se estão a interrogar sobre os 21 gramas das conclusões do Dr. MacDougall e do peso da Pena de Ma'at, aqui fica uma reflexão. Os hieróglifos egípcios apresentavam sempre Ma'at com uma pena de avestruz na mão - a qual, dizem-nos os ornitólogos, pesa pouco mais de seis gramas. Por outras palavras, por curiosidade, os 21 gramas da 'alma' de MacDougall pesariam cerca de 3,5 vezes o peso da pena de Ma'at. O que significa que impossibilitaria que qualquer alma entrasse na vida após a morte!

       Mas não temos de preocupar-nos.
       Deus não olha para nós como registos imateriais de boas e más ações, nem nos menospreza pelo facto de sermos seres corpóreos. Ele idealizou-nos dessa forma. De facto, no seu evangelho, João diz-nos que "a Palavra Se fez carne", que o próprio Filho de Deus Se tornou miraculosamente num ser material e físico, para demonstrar o amor de Deus por nós.
A Bíblia afirma repetidamente o privilégio de se ser uma alma vivente, uma pessoa. Pois, ser-se humano, uma alma vivente, é ser-se objeto do amor de Deus, recebendo a oportunidade de usufruir de uma relação íntima com Aquele que nos criou.


Texto de Ed Dickerson e imagem acima retirados da Revista já mencionada.


(Leia mais em Leituras para a Vida, 02.12.2012, Links 1R)