sexta-feira, 1 de junho de 2018


A Menina QUE Gostava DE Contradizer

       Havia uma menina que gostava muito de contradizer os outros. Acho que vocês já devem ter conhecido muitas crianças assim. A gente pode reconhecê-las pela frequência com que dizem: "Não é assim."
       Em geral, elas usam outras frases como: "Não acredito que seja verdade!"; "É mentira!" Vamos ver, por exemplo, com o irmãozinho, que chega do quintal transbordante de alegria, porque acaba de fazer um bonito castelo de areia.
       - Que feio! - diz, quando lhe teria sido tão fácil dizer: - Que bem feito está o castelo, que bonito!
       Ou quando o outro irmão chega da escola, mostrando um mapa desenhado por ele.
       - Olha! - fala com orgulho infantil - não está bonito?
       - Não! - replica ela. - Horrível. Qualquer criança desajeitada faz um igual.
       E daí começa uma briga entre eles, que demora a acalmar.
       E assim vai a nossa menina que gosta de contradizer. Até com o papá e a mamã ela faz assim.
       Se a sua mãe diz à hora da refeição:
       - Ei, crianças, vocês viram que as nossas galinhas estão pondo novamente? Ontem puseram quatro ovos.
       - Não é verdade! - interrompe a menina.
       É feita uma repreensão para que ela não contradiga, mas parece que as repreensões não fazem nenhum efeito.
       Quando o papá começa a falar:
       - Sabem o que vi esta manhã? Um anãozinho de apenas um metro de altura.
       - Não acredito! - exclama a habitual interruptora.
       O pai ordena que ela se retire da sala, mas ao voltar, traz o mesmo espírito de contradição.
       O pior, porém, é que contradiz os pais na presença de visitas, quando é difícil castigá-la. Certa noite, viera tomar chá em sua casa uma senhora, e a mamã esperava que todas as crianças apresentassem um bom comportamento. Estava tudo bem. Porém, quando a mamã começou a contar à visita o que o bebé fizera no jardim, poucos dias atrás, parece que a nossa heroína se esqueceu por completo de que havia uma visita em casa.
       - Queria que a Senhora visse, cavou um buraco com o garfo - dizia a mãe.
       - Mentira!
       A mãe franziu a testa. Depois continuou.
       - Tinha quase meio metro de profundidade.
       - Não, era um buraco pequeno!
       A mãe torna a fazer cara feia, mas faz um esforço e continua:
       - Ainda ali está.
       - Não está!
       - Olha! - disse a mãe à menina - Se tu continuares a interromper-me dessa maneira, a tua nova professora vai fazer um mau conceito de ti.
       - Quem será a minha nova professora? - perguntou a menina com ansiedade.
       - Esta Senhora - disse a mãe. - Do ano que vem em diante, ela vai lecionar na escola.
       - Ah! - murmurou envergonhada a pequena, e saiu correndo da sala.
       A mãe disfarçou, e continuou falando com calma sobre o buraco cavado pelo bebé no jardim. Quando acabaram de tomar o chá e a boa senhora se foi embora, ela dirigiu-se para o quarto da menina que, encostada na cama, chorava sozinha. Sabia que se portara mal, muito mal, e calculava o que a estava aguardando. O que realmente lhe doía era que a sua professora tivesse desde o princípio um mau conceito sobre ela, como uma menina mal-educada e grosseira.
       - Quantas vezes já te disse para não ficares contradizendo tudo o que os outros falam? - perguntou-lhe a mãe, indo direta ao assunto.
       - Nem me lembro - disse a menina em soluços. - Talvez muitas e muitas vezes.
       - Não achas que mereces uma surra?
       - Sim, mamã. E as lágrimas redobraram.
       - Bem, desta vez vou perdoar, mas digo-te uma coisa:
       - Sim, mamã - disse, ainda soluçando um pouco.
       - Quando tu me contradizes na presença de visitas, sabes o que faz com que as pessoas pensem de mim?
       - Não senhora.
       - Pois está bem claro! Julgam que estou mentindo. Contra a minha palavra, têm a tua, e talvez imaginem que estou enganada. Tu queres que as pessoas saiam daqui pensando que a tua mãe é uma mentirosa?
       - Ah, isso não, mamã, eu não quero isso - disse a menina.
       - Pois é assim mesmo. E havendo ou não visitas aqui, tu nunca deves contradizer a ninguém, a não ser nos melhores termos possíveis, e ainda assim deixando sempre a possibilidade de que a outra pessoa tenha razão. E afinal, não é ilógico que uma menina como tu, da tua idade, queira saber mais do que todo o mundo, jovens ou velhos?
       - É sim, mamã!
       - Ainda vais continuar agindo assim?
       - Não mamã; nunca mais farei isso.
       E realmente ela cumpriu a sua promessa.


Artur S. Maxwell in As Melhores Histórias do Nosso Amiguinho Vol.2, Casa Publicadora Brasileira


Ahhhhhhh! Que grande partida fizeram ao Príncipe!!!... Muito engraçado!...

quarta-feira, 9 de maio de 2018


AMADO  INIMIGO

       Decidi estudar Teologia em 1948, ano em que os comunistas tomaram a Tchecoslováquia. Três anos depois, enquanto me preparava para prestar os exames finais no Seminário da Universidade Charles, em Praga, os comunistas proibiram todas as atividades da Igreja Adventista no nosso país. Confiscaram todas as propriedades da igreja e me vi forçado a abandonar os estudos.
       Passei os dois anos seguintes trabalhando num acampamento militar e outros dois no exército, como civil. Quatro anos depois, a igreja conseguiu permissão para retomar as suas atividades, ainda que de maneira limitada, e desde então pude trabalhar como Pastor. A partir de 1968, quando começou a chamada "Primavera de Praga", promovida por Alexandre Dubchek, trabalhei como editor da revista Sinais dos Tempos em língua tcheca durante dez anos.
       Em março de 1978, fui chamado pela polícia estatal (o equivalente tcheco da KGB) para pedir-me que colaborasse fornecendo informação sobre os visitantes estrangeiros, a vida dos crentes, atividades da igreja, etc. Quando me neguei, submeteram-me a uma série de interrogatórios, que duraram várias horas. No final, proibiram-me de trabalhar como editor.
       Durante seis meses, não consegui trabalho em parte alguma, pois ninguém me empregava por ordem da polícia estatal. Finalmente, em fevereiro de 1979, comecei a trabalhar como técnico num hospital.
       O diretor médico do hospital, um reconhecido urologista, não era comunista e conseguiu-me um trabalho melhor. Um ano depois, fui nomeado administrador da instituição, e minha esposa foi admitida como recepcionista.

Uns dias antes do Natal, informaram-me de que um alto oficial do Estado ia dar entrada no hospital. No dia seguinte, minha esposa contou-me que, enquanto anotava os dados desse paciente, ele lhe pedira um favor que a deixou muito surpresa. Disse que tinha com ele uma grande quantidade de dinheiro vivo e pediu à minha esposa que o depositasse no banco. Ela fez o que o homem pediu.
Poucos dias depois, fui visitá-lo para ver se estava tudo bem. Mencionou que teria de passar o Natal no hospital e queria saber se tínhamos planos de servir sopa de peixe na ceia do dia 24, segundo a tradição tcheca. Quando lhe expliquei que não seria possível, pois não haveria quantidade suficiente para todos os pacientes, disse com tristeza:
- Será meu primeiro Natal sem peixe.
À noite, comentei o assunto com minha esposa e decidimos preparar-lhe a sopa, peixe frito e uma salada de batatas para sua ceia. Assim, na tarde de 24 de dezembro, entrámos no seu quarto levando uma pequena mesa com sua comida predileta e umas bolachas. O homem ficou surpreso e profundamente comovido.
Dias depois, passei novamente pelo quarto do oficial antes de ir para casa. Ele convidou-me para me sentar na beira da sua cama, dizendo que me queria fazer uma pergunta:
- Porque fez tudo isso por mim?
- É que vi sua tristeza quando me disse que seria o seu primeiro Natal sem peixe - respondi.
- Quanto tempo o senhor está aqui como diretor da clínica?
- Uns seis meses. Antes trabalhei como assistente.
- E antes disso?
- Fui editor de uma revista.
- Que tipo de revista?
- Certamente o senhor não conhece - afirmei. - É uma revista religiosa.
- Como se chamava a revista? - insistiu.
Quando eu disse o nome, Sinais dos Tempos, ele olhou-me com espanto.
- E como o senhor se chama?
- Drejnar.
- O senhor é Drejnar? O senhor foi pastor em Plezen e depois trabalhou em Ostrava. Como está agora aqui?
Agora era eu o assustado. Antes de responder à sua pergunta, indaguei:
- Como o senhor me conhece e sabe onde eu trabalhei?
- Desde jovem, sou um comunista fervoroso - disse. - Quando subimos ao poder em 1948, decidi que lutaria, em nome do Partido, contra todas as igrejas. Cheguei a ser chefe do departamento encarregado dessa luta pelo Estado. Tomámos a decisão de fechar gradualmente as igrejas para erradicar por completo o cristianismo. A primeira igreja que escolhemos foi a sua, a Igreja Adventista.
- Para conseguir nosso objectivo - prosseguiu - era necessário conhecer bem a vida de seus membros. Por isso, consegui um exemplar da Bíblia e um hinário adventista. Naquela época, eu vivia no sul do país, onde ninguém me conhecia. Comecei a assistir aos cultos em diferentes lugares. Em cada igreja sempre me davam calorosas boas-vindas. Fui convidado a visitar várias famílias e chegámos a ser bons amigos. Conheci muita gente. Compreendi que realmente eram pessoas boas e que sofreriam muito se destruíssemos a sua igreja. Mas pareceu-me que não havia outra alternativa; a religião era considerada um impedimento para o progresso e deveria ser eliminada.
- Porém, quando proibimos as atividades de todas as igrejas em 1952, descobrimos que havíamos cometido um grave erro, pois assim não poderíamos mantê-las tão facilmente sob vigilância. Em um povoado onde antes havia só uma grande igreja, passou a haver 10, 15 ou 20 pequenos grupos, que se reuniam secretamente em diferentes lares. Foi impossível controlá-los. Por isso, voltámos a autorizar as atividades eclesiásticas quatro anos mais tarde, quando cheguei à chefia do departamento de administração da polícia secreta que vigiava a sua igreja.
- Trabalhei ali durante muito tempo, até uns dois anos atrás, quando fui transferido para outro cargo.
Após uma pausa, ele acrescentou:
- Contei-lhe sobre mim. E quanto ao senhor? Diga-me porque se encontra trabalhando nesta clínica e como chegou até aqui.
- Fui chamado pelo Departamento de Segurança do Estado - comecei dizendo.
- Por certo o senhor não quis colaborar - interrompeu - e por isso terminou aqui...
Não houve necessidade de acrescentar mais nada. Uns instantes depois, quando me despedi, ele disse-me:
- Sr. Drejnar, contei-lhe que tive uma Bíblia e que a levava quando visitava a Igreja Adventista. Mas devo confessar-lhe que jamais a li. Seria possível que o senhor trouxesse sua Bíblia algum dia para ler algo para mim?
- Por que algum dia? - disse-lhe. - Podemos fazê-lo agora mesmo. Tenho uma Bíblia no meu escritório. Vou buscá-la.


       Liguei da minha sala para minha esposa e expliquei-lhe que ia ter uma conversa muito importante e que, sem dúvida, chegaria tarde. Fui até ao oficial e li as seguintes palavras: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigénito, para que todo o que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16.
       - Este é um breve vislumbre do caráter de Deus - disse-lhe.
       A seguir, li uma passagem que fala sobre a condição humana: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos." Isaías 53:6.
       Ao ler estas palavras, vi que os seus olhos se encheram de lágrimas. Esses não foram os únicos versículos que repassámos naquela tarde. Nossa conversa se prolongou e no final perguntei-lhe se podia orar com ele. Aceitou com alegria.
       Haviam diagnosticado um cancro no nosso novo amigo e, lamentavelmente, sua doença não retrocedeu. Minha esposa e eu o visitávamos quase todos os dias, líamos a Bíblia e orávamos com ele.
       Depois de um tempo, ele também começou a orar. Jamais esquecemos a sua oração quando confessou sua animosidade contra Deus, pediu perdão e agradeceu a segurança da sua salvação.
       Uma sexta à tarde, em meados de setembro, passei novamente para me despedir.
       - Minha esposa e eu vamos para casa - disse-lhe. - Mas nos veremos segunda pela manhã.
       - Não - ele afirmou. - Não nos veremos na segunda.
       Perguntou se podia chamar minha esposa para orar com ele mais uma vez. Quando Maja entrou, peguei sua mão e orámos. Dei graças a Deus porque não me estava despedindo de um inimigo de Deus e de Sua Igreja, mas de um amado em Cristo, e porque voltaríamos a nos encontrar num lugar onde não haverá mais morte nem dor. Então acrescentei:
       - Voltaremos a nos encontrar, meu querido irmão, e certamente será logo.
       Quando chegámos na segunda pela manhã, a enfermeira nos disse que nosso amigo havia morrido, não muito depois da nossa última conversa.

História extraída do livro TRANSFORMADOS POR SEU AMOR - Histórias Incríveis da Vida Real de Loron T. Wade. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí - SP - Brasil. Pode comprar na Publicadora SerVir, Portugal.

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Prólogo do Livro

Este livro chama-se Transformados Por Seu Amor, mas poderíamos intitulá-lo Transformados Por Seu Poder, porque o amor é poder.
Os estudiosos da energia atómica acreditam que esta é a maior força do Universo. Como evidência, assinalam a enorme destruição produzida pela fissão de uma mínima quantidade de material radioativo.
Em certo sentido, eles têm razão. Mas toda essa energia, toda essa força bruta, não consegue tocar o ser humano em sua maior necessidade, porque não é capaz de transformar a sua vida ou infundir-lhe paz e calma em meio à tempestade. Este livro trata desse imenso e maravilhoso poder, que escapa à compreensão do materialista.
Onde entra o amor, tudo muda. E quando se desenvolve, verdadeiramente, o resultado é assombroso. Essa palavra aparece várias vezes neste livro, pois frequentemente os indivíduos que foram tocados pelo amor de Deus expressam o seu assombro. Usam esse termo para confessar que são incapazes de explicar a experiência que viveram e para assinalar o caráter surpreendente e inesperado dos eventos que transformaram a sua vida.
Mais do que meras histórias, estes relatos são testemunhos do grande amor de Deus. Pat Grant o expressa assim: "Maravilhado, fico sem palavras ao imaginar o semblante de um Homem tão poderoso e ao mesmo tempo tão simples e humilde que Se dignou a me buscar somente para me fazer compreender que a vida que eu levava não era para mim."
Assim, com a confiança de que estas comoventes histórias o animarão, colocamos em suas mãos seu precioso conteúdo." Loron T. Wade
(Livro maravilhoso! EE)


TOMA O MEU CORAÇÃO, SENHOR JESUS!!!



domingo, 22 de abril de 2018

ENCONTRO COM JESUS...


De Sacerdote
Franciscano
a Pastor Adventista


É possível que algumas pessoas já tenham lido esta história em
«News from General Conference President».
Com efeito, por ocasião do conselho anual da EUA, 1993, em Jongny, enquanto almoçávamos, o pastor Folkenberg, sabendo que o Senhor Jesus nos tem permitido viver experiências muito interessantes, pediu-me para lhe contar algumas, o que fiz com o objetivo de honrar Aquele que é a razão principal da minha vida e a Quem pertence toda a glória para sempre. Proponho-me, com a mesma intenção de O servir, contar algumas dessas histórias para os meus estimados leitores da Revista Adventista, e esta será a primeira de uma série. São experiências simples, mas que evidenciam o poder e a acção do Espírito Santo hoje.
Em 1992, fui convidado pelo Pastor Benini, presidente da União das Igrejas Adventistas de Itália, a apresentar o Seminário «Fé para Hoje» na igreja de Lungotevere, a principal comunidade adventista de Roma. Aceitei este convite com imenso prazer, mas na expectativa de saber o que é que o Senhor Jesus me reservava, e isto porque com os anos aprendi que Ele quer um encontro com alguém, desde que eu lhe dê a oportunidade, e, mais uma vez isso veio a confirmar-se, não só com uma, mas com várias pessoas.
A história de hoje fala do encontro entre um sacerdote católico romano, chamado Duilio D'Arpino, e Jesus.

O seminário «Fé para Hoje» decorreu de Sábado a Sábado. Todos os dias da semana tínhamos dois grupos: um, durante a tarde, constituído por irmãos cujos encargos profissionais os deixavam livres neste período; o outro grupo era constituído essencialmente por jovens e irmãos apenas disponíveis à noite. Num e noutro grupo havia um sentimento de amizade e de renovada comunhão uns com os outros e com Deus. Alguns testemunhavam que jamais tinham vivido um sentimento tão forte da presença do Espírito Santo. De facto, o amor pelos perdidos dava-nos a razão de estarmos ali reunidos. No último Sábado fomos todos pelas ruas e pelas casas testemunhar da nossa vocação e do nosso chamado, e ao pôr-do-sol voltámos de novo para a igreja, para contarmos uns aos outros as belas coisas que o Senhor Jesus tinha feito em nós e por nós. Nessa ocasião os crentes tomaram uma resolução e esta era que a experiência então iniciada deveria continuar. Perguntaram-me se eu estava disposto a estar com eles um ano mais tarde, ao que respondi sem hesitação: «Se essa é a vontade de Jesus e a vossa, eu voltarei.»

Voltei e permaneci com eles durante quatro semanas, para falar do Senhor àqueles que eles tinham convidado durante esse ano. Na primeira noite estavam 42 pessoas que nunca antes tinham visitado a igreja adventista, e no final das 4 semanas havia mais de 50 pessoas. Foi uma grande alegria para todos. Devem saber que Roma é uma cidade muito secularizada e que a única forma religiosa que conta é aquela que não faz apelo a uma mudança de vida, razão pela qual foi um milagre ter um grupo tão numeroso todas as noites, sem que para isso tenha havido qualquer tipo de publicidade, mas unicamente um cristianismo activo.
Duilio também foi convidado. Homem afável e de muito saber, começou o seu sacerdócio em Roma, serviu como missionário franciscano na Turquia e no Líbano, voltando de novo para Roma em 1986. Ele procurava a Pérola de Grande Preço. Tinha consciência, nos momentos de oração e de silêncio que, apesar da sua vida consagrada, não tinha a paz que vem de Jesus. E uma noite veio assistir às reuniões e continuou a vir. Cada noite, enquanto falava, os meus olhos procuravam o seu rosto, a fim de poder perceber a sua impressão, mas só encontrava um sorriso que me impedia de ler os seus sentimentos.

Cada vez que me dirigia para a porta, no fim da reunião, pensava em cada pessoa presente e orava para que a Palavra do Senhor tivesse tocado os corações. E, sem dúvida, o meu amigo sacerdote era quem ocupava o maior lugar nas minhas orações.
Na quinta-feira à noite, Duilio não estava presente e senti-me triste. Quase me faltavam as forças para proclamar o Deus Vivo, mas havia outras almas famintas que precisavam do Pão do Céu. Eram gente boa, vinham de muito longe, fechavam os seus escritórios, o seu consultório de dentista, etc. Outros deixavam os seus familiares. Recordo particularmente Erika, uma senhora alemã, esposa do Embaixador, que chegou a recusar estar numa recepção para não faltar ao seu encontro com Deus. Claro que eu tinha que encontrar forças para pregar naquela noite!
A noite seguinte Duilio D'Arpino foi o primeiro a chegar e pude então conversar de coração a coração com ele, e saber o enorme combate que travava, pois corria o risco de ser excomungado pelo papa, pela família e pelos amigos. No fim da conferência, à saída, ele disse-me uma frase que nunca esquecerei: «Pastor, por pouco me convence a tornar-me adventista!» Respondi: «Duilio, por pouco ou por muito, oro ao Senhor para que aceite a verdade que salva e dá paz infinita!»

Quando as reuniões terminaram, uma importante decisão fora tomada por este homem: «Não sei o que será de mim no futuro, sem trabalho, sem família e sem amigos. Já comecei a sentir o desprezo dos que me amavam, mas encontrei o alimento em Jesus e a minha alma está saciada. Por nada deixarei Aquele por Quem unicamente posso ter a vida eterna.»
Passados quatro meses, Duilio foi baptizado na igreja adventista, e está agora na Faculdade Adventista de Collonges, a aprofundar a teologia bíblica, para tornar-se pastor adventista em Roma, no seio da comunidade turca. Ele teve um encontro com Jesus e isso mudou completamente a sua vida.
Como Duilio, há muitas pessoas, crentes sinceros, que buscam a Pérola de Grande Preço. Deus deseja utilizar-nos como Seus instrumentos na salvação do nosso próximo.
Se o prezado leitor, já encontrou esta Pérola, não a perca por nada deste mundo. E ore pelo irmão Duilio e por aqueles que neste momento estão tendo um encontro com Jesus.

"O Pastor José Carlos Costa é o departamental do Ministério Pessoal da nossa Divisão" (Inter-Europeia). Revista Adventista, Abril 1994


SIM!  É  PRAZER  SERVIR  A  CRISTO!



segunda-feira, 26 de março de 2018



JESUS

* nascido numa aldeia obscura
* Ele era filho de uma camponesa
* trabalhou numa carpintaria até aos 30 anos de idade
* e durante três anos Ele viajou por todo o país
* parando o suficiente para conversar/ouvir as pessoas
* e ajudar onde pudesse

* nunca escreveu um livro
* nunca bateu nenhum recorde
* nunca frequentou uma faculdade
* nunca ocupou um cargo público
* nunca teve família nem casa

* não fez nenhum dos feitos que geralmente acompanham a grandeza
* não tinha nenhuma credencial senão a Si mesmo
* quando tinha apenas 33 anos de idade a maré da opinião
pública voltou-se contra Ele
* e todos os Seus amigos O rejeitaram
* quando Ele foi preso muito poucos queriam ter algo a ver com Ele
* depois do julgamento Ele foi executado pelo Estado
* juntamente com ladrões convictos
* só houve um lugar para o sepultar porque um amigo generoso
ofereceu - o seu próprio lote - num cemitério

TUDO ISTO OCORREU HÁ 20 SÉCULOS
E HOJE ELE AINDA É
A PRINCIPAL FIGURA
DA RAÇA HUMANA

E O EXEMPLO SUPREMO
DO AMOR


* ora não exagero ao afirmar que todos os exércitos
que já marcharam
* todas as esquadras que já içaram as velas
* todos os governantes que já dominaram
* todos os reis que já reinaram neste mundo

TODOS TOMADOS EM CONJUNTO
NÃO AFETARAM
A VIDA HUMANA
SOBRE A TERRA
COMO ESTA
ÚNICA VIDA SOLITÁRIA


Autor Desconhecido

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A  BROKEN  HEART



- Pode ouvir músicas da Páscoa no último grupo dos links de Meditação para a Saúde e de Uma Palavra Amiga -

quinta-feira, 8 de março de 2018


A   M-U-L-H-E-R   E   O   SEU   M-U-N-D-O





(clique nas imagens para as aumentar)

Hoje gostaria de falar não só da mulher, mas também das diferenças que podemos encontrar entre o homem e a mulher.
Não existem somente diferenças físicas que são facilmente observáveis. Existem também diferenças psíquicas. Os movimentos feministas empenham-se em demonstrar a igualdade do homem e da mulher nas suas estruturas psicológicas, mas quem assim faz pode estar tão enganado como aquele que pretende decidir que a mulher só tem capacidade para permanecer no lar e criar os seus filhos.
Existem definições típicas que pretendem definir os homens como mais analistas, mais frios no raciocínio, mais fortes e gostando de expressar a sua força através de grandes ações e de feitos heroicos, enquanto que a mulher nos é apresentada como uma pessoa mais delicada, virada para a família, para a beleza, terna e mais emotiva.

Deus criou o ser humano: o sexo masculino e o sexo feminino. Deus criou a sexualidade. É um dom divino. Cada um deverá aceitar a sua masculinidade ou a sua feminilidade. Mas nem sempre se atribui o valor adequado ao masculino e ao feminino, sendo por isso um tema que suscita sempre uma certa discussão. O homem e a mulher têm características sexuais baseadas nas diferenças hormonais que também contribuem para distinguir a sua vida psíquica. No entanto, gostaria também de referir que existem alguns fatores socioculturais que têm grande influência nos comportamentos típicos do homem e da mulher.

Durante muitos séculos o homem foi considerado como o sustentador e protetor da família e a mulher como a ama de casa e a mãe. Acredita-se na interação equilibrada de ambos. Desde a DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA MULHER, em 1789, esta situação tem vindo a mudar progressivamente. A mulher tem vindo a desempenhar trabalhos que antes eram considerados masculinos e acumula as tarefas domésticas com as profissionais. Talvez se pretenda levar esta situação até às últimas consequências fazendo com que a mulher deseje igualar-se de tal maneira ao homem que pode levá-la a perder a sua própria identidade.
Homens e mulheres são semelhantes tanto física como psiquicamente, mas não são idênticos, existem certas diferenças que temos impressas em cada uma das células comandadas por uma glândula a nível cerebral, a hipófise.

Seguidamente procederemos a uma análise das diferenças mais relevantes de um e de outro sexo de forma comparativa:
O centro da feminilidade da mulher encontra-se na sua própria natureza. Durante toda a nossa vida sexual ativa teremos que suportar os períodos com todos os inconvenientes físicos e psicológicos que todo este ciclo envolve. O mesmo diremos do fruto da nossa atividade sexual: os filhos, com o grande período que é a gravidez, a amamentação, o cuidado dos bebés e a primeira infância. Por muito que queiramos deixar aos nossos maridos a educação dos nossos filhos, será sempre com a mãe que se estabelece uma relação afetiva mais direta.
Para o homem, a sexualidade ocupa um lugar diferente do da mulher. Ele não tem a alteração hormonal cíclica. Pode dissocia-la do resto da sua vida mais facilmente do que a mulher.

No que diz respeito aos aspetos físicos são mais fáceis de ser vistos: as mulheres não têm tanta força física e muscular, não são tão altas, têm uma capacidade pulmonar menor e estas características vão impedir que sejam independentes para desempenharem certos trabalhos, atividades, desportos, obtendo um rendimento menor. É interessante notar que apesar das aparências nos poderem fazer pensar o contrário, nós mulheres, temos organismos mais resistentes às doenças, às tensões, ao stress... Psicologicamente a mulher manifesta-se mais equilibrada em situações adversas, enquanto que o homem desencoraja-se facilmente e a mulher será aquela que lhe terá de transmitir o alento perdido. Parece que isto é atribuído ao facto do homem sentir que tem de dar uma imagem de segurança enquanto se sente confuso e desorientado. E porque não pode exteriorizar as suas dúvidas toda esta situação fá-lo bloquear. Fica em tensão muito antes, e resiste menos às crises.

Até há poucas décadas atrás considerava-se que as únicas atividades para as quais a mulher se encontrava capacitada, eram as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos. Sempre se considerou a mulher intelectualmente inferior ao homem. Esta tese já foi largamente desmentida por vários investigadores. Presentemente a mulher ocupa cargos de alta responsabilidade e está a demonstrar ser capaz de realizar trabalhos semelhantes aos do homem. Mas agora surge-nos outra tarefa importantíssima que é a educação dos filhos e apesar de ser partilhada, ela sempre recairá num dos progenitores. Uma vez que é a mãe que os traz ao mundo, penso que é normal que também sejam elas a estar mais perto deles durante os seus primeiros anos de vida, período importantíssimo da sua formação.

Leona Tyler no livro "Psicologia das Diferenças Humanas" publicou um resumo de um grande número de investigações científicas das quais se pode concluir que os homens são superiores em raciocínio matemático, têm aptidões espaciais e compreensão mecânica. As mulheres, por seu lado, destacam-se na aprendizagem de línguas, na memorização e na precisão de detalhes. Cada qual desenvolve aspetos diferentes de inteligência. Podemos assim afirmar que a mulher está ao mesmo nível que o homem no plano intelectual, e as mulheres podem ser de alguma utilidade na vida profissional do seu marido. Podemos pois concluir, que se completam.

Mas uma coisa é bem clara! Enquanto os nossos filhos são pequenos, devemos dedicar-nos especialmente ao seu desenvolvimento. Quando chegar a altura em que eles já não necessitam tanto de nós, podemo-nos então dedicar a outras atividades. Mas mais: quer as mulheres trabalhem fora do lar ou fiquem em casa com os filhos, devem encontrar oportunidades para adquirirem formação, ou se reciclarem, nas atividades que poderão apoiar o trabalho nas suas Igrejas. Podemos fazê-lo ou não, encontrando desculpas por não sabermos preparar pequenos temas, estudos bíblicos, escolas sabatinas... Lembremo-nos que apesar do nosso trabalho não ser referenciado na Terra, podemos ter a certeza de que ele se encontra entesourado no céu!

Texto de Maria Isabel H. Gómez, Esposa de Pastor, vive em Espanha. Retirado de uma Revista para Esposas de Pastores.

(Nota pessoal: A 2ª foto é de dois queridos Jovens, muiiito ESPECIAIS, Sandra e Roger, que conheço desde o exato momento em que nasceram... Os caracóis do cabelo da Jovem são naturais, herança do pai (ai que invejinha!!!... rsrsrs), mas os olhos azuis são meus... Esta foto é de quando trabalhavam nas Traduções dos Palestrantes para várias Línguas, numa pausa de refeição, nos bastidores da última Assembleia Geral Mundial dos Adventistas do 7º Dia, que se realizou nos EUA em 2015. É esta a minha querida Igreja que espera o regresso de Jesus em breve. Cada vez há mais sinais deste pobre mundo a acabar, para outro sem comparação alguma, e ETERNO, INICIAR... Estude este assunto na Bíblia e, melhor ainda, tire as suas dúvidas numa Igreja Adventista, mais perto de si. Quero encontrar-me com Jesus, com muita gente amiga... e consigo, lá em cima no Céu! EE)


QUE ENCONTRO MARAVILHOSO E ESPETACULAR SERÁ!!!




E pode ver a SESSÃO do CULTO do Primeiro Sábado
desta CONFERÊNCIA GERAL de 2015
(Gostei DEMAIS!!! EE)





sexta-feira, 2 de março de 2018


"'A Morte estava a dar a volta...', explicava ela para o pediatra, para quem fora empurrada a cigana de mil saias, pele escura, e corpo batido pelo vento e moldado pela noite"

AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ

"A Morte estava a dar a volta..." - a frase foi dita em surdina, um sussurro apenas, brisa de olhos em baixo, para explicar ao burocrata, sentado atrás da janela das "admissões", o incumprimento da ordem que a definia como utente fora da "zona". Como se aquela cigana tivesse noção de "rede urbanística", ou algum sentido dos limites, ou esquadria da cidade. "A Morte estava a dar a volta...", explicava ela para o pediatra, para quem fora empurrada a cigana de mil saias, pele escura, e corpo batido pelo vento e moldado pela noite. Uma vida, ainda jovem, que cheirava a fogueira, e tinha textura de palha e suor, e leis inscritas na pele e na carne, muito antes de ter nascido.

"A Morte estava a dar a volta..." Anos a fio guardei dentro de mim as palavras e a imagem. Recuei até aos primórdios da minha experiência como médico. O Hospital Pediátrico era um conjunto de casarões com o frio das igrejas ao fim da tarde. O pavilhão de doenças infecto-contagiosas tinha a altura de catedrais góticas, e os quartos o anacronismo de portas que oscilavam como os bares de cowboys, onde, presa com um adesivo, e escrita à mão, uma folha esvoaçava na corrente de ar da enfermaria. A letra de cor encarnada, lia-se: "sarampos", mais à frente: "meningites". Quem ocupava os sarampos e as meningites eram crianças que choravam o desespero do sequestro. Nos corredores misturavam como bandos de anarquistas os respectivos vírus e bactérias, com fraldas pesadas de urina e fezes, que talvez uma enfermeira, mais tarde, viesse a retirar. Caras pequeninas, húmidas de lágrimas e ranho, exprimiam o terror e a incompreensão de um campo de concentração, que adultos doutos tinham erguido para seu bem. Não pode haver visitas, era a regra da casa. Por vezes, semanas passavam, sem que os pais vissem os seus filhos, entregues aos cuidados do casarão e de quem lá habitava, senhores absolutos do castelo e suas torres.

Todos os dias, às 12h00, havia informações. Um magote de gente que se acotovelava, mães de olhar ansioso, pais humilhados na sua impotência, ouviam do jovem interno o boletim clínico: O "33" - agitação na turba - um casal destacava-se, mãos que se retorciam, e a resposta que dava alguma esperança, migalhas de vida até ao dia seguinte. O "33", está melhorzinho... vamos a ver. E de pronto as notícias do "34": malzinho - mãos a oscilarem ao ritmo do "assim-assim" - como quem diz: sabemos lá o que Deus lhe destina. Já o "57"... "Vai-se fazer o possível..." Cabeças que caem, como quem reza, ou desespera. Da mãe nascem lágrimas em fio, chuva de monção que preenche o leito das rugas. Apenas húmidos, os olhos do pai.
Gente simples que desce a escadaria que leva à rua, impotente na sua ignorância de antibióticos, injecções e doenças, condenados à pena que decreta a necessidade de confiar em quem não se conhece, nem a alma, nem o saber. As janelas que dos quartos se abriam para fora estavam malevolamente pintadas de tinta rasca, para impedir que os pais espreitassem para dentro dos quartos, na ânsia e na saudade de olharem as crianças. Alguns, com as unhas raspavam brechas que lhes permitissem espreitar, ainda que por alguns segundos, os seus filhos reféns, não só da doença, como do hospital-prisão. Na altura das "punções à espinha", era difícil suportar o choro das crianças. Para meu próprio sossego, implementei um concurso de estoicismo, onde meninas de 4 anos (como a Rosa) tinham o prémio do aplauso, a medalha de mérito da aprovação, se sofressem sem chorar, embora se aceitasse que as lágrimas corressem, se as bocas se mantivessem fechadas.

Astuta e corajosa, a cigana raspou um canto da janela. Saltou um pouco de tinta, o que lhe permitia, todos os dias, vigiar a sua filha. Viu desaparecer uma a uma, de forma metódica, no sentido do ponteiro dos relógios, os bebés da mesma sala. De certo se interrogou porquê, mas depois tornou-se evidente o motivo porque se apagavam, de forma sistemática e regular, tantas vidas pequeninas. No seu espírito, sem endereço, habitado pelas coisas sólidas que a sua vida de nómada lhe tinha ensinado, a razão surgiu límpida, irrefutável, como a descoberta de qualquer evidência, até ali camuflada: "A morte estava a dar a volta." Quando disso se apercebeu, contra o mundo ergueu toda a sua vontade de mãe. Afrontou batas e burocratas. Irrompeu por entre médicos amedrontados por histórias de facas, sangue e vingança. Nos braços tomou a sua filha e levou-a para bem longe, para outro hospital, no canto oposto da cidade. Aí explicou a sua presença, sem culpar pessoas ou regras, na convicção de mulher simples, e com a coragem com que resgatou a sua filha da "força que veste de negro, que por ser feia, esconde a carantonha de esqueleto em capuz negro", que "a morte estava a dar a volta!"


Artigo de Dr Nuno Lobo Antunes, Neuropediatra, in Revista Lux. Folha única, abandonada num assento do Centro de Saúde mas que me alegro de a ter encontrado e guardado... Pergunto-me: Não faria eu o mesmo no lugar desta Mãe?... Desconfio bem que sim!!! Um dia contarei uma história minha deste género...



domingo, 4 de fevereiro de 2018


EU  E  O  PAI  NOSSO

- Não posso dizer: Pai, se não mostro na minha vida diária que sou Seu filho leal.
- Não posso dizer: nosso, se a minha religião não me dá lugar para me aproximar dos outros nas suas necessidades.
- Não posso dizer: que estás nos céus, se todos os meus interesses se centralizam nas coisas desta Terra.
- Não posso dizer: santificado seja o Teu nome, se não demonstro reverência pelo nome de Deus tomando o Seu nome em vão, e pelos Seus Mandamentos não os cumprindo.
- Não posso dizer: venha a nós o Teu reino, se não estou disposto a abandonar a minha soberania e a aceitar o reino divino de justiça.
- Não posso dizer: seja feita a Tua vontade, se esta não se cumpre na minha vida, ou se a aceito, apenas, parcialmente.
- Não posso dizer: assim na Terra como no Céu, se não estou disposto a entregar-me completamente, desde já, ao Seu serviço.
- Não posso dizer: o pão nosso de cada dia nos dá hoje, se não faço um esforço honesto para obtê-lo, ou se ignoro as necessidades reais do meu próximo.
- Não posso dizer: perdoa-nos as nossas dívidas (ofensas), assim como nós perdoamos aos nossos devedores (ofensores), se abrigo ressentimentos contra os outros.
- Não posso dizer: e não nos induzas à tentação, se escolho, voluntariamente, entrar ou permanecer numa situação em que possa ser tentado.
- Não posso dizer: mas livra-nos do mal, se não estou preparado para lutar no reino espiritual com a arma da oração.
- Não posso dizer: porque Teu é o reino, se não presto ao meu Rei a disciplinada obediência de um fiel vassalo.
- Não posso dizer: o poder, se sinto receio do que os outros digam ou façam.
- Não posso dizer: e a glória, se busco, acima de tudo, a minha própria glória.
- Não posso dizer: para sempre, se sinto demasiada preocupação com temas e assuntos temporais.
- Não posso dizer: Amén, se não consigo dizer honestamente: - "Esta será para sempre a minha oração".
(Autor Desconhecido)



segunda-feira, 1 de janeiro de 2018


O MUNDO DE DEUS

                                         Senhor, não seria tudo melhor,
                                         Se as coisas fossem organizadas e previsíveis,
                                         Se eu, previamente, soubesse o resultado dos meus actos,
                                         Se pudesse calcular os meus ganhos
                                         Antes de investir,
                                         Se sempre pudesse semear em linhas impecáveis
                                         E visse crescer as plantas sem quaisquer defeitos?
                                         Não sei se seria melhor...

                                         Seria, sim, mais seguro e cómodo,
                                         Apropriado.
                                         Poderia fazer os meus planos,
                                         Materializar os meus sonhos, organizar a minha vida.

                                         Os meus planos? A minha vida?...
                                         Senhor, creio que esta é a questão.
                                         Vejo o mundo
                                         E a obra que tenho a fazer
                                         Como coisas minhas.
                                         Mas é o Teu mundo
                                         E os únicos planos a longo prazo são os Teus!
                                         Posso ter ideias,
                                         Posso fazer o que me parece melhor e bem pensado,
                                         Mas o vento é também Teu
                                         E ele sopra através da minha vida como Te apraz.

                                         Umas vezes é uma brisa fresca,
                                         Suspirando por entre os salgueiros à beira do riacho,
                                         Reconfortando.
                                         Outras vezes é um vento forte
                                         Que me fustiga de chuva o rosto,
                                         Quando subo as ladeiras.
                                         E pode ser uma rajada ululante,
                                         Com propósitos que não alcanço,
                                         Arrebatando e destroçando meus planos.
                                         Ou parecendo destroçá-los.

                                         Senhor, ajuda-me a reconhecer
                                         Que os Teus caminhos estão além da compreensão.
                                         Fortalece a minha fé
                                         Para que, quando o vento soprar e desfizer o meu mundo,
                                         Levando a semente para lá do horizonte,
                                         Eu tenha a certeza de que ela irá crescer noutros lugares
                                         E noutros tempos.
                                         Faz-me ver que todos esses outros tempos e lugares
                                         São também teus.

                                         Senhor, a minha tarefa
                                         É manter o meu rosto voltado para o vento,
                                         Deixando-o soprar através da minha vida,
                                         Refrescando, perturbando,
                                         Às vezes assustando,
                                         Mas sabendo eu sempre que é o Teu vento
                                         E que, enquanto eu estiver voltado para ele,
                                         Estarei sempre voltado para Ti.


Poema de Eddie Askew, traduzido por António Coquenão Lopes, pastor aposentado, e extraído de "Silence and a Shouting", editado por The Leprosy Mission Internacional.


MAIS  SEMELHANTE  A  JESUS

"Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque, assim como é, O veremos".
1 João 3:2

A manhã está calma aqui na praia de Acuípe, em Ilhéus. O mar impetuoso agita-se inquieto e incansável.
O vento sopra refrescando a areia quente e torna mais agradável o ambiente. Tudo parece perfeito. O movimento ritmado das ondas, o céu azul, o quase uniforme desenho dos coqueiros e até a areia branca contrasta com o verde intenso das águas.
Podia ser tudo perfeito... mas não consigo tirar da cabeça a imagem do rapaz que me procurou ontem à noite, depois da pregação, ainda sob os efeitos da droga. Os seus olhos pareciam querer sair das cavidades. O seu rosto marcado pela vida, pelo sofrimento, pelo peso da culpa e pela sensação de fracasso, estava todo deformado. "Sou lixo, Pastor", disse angustiado, "não consigo sair, não consigo, não consigo!"
A manhã está calma aqui na praia. O mundo podia ser belo e perfeito. Os homens podiam ser felizes tal como quando Adão saiu das mãos do Criador... mas a imagem do rapaz de ontem, traz à minha mente uma pergunta: O que foi que aconteceu ao longo do caminho? Porque é que hoje, olhando para o espelho da vida detestamos a forma do nosso ser? Porque sentimos que o nosso temperamento está muito longe de ser o que devia? Porque carregamos traumas, complexos, deformações de carácter? Porque nos sentimos, às vezes, escravos de paixões ou de vícios, acorrentados a sentimentos e pensamentos que gostaríamos de abandonar?
Quando contemplamos a beleza do caráter de Jesus apodera-se de nós um sentimento de pequenez e insignificância que nos faz suspirar, pensando... "Como eu gostaria de ser como Ele! Calmo na tormenta, manso na ira, puro na impureza, doce na amargura!" É POSSÍVEL TER O CARÁTER DE JESUS? O verso de hoje diz que SIM! Deus quer reproduzir na nossa vida o carácter maravilhoso do Salvador. As meditações de cada dia, ao longo deste ano, têm como objetivo mostrar a maneira como Deus trabalha na nossa vida para podermos refletir o caráter de Jesus.
E a minha oração é que em (1996) 2018, cresça no seu coração o desejo de ser cada dia  MAIS  SEMELHANTE  A  JESUS!


Alejandro Bullón in MAIS SEMELHANTE A JESUS - Meditações Matinais - Edição Sinais dos Tempos, 1996.

PROSSIGA


              O sonho que você sonhou ficou no coração, foi Deus quem colocou.
             Ele quer muito te ajudar e se você quiser a força vai te dar.

             CORO: Então prossiga pelo teu ideal e vá lutando p'ra alcançá-lo, afinal.
             Tudo é possível pois Este Deus de amor move as montanhas se preciso for.

             Se for difícil caminhar você pode pensar que não vai conseguir.
             Mas Ele vai estar ali a cada passo teu tomando tua mão.


F E L I Z    A N O    N O V O
F E L I Z    A N O    N O V O
F E L I Z    A N O    N O V O


terça-feira, 12 de dezembro de 2017


MAIS, MUITO MAIS!!!

Reflexões Sobre a Superioridade de Jesus



Mais, melhor, mais alto, mais rápido - este é o lema do nosso tempo. Mais dinheiro, mais férias, mais conforto. Já percebeu que, em alguns jardins, a decoração de Natal fica mais elaborada a cada ano? Precisamos de mais e melhores presentes, ferramentas mais rápidas.
"Mais, melhor, mais rápido", às vezes, é necessário para nos manter focados num objetivo. Por outro lado, pode tornar-se uma "corrida de rato". Há ainda, outro problema: Num ponto ou noutro - se somos bem-sucedidos - podemos nos sentir superiores aos outros, tornando-nos arrogantes e orgulhosos. Isso me lembra um vendedor talentoso que fechava suas vendas com a seguinte frase: "Deixe-me mostrar-lhe uma coisa que vários dos seus vizinhos pensam que você não tem condições de comprar."

Assim Como Nós
Ouvi a história de dois patos e um sapo que viviam muito felizes juntos, num lago da fazenda. Eram os melhores amigos, divertiam-se e brincavam na água juntos. Quando, porém, os dias quentes de verão chegaram, o lago começou a secar, e ficou evidente que teriam que se mudar dali. Isso não era nenhum problema para os patos, mas o sapo estava preso. Para ajudá-lo, eles montaram um esquema genial. Iriam segurar, com o bico, as duas pontas de uma vara e o sapo poderia ir pendurado pela boca, no meio dela, enquanto as aves voavam para outro lago. O plano funcionou, mas enquanto os patos voavam, um fazendeiro olhou admirado e pensou: "Mas que solução inteligente! Quem será que teve essa ideia?"
O sapo abriu a boca e disse: "Fui eu!" E o resultado foi trágico.
Estamos todos viajando em nosso ego e em exaltações egoístas, mas existe apenas Alguém superior. Esse é o assunto abordado no livro de Hebreus: A Superioridade. Ali encontramos que o bom foi ultrapassado pelo melhor, e o melhor, tem um nome: Jesus, nosso Senhor.

A Superioridade de Jesus
Em Hebreus 1, Jesus é descrito como muito superior aos anjos. O capítulo 3 de Hebreus descreve Jesus como superior a Moisés, um dos maiores líderes e administradores de todos os tempos e um dos profetas mais importantes, o que teve o privilégio que nenhum outro ser humano jamais teve - ver Deus face a face. Em Hebreus 4, Jesus ultrapassa Josué e no capítulo 5, fica acima de Arão.
Em Hebreus 7, Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus altíssimo (e símbolo de Jesus), é apresentado como maior que Abraão, e coloca o sacerdócio de acordo com sua ordem: sacerdócio de Cristo, acima do sacerdócio levita. Jesus é o verdadeiro sumo sacerdote - "santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus." (7:26).
Jesus - mais exaltado, melhor, superior.
De acordo com Hebreus 9:23, o santuário celestial, para sua purificação, requer "sacrifício superior" ao sangue de novilhos e bodes. Requeria o único Filho, um sacrifício por todos (9:25-28). Seu "sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel" (12:24); Seu sacrifício, única oferta eficaz, supera todas as outras. Ele é o Autor da nossa salvação.

Por que Ele é Superior
O autor de Hebreus apresenta Jesus como superior por tês razões básicas:
1. Por causa de Sua posição. Jesus é melhor, superior, mais exaltado, porque Ele é o Filho, o Criador, Sustenedor, o único Sacerdote-Rei legítimo.
2. Por causa de Seu ministério no passado. Em outras palavras, Ele é superior porque Se humilhou, tornou-Se humano, viveu entre nós, sofreu e morreu por nós - e tudo sem pecado.
O autor da carta aos hebreus usa um capítulo quase inteiro para falar da encarnação e humilhação de Cristo. Essa é uma verdade que devemos manter em mente o tempo todo, permitindo que nosso Senhor esteja connosco e aprofundando nosso amor por Ele.
3. Por causa do que Ele está fazendo por nós hoje e fará no futuro. Ele nos redimiu e, por meio dEle, com plena confiança, temos acesso ao trono de Deus.
Nada e ninguém mais nos pode salvar. Jesus é sem igual, e nós, como Seus seguidores, devemos proclamar Sua singularidade, não mantendo-a escondida por ser politicamente correto. Não há dúvida de que devemos ser corretos, polidos e amáveis para com os membros de outras religiões no mundo. Mas, como Paulo, "nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios" (I Coríntios 1:23).
Jesus é maior e mais digno de glória porque Se tornou um connosco, simpatizou connosco, ajudou-nos, intercede por nós e, conforme prometeu, dará fim a todas as coisas com Seu reino de glória.

Resultados do Ministério Superior de Jesus
Nas palavras de Hebreus, os resultados do ministério superior de Cristo por nós incluem uma melhor aliança (7:22; 8:6); melhor esperança (7:19); melhor promessa (8:6); melhor purificação (9:13, 14); melhor herança (9:13, 14); melhor pátria (11:16) e, finalmente, melhor ressurreição (11:35). Ele preparou "um plano ainda melhor para nós" (11:40, NTLH).
É interessante notar que muito do resultado da superioridade de Jesus parece ser direcionada para o futuro. Nossa vida aqui é um prelúdio para a vida futura. Embora esse prelúdio seja importante, provê a oportunidade de recebermos vida eterna por meio de Jesus Cristo. Mas Suas "melhores promessas" e "melhor aliança" já nos afetam aqui e agora. É em vida que devemos ter certeza da salvação. É agora que Ele coloca em nós o desejo de guardá-la e de obedecer a Jesus e amá-Lo. Jesus dá sentido à nossa vida hoje e provê um futuro brilhante para nós.

A Superioridade de Cristo e Nós
Como somos afetados pela superioridade de Jesus?
1. Somos chamados para honrar a Jesus como Aquele a quem pertencem a glória e a honra, não somente durante a época do Natal, mas durante o ano todo. Diariamente meditamos e lemos sobre Ele, abrimos nosso coração em oração a Ele, confiamos nEle. Obedecemos aos Seus mandamentos e, pela Sua graça, vivemos pelos princípios que governaram Sua vida na Terra. Unimo-nos às hostes celestes, adorando-O e curvando-nos diante dEle.
2. Somos chamados a abandonar o orgulho e a confiança-própria. Em sua auto-biografia, Franklin afirmou corretamente: "Não existe, talvez, nenhuma de nossas paixões naturais tão difícil de subjugar como o orgulho... Podemos espancá-lo, abafá-lo, mortificá-lo, quanto quisermos, que ele se mantém vivo... Ainda que julgue crer que o superei completamente, eu poderia, provavelmente, orgulhar-me de minha humildade."
O orgulho nunca foi encontrado em Jesus, assim como não deveria ser encontrado em Seus seguidores, pois, afinal de contas, tudo que somos e temos é presente de Deus e não temos de que nos orgulhar. Se queremos nos gloriar, que nos gloriemos em nosso Senhor Jesus Cristo.
3. Somos chamados a renovar nossa decisão por esse maravilhoso Senhor e esperar tudo dEle. Todos os heróis da fé, em Hebreus 11, nos ensinam como escolher a Cristo e nunca abandoná-Lo.

Mais, muito mais e melhor? Sim, como em Jesus Cristo. E também naqueles que, após serem salvos, O seguem de perto, servindo a Ele e aos outros cada vez mais, sendo elevados para mais e mais alto, esquecendo-se de si mesmos e focalizando no mais excelente Senhor - para todo o sempre.


Ekkehardt Mueller é diretor associado do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Associação Geral da Igreja Adventista do 7º Dia em Silver Spring, Maryland, EUA. Devocional da Revista ADVENTIST WORLD, Dez 2007. (Pode encontrar estas Revistas nos Links 3I).



JESUS É MELHOR, SIM!!!



MILAGRE NUM CÁRCERE...

Israel Martinez era chefe do serviço secreto em Minatitlán, México. Na véspera do ano novo, ele e outro oficial sob suas ordens embebedaram-se. Na manhã seguinte, quando já havia começado o ano de 1969, o companheiro de Israel, que ainda não estava totalmente sóbrio, tentou tirar a arma do seu chefe.
"Não toque no meu revólver", gritou Israel. Houve uma breve luta entre os dois homens uniformizados. No meio da confusão, o revólver disparou e o amigo de Israel caiu ao chão, morto. A bala atravessou-lhe o coração.
As autoridades policiais prenderam Israel. A arma fatal era sua. Tinha morto outro oficial. Para piorar a situação, a vítima era filho do prefeito, e a tragédia ocorreu a alguns passos da prefeitura. Israel sabia que o seu caso era extremamente sério. Sem dúvida, passaria muitos anos na cadeia. Tinha 26 anos e havia estado na polícia e no exército desde os 15 (um oficial o aceitara como se tivesse 21 anos). O futuro mostrava-se muito escuro.
No cárcere encontrou ladrões que ele mesmo aprisionara em ruas escuras, viciados em drogas que ele tinha descoberto nos seus esconderijos e mandara prender, criminosos cujos planos havia descoberto enquanto ouvia suas conversas em salões de bebidas. Eram seus inimigos, pois ele os tinha conduzido às barras da justiça. Agora estava à mercê de todos eles, e decidiram vingar-se. Bateram-lhe cruelmente e o torturaram até vencer sua resistência. Obrigaram-no a assinar papéis que ele mais tarde descobriu serem confissões de sua culpabilidade. Sua situação era desesperadora. Tentou suicidar-se, mas não conseguiu.
Nessas circunstâncias, um amigo da prisão convidou-o a estudar a Bíblia.
"Pelo menos vou quebrar a rotina da prisão", pensou. E seu amigo comentou: "Deus pode ajudar." Depois de 5 meses de estudo conjunto das Escrituras, seu amigo foi posto em liberdade. Deus o havia ajudado.
Agora Israel deveria continuar sozinho com seus estudos bíblicos. Como tinha ouvido falar na Voz da Esperança (Voz da Profecia), conhecido programa religioso através da rádio, escreveu ao seu diretor pedindo informações. Dos escritórios centrais entraram em contacto com um representante local, membro da Igreja Adventista. Este visitou Israel no cárcere, continuando com ele o estudo da Bíblia. Orou fervorosamente para que Deus tivesse misericórdia de Israel e o ajudasse a resolver os seus problemas.
A vida de Israel começou a mudar à medida que compreendia o amor divino. Aceitou a Jesus como seu Salvador. Sentiu a alegria do perdão e a segurança de que Deus estava ao seu lado e haveria de protegê-lo e dirigir a sua vida. Começou a compartilhar com outros presos o que havia aprendido nas Escrituras, animando-os a ouvir o programa de rádio que tanto o havia ajudado.
Israel já estava no cárcere há 1 ano e meio e o seu caso ainda não havia sido tratado nos tribunais. Ele continuava orando e os seus amigos adventistas continuavam visitando-o e orando em seu favor.
Poucos meses depois o júri absolveu-o sob a alegação de que o homicídio tinha sido acidental, como aliás havia ocorrido. Deus tinha escutado e respondido às suas orações.
Dois anos e oito meses depois da sua prisão, Israel foi posto em liberdade. Os presos que o haviam hostilizado, agora eram seus amigos. Fizeram-lhe uma festa de despedida e até os guardas o trataram bondosamente e lhe deram algum dinheiro.
Israel havia prometido servir a Deus se recuperasse a liberdade. A primeira coisa que fez foi ir à Igreja e dar o seu testemunho de gratidão a Deus.
Já se passaram quase 10 anos. Israel Martinez está casado, tem uma oficina de soldador com a qual sustenta a família. Mas o seu verdadeiro trabalho é servir a Deus e a Sua Igreja. Com uma alegria incontida, fala de Jesus aos outros, como o Salvador que perdoa os pecados, que ouve as orações e dá sentido à existência. Cada semana visita os presos no cárcere e explica-lhes a Palavra de Deus. Quer que experimentem o gozo que ele sente e alcancem a liberdade espiritual que ele alcançou.

Bárbara Westphal in Revista Sinais dos Tempos, 1980, Publicadora SerVir.


NATAL  É  JESUS,
O  DOM  PERFEITO  DO  AMOR  DE  DEUS!!!


"O dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus"
                              (Romanos 6:23)



(Pode ouvir músicas de Natal no último grupo dos links de Leituras para a Vida
e de O Caminho para a Esperança)

terça-feira, 31 de outubro de 2017


31 de OUTUBRO de 2017

CELEBRAÇÃO DOS 500 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE



O PODER TRIUNFANTE DA VERDADE


       Um novo imperador, Carlos V, subira ao trono da Alemanha, e os emissários de Roma se apressaram a apresentar suas congratulações e induzir o monarca a empregar seu poder contra a Reforma. De um lado, o eleitor da Saxônia, a quem Carlos em grande parte devia a coroa, rogava-lhe não dar passo algum contra Lutero antes de lhe conceder oportunidade de se fazer ouvir. O imperador ficou assim colocado em posição de grande perplexidade e embaraço. Os adeptos do papa não ficariam satisfeitos com coisa alguma a não ser um edito imperial sentenciando Lutero à morte. O eleitor declarava firmemente que "nem sua majestade imperial, nem outra pessoa qualquer tinha demonstrado haverem sido refutados os escritos de Lutero"; portanto, pedia "que o Dr. Lutero fosse provido de salvo-conduto, de maneira que pudesse comparecer perante um tribunal de juízes sábios, piedosos e imparciais." — D’Aubigné.
       A atenção de todos os partidos dirigia-se agora para a assembleia dos Estados alemães que se reuniu em Worms logo depois da ascensão de Carlos ao poder imperial. Havia importantes questões e interesses políticos a serem considerados por esse concílio nacional. Pela primeira vez os príncipes da Alemanha deveriam encontrar-se com seu jovem monarca numa assembleia deliberativa. De todas as partes da pátria haviam chegado os dignitários da Igreja e do Estado. Fidalgos seculares, de elevada linhagem, poderosos e ciosos de seus direitos hereditários; eclesiásticos principescos, afetados de sua consciente superioridade em ordem social e poderio; cavalheiros da corte e seus partidários armados; e embaixadores de países estrangeiros e longínquos — todos se achavam reunidos em Worms. Contudo, naquela vasta assembleia, o assunto que despertava o mais profundo interesse era a causa do reformador saxônio.
       Carlos previamente encarregara o eleitor de levar consigo Lutero à Dieta, assegurando-lhe proteção e prometendo franco estudo das questões em contenda, com pessoas competentes. Lutero estava ansioso por comparecer perante o imperador. Sua saúde achava-se naquela ocasião muito alquebrada; não obstante escreveu ao eleitor: "Se eu não puder ir a Worms com boa saúde, serei levado para lá, doente como estou. Pois se o imperador me chama, não posso duvidar de que é o chamado do próprio Deus. Se desejarem usar de violência para comigo (e isto é muito provável, pois não é para a instrução deles que me ordenam comparecer), ponho o caso nas mãos do Senhor. Ainda vive e reina Aquele que preservou os três jovens na fornalha ardente. Se Ele me não salvar, minha vida é de pouca importância. Tão-somente evitemos que o evangelho seja exposto ao escárnio dos ímpios; e por ele derramemos nosso sangue, de preferência a deixar que eles triunfem. Não me compete decidir se minha vida ou minha morte contribuirá mais para a salvação de todos. ... Podeis esperar tudo de mim ... exceto fuga e abjuração. Fugir não posso, e menos ainda me retratar." — D’Aubigné.
       Quando em Worms circularam as notícias de que Lutero deveria comparecer perante a Dieta, houve geral excitação. Aleandro, o delegado papal a quem fora especialmente confiado o caso, estava alarmado e enraivecido. Via que o resultado seria desastroso para a causa papal. Instituir inquérito sobre um caso em que o papa já havia pronunciado sentença de morte, seria lançar o desdém sobre a autoridade do soberano pontífice. Além disso, tinha apreensões de que os eloquentes e poderosos argumentos daquele homem pudessem desviar da causa do papa muitos dos príncipes.
       Com muita insistência, pois, advertiu Carlos contra o aparecimento de Lutero em Worms. Por este tempo foi publicada a bula que declarava a excomunhão de Lutero. Este fato, em acréscimo às representações do legado, induziu o imperador a ceder. Escreveu ao eleitor que, se Lutero não se retratasse, deveria permanecer em Wittenberg.
       Não contente com esta vitória, Aleandro trabalhou com toda a força e astúcia que possuía, para conseguir a condenação de Lutero. Com uma persistência digna de melhor causa, insistiu em que o caso chegasse à atenção dos príncipes, prelados e outros membros da assembleia, acusando o reformador de "sedição, rebelião e blasfêmia." Mas a veemência e paixão manifestadas pelo legado revelaram demasiadamente claro o espírito que o impulsionava. "Ele é movido pelo ódio e vingança", foi a observação geral, "muito mais do que pelo zelo e piedade." — D’Aubigné. A maior parte da Dieta estava mais do que nunca inclinada a considerar favoravelmente a causa de Lutero.
       Com redobrado zelo insistia Aleandro com o imperador sobre o dever de executar os éditos papais. Mas, pelas leis da Alemanha, não se poderia fazer isto sem o apoio dos príncipes; e vencido finalmente pela importunação do legado, Carlos ordenou-lhe apresentar seu caso à Dieta.
       "Foi um dia pomposo para o núncio. A assembleia era grandiosa; a causa ainda maior. Aleandro deveria pleitear em favor de Roma, ... mãe e senhora de todas as igrejas." Deveria reivindicar a soberania de Pedro perante os principados da cristandade, reunidos em assembleia. "Possuía o dom da eloquência e ergueu-se à altura da ocasião. Determinava a Providência que Roma aparecesse e pleiteasse pelo mais hábil de seus oradores, na presença do mais augusto tribunal, antes que fosse condenada." — Wylie. Com alguns receios, os que favoreciam o reformador anteviam o efeito dos discursos de Aleandro. O eleitor da Saxônia não estava presente, mas por sua ordem alguns de seus conselheiros ali se achavam para tomar notas do discurso do núncio.
       Com todo o prestígio do saber e da eloquência, Aleandro se pôs a derribar a verdade. Acusação sobre acusação lançou ele contra Lutero, como inimigo da Igreja e do Estado, dos vivos e dos mortos, do clero e dos leigos, dos concílios e dos cristãos em geral. "Nos erros de Lutero há o suficiente", declarou ele, para assegurar a queima de "cem mil hereges."
       Em conclusão esforçou-se por atirar o desprezo aos adeptos da fé reformada: "O que são estes luteranos? Uma quadrilha de insolentes pedantes, padres corruptos, devassos monges, advogados ignorantes e nobres degradados, juntamente com o povo comum a que transviaram e perverteram. Quanto lhes é superior o partido católico em número, competência e poder! Um decreto unânime desta ilustre assembleia esclarecerá os simples, advertirá os imprudentes, firmará os versáteis e dará força aos fracos." — D’Aubigné.
       Com tais armas têm sido, em todos os tempos, atacados os defensores da verdade. Os mesmos argumentos ainda se apresentam contra todos os que ousam mostrar, em oposição a erros estabelecidos, os simples e diretos ensinos da Palavra de Deus. "Quem são estes pregadores de novas doutrinas?" Exclamam os que desejam uma religião popular. "São indoutos, pouco numerosos, e das classes pobres. Contudo pretendem ter a verdade e ser o povo escolhido de Deus. São ignorantes e estão enganados. Quão superior em número e influência é a nossa igreja! Quantos grandes e ilustres homens existem entre nós! Quanto mais poder há do nosso lado!" Tais são os argumentos que têm influência decisiva sobre o mundo; mas não são mais conclusivos hoje do que o foram nos dias do reformador.

       A Reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Continuará até ao fim da história deste mundo. Lutero teve grande obra a fazer, transmitindo a outros a luz que Deus permitira brilhar sobre ele; contudo, não recebeu toda a luz que deveria ser dada ao mundo. Desde aquele tempo até hoje, nova luz tem estado continuamente a resplandecer sobre as Escrituras, e novas verdades se têm desvendado constantemente.
       O discurso do legado produziu profunda impressão na Dieta. Não havia presente nenhum Lutero, com as claras e convincentes verdades da Palavra de Deus, para superar o defensor papal. Nenhuma tentativa se fez para defender o reformador. Era manifesta a disposição geral de não somente condená-lo e as doutrinas que ele ensinava mas, sendo possível, desarraigar a heresia. Roma fruíra da mais favorável oportunidade para defender sua causa. Tudo que ela poderia dizer em sua própria reivindicação, fora dito. Mas a aparente vitória foi o sinal da derrota. Dali em diante o contraste entre a verdade e o erro seria visto mais claramente, ao entrarem para a luta em campo aberto. Nunca mais desde aquele dia Roma se havia de sentir tão segura como estivera.
       Conquanto a maior parte dos membros da Dieta não tivesse hesitado em entregar Lutero à vingança de Roma, muitos deles viam e deploravam a depravação existente na igreja, desejosos da supressão dos abusos de que sofria o povo alemão em consequência da corrupção e cobiça da hierarquia. O legado apresentara sob a luz mais favorável o dogma papal. O Senhor então constrangeu um membro da Dieta a dar uma descrição verdadeira dos efeitos da tirania papal. Com nobre firmeza, o Duque Jorge da Saxônia se levantou naquela assembleia principesca e especificou com terrível precisão os enganos e abominações do papado e seus horrendos resultados. Disse ao concluir:
       "Tais são alguns dos abusos que clamam contra Roma. Toda a vergonha foi posta à parte, e seu único objetivo é ... dinheiro, dinheiro, dinheiro, ... de maneira que os pregadores que deveriam ensinar a verdade, nada proferem senão falsidade, e são não somente tolerados mas recompensados, porque quanto maiores forem suas mentiras, tanto maior seu ganho. É dessa fonte impura que fluem tais águas contaminadas. A devassidão estende a mão à avareza. ... Ai! É o escândalo causado pelo clero que arremessa tantas pobres almas à condenação eterna. Deve-se efetuar uma reforma geral." — D’Aubigné.
       Uma denúncia mais hábil e convincente contra os abusos papais não poderia ter sido apresentada pelo próprio Lutero; e o fato de ser o orador inimigo decidido do reformador, deu maior influência às suas palavras.

       Se se abrissem os olhos dos que constituíam a assembleia, teriam visto anjos de Deus no meio deles, derramando raios de luz através das trevas do erro e abrindo mentes e corações à recepção da verdade. Era o poder do Deus da verdade e sabedoria que dirigia até os adversários da Reforma, preparando assim o caminho para a grande obra prestes a realizar-se. Martinho Lutero não estava presente; mas a voz de Alguém, maior do que Lutero, fora ouvida naquela assembleia.

       Uma comissão foi logo designada pela Dieta para apresentar um relatório das opressões papais que tão esmagadoramente pesavam sobre o povo alemão. Esta lista, contendo cento e uma especificações, foi apresentada ao imperador, com o pedido de que ele tomasse imediatas medidas para a correção de tais abusos. "Que perda de almas cristãs", diziam os suplicantes, "que depredações, que extorsões, por causa dos escândalos de que se acha rodeada a cabeça espiritual da cristandade! É nosso dever evitar a ruína e desonra de nosso povo. Por esta razão, nós, de maneira humilde, mas com muita insistência rogamo-vos ordeneis uma reforma geral, e empreendais a sua realização." — D’Aubigné.
       O concílio pediu então o comparecimento do reformador a sua presença. Apesar dos rogos, protestos e ameaças de Aleandro, o imperador finalmente consentiu, e Lutero foi intimado a comparecer perante a Dieta. Com a intimação foi expedido um salvo-conduto, assegurando sua volta a um lugar de segurança. Ambos foram levados a Wittenberg por um arauto que estava incumbido de conduzir o reformador a Worms.
       Os amigos de Lutero estavam aterrorizados, angustiados. Sabendo do preconceito e inimizade contra ele, temiam que mesmo seu salvo-conduto não fosse respeitado, e rogavam-lhe não expusesse a vida ao perigo. Ele replicou: "Os sectários do papa não desejam minha ida a Worms, mas minha condenação e morte. Não importa. Não orem por mim, mas pela Palavra de Deus. ... Cristo me dará Seu Espírito para vencer esses ministros do erro. Desprezo-os em minha vida; triunfarei sobre eles pela minha morte. Estão atarefados em Worms com o intuito de me obrigarem a renunciar; e esta será a minha abjuração: anteriormente eu dizia que o papa é o vigário de Cristo; hoje assevero ser ele o adversário de nosso Senhor e o apóstolo do diabo." — D’Aubigné.

       Lutero não deveria fazer sozinho sua perigosa viagem. Além do mensageiro imperial, três de seus amigos mais certos se decidiram a acompanhá-lo. Melâncton ardorosamente quis unir-se a eles. Seu coração estava ligado ao de Lutero, e anelava segui-lo sendo necessário, à prisão ou à morte. Seus rogos, porém, não foram atendidos. Se Lutero perecesse, as esperanças da Reforma deveriam centralizar-se neste jovem colaborador. Disse o reformador quando se despediu de Melâncton: "Se eu não voltar e meus inimigos me matarem, continua a ensinar e permanece firme na verdade. Trabalha em meu lugar. ... Se sobreviveres, minha morte terá pouca consequência." — D’Aubigné. Estudantes e cidadãos que se haviam reunido para testemunharem a partida de Lutero ficaram profundamente comovidos. Uma multidão, cujo coração havia sido tocado pelo evangelho, deu-lhe as despedidas, em pranto. Assim, o reformador e seus companheiros partiram de Wittenberg.
       Viram em viagem que o espírito do povo se achava oprimido por tristes pressentimentos. Nalgumas cidades honras nenhumas lhes eram tributadas. Ao pararem para o pouso, um padre amigo exprimiu seus temores, segurando diante de Lutero o retrato de um reformador italiano que sofrera o martírio. No dia seguinte souberam que os escritos de Lutero haviam sido condenados em Worms. Mensageiros imperiais estavam proclamando o decreto do imperador, e apelando ao povo para trazerem aos magistrados as obras proscritas. O arauto, temendo pela segurança de Lutero no concílio e julgando que sua resolução já pudesse estar abalada, perguntou se ele ainda desejava ir avante. Respondeu: "Posto que interdito em todas as cidades, irei." — D’Aubigné.
       Em Erfurt, Lutero foi recebido com honras. Cercado de multidões que o admiravam, passou pelas ruas que ele muitas vezes atravessara com a sacola de pedinte. Visitou sua capela no convento e pensou nas lutas pelas quais a luz que agora inundava a Alemanha se derramara em sua alma. Insistiu-se com ele a que pregasse. Isto lhe havia sido vedado, mas o arauto concedeu-lhe permissão, e o frade que fora outrora o serviçal do convento, subiu agora ao púlpito.
       A uma multidão que ali se reunira, falou ele sobre as palavras de Cristo: "Paz seja convosco." "Filósofos, doutores e escritores", disse ele, "têm-se esforçado por ensinar aos homens o meio para se obter a vida eterna, e não o têm conseguido. Contar-vos-ei agora: ... Deus ressuscitou dos mortos um Homem, o Senhor Jesus Cristo, para que pudesse destruir a morte, extirpar o pecado e fechar as portas do inferno. Esta é a obra da salvação. ... Cristo venceu! Estas são as alegres novas; e somos salvos por Sua obra, e não pela nossa própria. ... Disse nosso Senhor Jesus Cristo: 'Paz seja convosco; olhai Minhas mãos'; isto quer dizer: Olha, ó homem! Fui Eu, Eu só, que tirei teu pecado e te resgatei; e agora tens paz, diz o Senhor."
       Continuou, mostrando que a verdadeira fé se manifestará por uma vida santa. "Visto que Deus nos salvou, ordenemos nossos trabalhos de tal maneira que possam ser aceitáveis perante Ele. És rico? Administra teus bens às necessidades dos pobres. Se teu trabalho é útil apenas para ti, o serviço que pretendes prestar a Deus é uma mentira." — D’Aubigné.

       O povo ouvia como que extasiado. O pão da vida fora partido àquelas almas famintas. Perante elas Cristo foi levantado acima de papas, legados, imperadores e reis. Lutero não fez referência alguma à sua posição perigosa. Não procurou fazer-se objeto dos pensamentos e simpatias. Na contemplação de Cristo perdera de vista o eu. Escondera-se por trás do Homem do Calvário, procurando apenas apresentar a Jesus como o Redentor do pecador.
       Prosseguindo viagem, o reformador era em toda a parte olhado com grande interesse. Uma ávida multidão acotovelava-se em redor dele, e vozes amigas advertiam-no dos propósitos dos romanistas. "Eles vos queimarão", diziam alguns, "e reduzirão vosso corpo a cinzas, como fizeram com João Huss." Lutero respondia: "Ainda que acendessem por todo o caminho de Worms a Wittenberg uma fogueira cujas chamas atingissem o céu, em nome do Senhor eu caminharia pelo meio delas; compareceria perante eles; entraria pelas mandíbulas desse hipopótamo e lhe quebraria os dentes, confessando o Senhor Jesus Cristo." — D’Aubigné.
       A notícia de sua aproximação de Worms estabeleceu grande comoção. Os amigos tremiam de receio pela sua segurança; os inimigos temiam pelo êxito de sua causa. Fizeram-se acérrimos esforços para dissuadi-lo de entrar na cidade. Por instigação dos adeptos do papa, insistiu-se com ele para que se retirasse para o castelo de um cavalheiro amigo, onde, declarava-se, todas as dificuldades poderiam ser amigavelmente resolvidas. Os amigos esforçavam-se por excitar-lhe os temores, descrevendo os perigos que o ameaçavam. Todos os seus esforços falharam. Lutero, ainda inabalável, declarou: "Mesmo que houvesse tantos demónios em Worms como telhas nos telhados, eu ali entraria." — D’Aubigné.
       À sua chegada em Worms, vasta multidão se congregou às portas para lhe dar as boas-vindas. Concorrência tão grande não houvera para saudar o próprio imperador. A excitação foi intensa, e do meio da multidão, uma voz penetrante e lamentosa entoava um canto fúnebre como aviso a Lutero quanto à sorte que o esperava. "Deus será a minha defesa", disse ele, ao descer da carruagem.
       Os chefes papais não tinham acreditado que Lutero realmente se aventurasse a aparecer em Worms, e sua chegada encheu-os de consternação. O imperador imediatamente convocou seus conselheiros para considerarem como deveriam agir. Um dos bispos, romanista rígido, declarou: "Temo-nos consultado durante muito tempo acerca deste assunto. Livre-se vossa majestade imperial, de uma vez, deste homem. Não fez Sigismundo com que João Huss fosse queimado? Não somos obrigados a dar nem a observar o salvo-conduto de um herege." "Não", disse o imperador; "devemos cumprir nossa promessa." — D’Aubigné. Decidiu-se, portanto, que o reformador fosse ouvido.
       A cidade toda se achava sôfrega por ver este homem notável, e uma multidão de visitantes logo encheu suas estalagens. Lutero havia-se apenas restabelecido de enfermidade recente; estava cansado da jornada, que levara duas semanas inteiras; deveria preparar-se para enfrentar os momentosos acontecimentos do dia seguinte, e necessitava de sossego e repouso. Tão grande, porém, era o desejo de o ver, que havia ele gozado apenas o descanso de algumas horas quando ao seu redor se reuniram avidamente nobres, cavalheiros, sacerdotes e cidadãos. Entre estes se encontravam muitos dos nobres que tão ousadamente haviam pedido ao imperador uma reforma contra os abusos eclesiásticos e que, diz Lutero, "se tinham todos libertado por meu evangelho." — Vida e Tempos de Lutero, de Martyn. Inimigos, bem como amigos foram ver o intrépido monge. Ele, porém, os recebeu com calma inabalável, respondendo a todos com dignidade e sabedoria. Seu porte era firme e corajoso. O rosto, pálido e magro, assinalado com traços de trabalhos e enfermidade, apresentava uma expressão amável e mesmo alegre. A solenidade e ardor profundo de suas palavras conferiam-lhe um poder a que mesmo seus inimigos não podiam resistir completamente. Tanto amigos como adversários estavam cheios de admiração. Alguns estavam convictos de que uma influência divina o acompanhava; outros declaravam, como fizeram os fariseus em relação a Cristo: "Ele tem demónio."
       No dia seguinte, Lutero foi chamado para estar presente à Dieta. Designou-se um oficial imperial para conduzi-lo até ao salão de audiência; foi, contudo, com dificuldade que ele atingiu o local. Todas as ruas estavam cheias de espectadores, ávidos de ver o monge que ousara resistir à autoridade do papa.
       Quando estava para entrar à presença de seus juízes, um velho general, herói de muitas batalhas, disse-lhe amavelmente: "Pobre monge, pobre monge, vais agora assumir posição mais nobre do que eu ou quaisquer outros capitães já assumimos nas mais sanguinolentas de nossas batalhas! Mas, se tua causa é justa, e estás certo disto, vai avante em nome de Deus e nada temas. Deus não te abandonará." — D’Aubigné.

       Finalmente Lutero se achou perante o concílio. O imperador ocupava o trono. Estava rodeado das mais ilustres personagens do império. Nunca homem algum comparecera à presença de uma assembleia mais importante do que aquela diante da qual Martinho Lutero deveria responder por sua fé. "Aquela cena era por si mesma uma assinalada vitória sobre o papado. O papa condenara o homem, e agora estava ele em pé, diante de um tribunal que, por esse mesmo ato, se colocava acima do papa. Este o havia posto sob interdito, separando-o de toda a sociedade humana; e no entanto era ele chamado em linguagem respeitosa, e recebido perante a mais augusta assembleia do mundo. O papa condenara-o ao silêncio perpétuo, e agora estava ele prestes a falar perante milhares de ouvintes atentos, reunidos das mais longínquas partes da cristandade. Imensa revolução assim se efetuara por intermédio de Lutero. Roma descia já do trono, e era a voz de um monge que determinava esta humilhação." — D’Aubigné.
       Na presença daquela poderosa assembleia de titulares, o reformador de humilde nascimento parecia intimidado e embaraçado. Vários dos príncipes, observando sua emoção, aproximaram-se dele, e um lhe segredou: "Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma." Outro disse: "Quando fordes levados perante os governadores e reis por Minha causa, ser-vos-á ministrado, pelo Espírito de vosso Pai, o que devereis dizer." Assim, as palavras de Cristo foram empregadas pelos grandes homens do mundo para fortalecerem Seu servo na hora de prova.

       Lutero foi conduzido a um lugar bem em frente do trono do imperador. Profundo silêncio caiu sobre a assembleia ali congregada. Então um oficial imperial se levantou e, apontando para uma coleção dos escritos de Lutero, pediu que o reformador respondesse a duas perguntas: Se ele os reconhecia como seus, e se se dispunha a retratar-se das opiniões que neles emitira. Lidos os títulos dos livros, Lutero respondeu, quanto à primeira pergunta, que reconhecia serem seus os livros. "Quanto à segunda", disse ele, "visto ser uma questão que respeita à fé e à salvação das almas, e que interessa à Palavra de Deus, o maior e mais precioso tesouro quer no Céu quer na Terra, eu agiria imprudentemente se respondesse sem reflexão. Poderia afirmar menos do que as circunstâncias exigem, ou mais do que a verdade requer, e desta maneira, pecar contra estas palavras de Cristo: 'Qualquer que Me negar diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos Céus.' Mateus 10:33. Por esta razão, com toda a humildade, rogo a vossa majestade imperial conceder-me tempo para que eu possa responder sem ofensa à Palavra de Deus." — D’Aubigné.
       Fazendo este pedido, Lutero agiu prudentemente. Sua conduta convenceu a assembleia de que não agia por paixão ou impulso. Semelhante calma e domínio próprio, inesperados em quem se mostrara audaz e intransigente, aumentaram-lhe o poder, habilitando-o mais tarde a responder com uma prudência, decisão, sabedoria e dignidade que surpreendiam e dececionavam seus adversários, repreendendo-lhes a insolência e orgulho.
       No dia seguinte deveria ele comparecer para dar sua resposta final. Durante algum tempo seu coração se abateu, ao contemplar as forças que estavam combinadas contra a verdade. Vacilou-lhe a fé; temor e tremor lhe sobrevieram, e oprimiu-o o terror. Multiplicavam-se diante dele os perigos; seus inimigos pareciam a ponto de triunfar, e os poderes das trevas, de prevalecer. Nuvens juntavam-se em redor dele, e pareciam separá-lo de Deus. Ansiava pela certeza de que o Senhor dos exércitos estaria com ele. Em angústia de espírito lançou-se com o rosto em terra, derramando estes clamores entrecortados, lancinantes, que ninguém, senão Deus, pode compreender perfeitamente:
       "Ó Deus, todo-poderoso e eterno", implorava ele, "quão terrível é este mundo! Eis que ele abre a boca para engolir-me, e tenho tão pouca confiança em Ti. ... Se é unicamente na força deste mundo que eu devo pôr minha confiança, tudo está acabado. ... É vinda a minha última hora, minha condenação foi pronunciada. ... Ó Deus, ajuda-me contra toda a sabedoria do mundo. Faze isto, ... Tu somente; ... pois esta não é minha obra, mas Tua. Nada tenho a fazer por minha pessoa, e devo tratar com estes grandes do mundo. ... Mas a causa é Tua, ... e é uma causa justa e eterna. Ó Senhor, auxilia-me! Deus fiel e imutável, em homem algum ponho minha confiança. ... Tudo que é do homem é incerto; tudo que do homem vem, falha. ... Escolheste-me para esta obra. ... Sê a meu lado por amor de Teu bem-amado Jesus Cristo, que é minha defesa, meu escudo e torre forte." — D’Aubigné.

       Uma providência onisciente havia permitido a Lutero compreender o perigo, para que não confiasse em sua própria força, arrojando-se presunçosamente ao perigo. Não era, contudo, o temor do sofrimento pessoal, o terror da tortura ou da morte, que parecia iminente, o que o oprimia com seus horrores. Ele chegara à crise, e sentia sua insuficiência para enfrentá-la. Pela sua fraqueza, a causa da verdade poderia sofrer dano. Não para a sua própria segurança, mas para a vitória do evangelho lutava ele com Deus. Como a de Israel, naquela luta noturna, ao lado do solitário riacho, foi a angústia e conflito de sua alma. Como Israel, prevaleceu com Deus. Em seu completo desamparo, sua fé se firmou em Cristo, o poderoso Libertador. Ele se fortaleceu com a certeza de que não compareceria sozinho perante o concílio. A paz voltou à alma, e ele se regozijou de que lhe fosse permitido exaltar a Palavra de Deus perante os governadores da nação.
       Com o espírito repousado em Deus, Lutero preparou-se para a luta que diante dele estava. Meditou sobre o plano de sua resposta, examinou passagens de seus próprios escritos e tirou das Sagradas Escrituras provas convenientes para sustentar sua atitude. Então, pondo a mão esquerda sobre o Volume Sagrado, que estava aberto diante dele, levantou a destra para o céu, e fez um voto de "permanecer fiel ao evangelho e confessar francamente sua fé, mesmo que tivesse de selar com o sangue seu testemunho." — D’Aubigné.




Não perca o cântico final!!! - É Lindo... Lindo... Lindo... É mesmo o sentir do meu/creio que do nosso coração... Apetece ouvir vezes sem fim...
Parabéns ao seu autor! EE

       Ao ser de novo introduzido à presença da Dieta, seu rosto não apresentava traços de receio ou embaraço. Calmo e cheio de paz, ainda que extraordinariamente valoroso e nobre, manteve-se como testemunha de Deus entre os grandes da Terra. O oficial imperial pediu então sua decisão sobre se desejava retratar-se de suas doutrinas. Lutero respondeu em tom submisso e humilde, sem violência nem paixão. Suas maneiras eram tímidas e respeitosas; manifestou, contudo, confiança e alegria que surpreenderam a assembleia.
       "Sereníssimo imperador, ilustres príncipes, graciosos fidalgos", disse Lutero; "compareço neste dia perante vós, em conformidade com a ordem a mim dada ontem, e pela mercê de Deus conjuro vossa majestade e vossa augusta alteza a escutar, com graça, a defesa de uma causa que, estou certo, é justa e verdadeira. Se, por ignorância, eu transgredir os usos e etiquetas das cortes, rogo-vos perdoar-me; pois não fui criado nos palácios dos reis, mas na reclusão de um convento." — D’Aubigné.
       Então, referindo-se à pergunta, declarou que suas obras publicadas não eram todas do mesmo caráter. Em algumas havia tratado da fé e das boas obras, e mesmo seus inimigos as declaravam não somente inofensivas, mas proveitosas. Abjurá-las seria condenar verdades que todos os partidos professavam. A segunda classe consistia em escritos que expunham as corrupções e abusos do papado. Revogar estas obras fortaleceria a tirania de Roma, abrindo uma porta mais larga a muitas e grandes impiedades. Na terceira classe de seus livros atacara indivíduos que haviam defendido erros existentes. Em relação a eles confessou, francamente, que tinha sido mais violento do que convinha. Não pretendia estar isento de falta; mas mesmo esses livros não poderia revogar, pois que tal procedimento tornaria audaciosos os inimigos da verdade, e então aproveitariam a ocasião para esmagar o povo de Deus com crueldade ainda maior.
       "Não sou, todavia, senão mero homem, e não Deus", continuou ele; "portanto, defender-me-ei como fez Cristo: 'Se falei mal, dá testemunho do mal.' ... Pela misericórdia de Deus, conjuro-vos, sereníssimo imperador, e a vós, ilustríssimos príncipes, e a todos os homens de toda a categoria, a provar pelos escritos dos profetas e apóstolos, que errei. Logo que estiver convicto disso, retratarei todo o erro e serei o primeiro a lançar mão de meus livros e atirá-los ao fogo."
       "O que acabo de dizer, claramente mostra, eu o espero, que pesei e considerei cuidadosamente os perigos a que me exponho mas, longe de me desanimar, regozijo-me por ver que o evangelho é hoje, como nos tempos antigos, causa de perturbação e dissensão. Este é o caráter, este é o destino da Palavra de Deus. 'Não vim trazer paz à Terra, mas espada', disse Jesus Cristo. Deus é maravilhoso e terrível em Seus conselhos; acautelai-vos para que não aconteça que, supondo apagar dissensões, persigais a santa Palavra de Deus e arrosteis sobre vós mesmos um pavoroso dilúvio de perigos insuperáveis, de desastres presentes e desolação eterna. ... Poderia citar muitos exemplos dos oráculos de Deus. Poderia falar dos Faraós, dos reis de Babilónia e dos de Israel, cujos trabalhos não contribuíram nunca mais eficazmente para a sua própria destruição do que quando buscavam, mediante conselhos, prudentíssimos na aparência, fortalecer seu domínio. Deus 'é O que transporta montanhas, sem que o sintam.'" — D’Aubigné.

       Lutero falara em alemão; foi-lhe pedido então repetir as mesmas palavras em latim. Embora exausto pelo esforço anterior, anuiu e novamente fez seu discurso, com a mesma clareza e energia que a princípio. A providência de Deus dirigiu isto. O espírito de muitos dos príncipes estava tão obliterado pelo erro e superstição que à primeira vez não viram a força do raciocínio de Lutero; mas a repetição habilitou-os a perceber claramente os pontos apresentados.
       Os que obstinadamente fechavam os olhos à luz e se decidiram a não convencer-se da verdade, ficaram enraivecidos com o poder das palavras de Lutero. Quando cessou de falar, o anunciador da Dieta disse, irado: "Não respondeste à pergunta feita. ... Exige-se que dês resposta clara e precisa. ... Retratar-te-ás ou não?"
       O reformador respondeu: "Visto que vossa sereníssima majestade e vossas nobres altezas exigem de mim resposta clara, simples e precisa, dar-vo-la-ei, e é esta: Não posso submeter minha fé quer ao papa quer aos concílios, porque é claro como o dia, que eles têm frequentemente errado e se contradito um ao outro. Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém." — D’Aubigné.

       Assim se manteve este homem justo sobre o firme fundamento da Palavra de Deus. A luz do Céu iluminava-lhe o semblante. Sua grandeza e pureza de caráter, sua paz e alegria de coração, eram manifestas a todos ao testificar ele contra o poder do erro e testemunhar a superioridade da fé que vence o mundo.
       A assembleia toda ficou por algum tempo muda de espanto. Em sua primeira resposta Lutero falara em tom baixo, em atitude respeitosa, quase submissa. Os romanistas haviam interpretado isto como sinal de que lhe estivesse começando a faltar o ânimo. Consideraram o pedido de delonga simples prelúdio de sua retratação. O próprio Carlos, notando, meio desdenhoso, a constituição abatida do monge; seu traje singelo e a simplicidade de suas maneiras, declarara: "Este monge nunca fará de mim um herege." A coragem e firmeza que agora ele ostentara, bem como o poder e clareza de seu raciocínio, encheram de surpresa todos os partidos. O imperador, possuído de admiração, exclamou: "Este monge fala com coração intrépido e inabalável coragem." Muitos dos príncipes alemães olhavam com orgulho e alegria a este representante de sua nação.
       Os partidários de Roma haviam sido vencidos; sua causa parecia sob a mais desfavorável luz. Procuraram manter seu poder, não apelando para as Escrituras, mas com recurso às ameaças — indefetível argumento de Roma. Disse o anunciador da Dieta: "Se não se retratar, o imperador e os governos do império consultar-se-ão quanto à conduta a adotar-se contra o herege incorrigível." Os amigos de Lutero, que com grande alegria lhe ouviram a nobre defesa, tremeram àquelas palavras; mas o próprio doutor disse calmamente: "Queira Deus ser meu auxiliador, pois não posso retratar-me de coisa alguma." — D’Aubigné.

       Ordenou-se-lhe que se retirasse da Dieta, enquanto os príncipes se consultavam juntamente. Pressentia-se que chegara uma grande crise. A persistente recusa de Lutero em submeter-se, poderia afetar a história da igreja durante séculos. Decidiu-se dar-lhe mais uma oportunidade para renunciar. Pela última vez foi ele levado à assembleia. Novamente foi feita a pergunta se ele renunciaria a suas doutrinas. "Não tenho outra resposta a dar", disse ele, "a não ser a que já dei." Era evidente que ele não poderia ser induzido, quer por promessas quer por ameaças, a render-se ao governo de Roma.
       Os chefes papais aborreceram-se de que seu poderio, o qual fizera com que reis e nobres tremessem, fosse dessa maneira desprezado por um humilde monge: almejavam fazê-lo sentir sua ira, destruindo-lhe a vida com torturas. Lutero, porém, compreendendo o perigo, falara a todos com dignidade e calma cristãs. Suas palavras tinham sido isentas de orgulho, paixão e falsidade. Havia perdido de vista a si próprio e aos grandes homens que o cercavam, e sentia unicamente que se achava na presença de Alguém infinitamente superior aos papas, prelados, reis e imperadores. Cristo falara por intermédio do testemunho de Lutero, com um poder e grandeza que na ocasião causou espanto e admiração tanto a amigos como a adversários. O Espírito de Deus estivera presente naquele concílio, impressionando o coração dos principais do império. Vários dos príncipes reconheceram ousadamente a justiça da causa de Lutero. Muitos estavam convictos da verdade; mas em outros as impressões recebidas não foram duradouras. Houve outra classe que no momento não exprimiu suas convicções, mas que, tendo pesquisado as Escrituras por si mesmos, tornaram-se em ocasião posterior destemidos sustentáculos da Reforma.
       O eleitor Frederico aguardara ansiosamente o comparecimento de Lutero perante a Dieta, e com profunda emoção ouviu seu discurso. Com alegria e orgulho testemunhou a coragem, firmeza e domínio próprio do doutor, e decidiu-se a permanecer mais firmemente em sua defesa. Ele contrastava as fações em contenda, e via que a sabedoria dos papas, reis e prelados, fora pelo poder da verdade reduzida a nada. O papado sofrera uma derrota que seria sentida entre todas as nações e em todos os tempos.
       Quando o legado percebeu o efeito produzido pelo discurso de Lutero, como nunca dantes temeu pela segurança do poderio romano, e resolveu empregar todos os meios ao seu alcance, para levar a termo a derrota do reformador. Com toda a eloquência e perícia diplomática, pelas quais tanto se distinguia, apresentou ao jovem imperador a loucura e perigo de sacrificar, pela causa de um monge desprezível, a amizade e apoio da poderosa Sé de Roma.
       Suas palavras não foram destituídas de efeito. No dia que se seguiu à resposta de Lutero, Carlos fez com que fosse apresentada uma mensagem à Dieta, anunciando sua resolução de prosseguir com a política de seus predecessores, mantendo e protegendo a religião católica. Visto que Lutero se recusara a renunciar a seus erros, seriam empregadas as mais rigorosas medidas contra ele e contra as heresias que ensinava. "Um simples monge, transviado por sua própria loucura, levantou-se contra a fé da cristandade. Para deter tal impiedade, sacrificarei meus reinos, meus tesouros, meus amigos, meu corpo, meu sangue, minha alma e minha vida. Estou para despedir o agostiniano Lutero, proibindo-lhe causar a menor desordem entre o povo; procederei então contra ele e seus adeptos como hereges contumazes, pela excomunhão, pelo interdito e por todos os meios calculados para destruí-los. Apelo para os membros dos Estados a que se portem como fiéis cristãos." — D’Aubigné. Não obstante, o imperador declarou que o salvo conduto de Lutero deveria ser respeitado, e que, antes de se poder instituir qualquer processo contra ele, deveria ser-lhe permitido chegar a casa em segurança.
       Insistiam agora os membros da Dieta em duas opiniões contrárias. Os emissários e representantes do papa, de novo pediam que o salvo-conduto do reformador fosse desrespeitado. "O Reno", diziam eles, "deveria receber suas cinzas, como recebeu as de João Huss, há um século." — D’Aubigné. Príncipes alemães, porém, conquanto fossem eles próprios romanistas e inimigos declarados de Lutero, protestavam contra tal brecha da pública fé, como uma nódoa sobre a honra da nação. Apontavam para as calamidades que se seguiram à morte de Huss e declaravam que não ousavam atrair sobre a Alemanha e sobre a cabeça de seu jovem imperador, a repetição daqueles terríveis males.
       O próprio Carlos, respondendo à vil proposta, disse: "Embora fossem a honra e a fé banidas do mundo todo, deveriam encontrar um refúgio no coração dos príncipes." — D’Aubigné. Houve ainda insistência por parte dos mais encarniçados inimigos papais de Lutero, a fim de tratar o reformador como Sigismundo fizera com Huss — abandonando-o à mercê da igreja; mas lembrando-se da cena em que Huss, em assembleia pública, apontara as suas cadeias e lembrara ao monarca a sua fé empenhada, Carlos V declarou: "Eu não gostaria de corar como Sigismundo." — (Ver História do Concílio de Constança, de Lenfant.)
       Não obstante, Carlos havia deliberadamente rejeitado as verdades apresentadas por Lutero. "Estou firmemente resolvido a imitar o exemplo de meus maiores", escreveu o monarca. Decidira não sair da senda do costume, mesmo para andar nos caminhos da verdade e justiça. Porque seus pais o fizeram, ele apoiaria o papado, com toda a sua crueldade e corrupção. Assim, assumiu sua posição, recusando-se a aceitar qualquer luz em acréscimo à que seus pais haviam recebido, ou cumprir qualquer dever que eles não cumpriram.

       Muitos hoje se apegam de modo idêntico aos costumes e tradições de seus pais. Quando o Senhor lhes envia mais luz, recusam-se a aceitá-la porque, não havendo ela sido concedida a seus pais, não foi por estes acolhida. Não estamos colocados onde nossos pais se achavam; consequentemente nossos deveres e responsabilidades não são os mesmos. Não seremos aprovados por Deus olhando para o exemplo de nossos pais a fim de determinar nosso dever, em vez de pesquisar por nós mesmos a Palavra da Verdade. Nossa responsabilidade é maior do que foi a de nossos antepassados. Somos responsáveis pela luz que receberam, e que nos foi entregue como herança; somos também responsáveis pela luz adicional que hoje, da Palavra de Deus, está a brilhar sobre nós.
       Disse Cristo acerca dos judeus incrédulos: "Se Eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado." João 15:22. O mesmo poder divino falara por intermédio de Lutero ao imperador e príncipes da Alemanha. E, ao resplandecer a luz da Palavra de Deus, Seu Espírito contendeu pela última vez com muitos naquela assembleia. Como Pilatos, séculos antes, permitira que o orgulho e a popularidade fechassem seu coração contra o Redentor do mundo; como o timorato Félix ordenou ao mensageiro da verdade: "Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei"; como o orgulhoso Agripa confessou: "Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!" (Atos 24:25; 26:28) e no entanto se desviou da mensagem enviada pelo Céu — assim Carlos V, cedendo às sugestões do orgulho e política mundanos, decidiu-se a rejeitar a luz da verdade.

       Circularam amplamente rumores dos planos feitos contra Lutero, causando por toda a cidade grande excitação. O reformador conquistara muitos amigos que, conhecendo a traiçoeira crueldade de Roma para com todos os que ousavam expor suas corrupções, resolveram que ele não fosse sacrificado. Centenas de nobres se comprometeram a protegê-lo. Não poucos denunciaram abertamente a mensagem real como evidência de tímida submissão ao poder de Roma. Às portas das casas e em lugares públicos, foram afixados cartazes, alguns condenando e outros apoiando Lutero. Num deles estavam meramente escritas as significativas palavras do sábio: "Ai de ti, ó terra, cujo rei é criança!" Eclesiastes 10:16. O entusiasmo popular em favor de Lutero, por toda a Alemanha, convenceu tanto o imperador como a Dieta de que qualquer injustiça a ele manifesta faria perigar a paz do império e mesmo a estabilidade do trono.
       Frederico da Saxônia manteve uma estudada reserva, escondendo cuidadosamente seus verdadeiros sentimentos, para com o reformador, ao passo que o guardava com incansável vigilância, observando todos os seus movimentos e todos os de seus inimigos. Mas, muitos havia que não faziam tentativa para ocultar sua simpatia por Lutero. Ele era visitado por príncipes, condes, barões e outras pessoas de distinção, tanto leigas como eclesiásticas. "A salinha do doutor", escreveu Spalatin, "não podia conter todos os visitantes que se apresentavam." — Martyn. O povo contemplava-o como se fosse mais que humano. Mesmo os que não tinham fé em suas doutrinas, não podiam deixar de admirar aquela altiva integridade que o levou a afrontar a morte de preferência a violar a consciência.

       Fizeram-se ardentes esforços a fim de obter o consentimento de Lutero para uma transigência com Roma. Nobres e príncipes lembraram-lhe que, se persistisse em colocar seu próprio juízo contra o da igreja e dos concílios, seria logo banido do império e não teria então defesa. A este apelo Lutero respondeu: "O evangelho de Cristo não pode ser pregado sem dano. ... Por que, pois, deveria o temor ou apreensão do perigo separar-me do Senhor, e da divina Palavra, que, unicamente, é a verdade? Não! Entregaria antes meu corpo, meu sangue e minha vida." — D’Aubigné.
       De novo insistiu-se com ele para que se submetesse ao juízo do imperador, e então nada precisaria temer. "Consinto", disse ele em resposta, "de todo o meu coração, em que o imperador, os príncipes e mesmo o mais obscuro cristão, examinem e julguem os meus livros; mas, sob uma condição: que tomem a Palavra de Deus como norma. Os homens nada têm a fazer senão obedecer-lhe. Não façais violência à minha consciência, que está ligada e encadeada às Escrituras Sagradas." — D’Aubigné.
       A um outro apelo disse ele: "Consinto em renunciar ao salvo-conduto. Coloco minha pessoa e minha vida nas mãos do imperador, mas a Palavra de Deus — nunca!" — D’Aubigné. Declarou estar disposto a submeter-se à decisão de um concílio geral, mas unicamente sob a condição de que se exigisse do concílio decidir de acordo com as Escrituras. "No tocante à Palavra de Deus e à fé", acrescentou ele, "todo cristão é juiz tão bom como pode ser o próprio papa, embora apoiado por um milhão de concílios." — Martyn. Tanto amigos como adversários finalmente se convenceram de que afirmação seriam quaisquer outros esforços de reconciliação.
       Houvesse o reformador cedido num único ponto, e Satanás e suas hostes teriam ganho a vitória. Mas sua persistente firmeza foi o meio para a emancipação da igreja e o início de uma era nova e melhor. A influência deste único homem, que ousou pensar e agir por si mesmo em assuntos religiosos, deveria afetar a igreja e o mundo, não somente em seu próprio tempo mas em todas as gerações futuras. Sua firmeza e fidelidade fortaleceriam, até ao final do tempo, a todos os que passassem por experiência semelhante. O poder e majestade de Deus se mantiveram acima do conselho dos homens, acima da potente força de Satanás.

       Por autorização do imperador foi Lutero logo ordenado a voltar para casa, e sabia que este aviso seria imediatamente seguido de sua condenação. Nuvens ameaçadoras pairavam sobre seu caminho; mas, partindo de Worms, seu coração se encheu de alegria e louvor. "O próprio diabo", disse ele, "guardou a fortaleza do papa, mas Cristo fez nela uma larga brecha, e Satanás foi constrangido a confessar que o Senhor é mais poderoso do que ele." — D’Aubigné.
       Depois de sua partida, ainda desejoso de que sua firmeza não fosse mal-interpretada como sendo rebelião, Lutero escreveu ao imperador: "Deus, que é o pesquisador dos corações, é minha testemunha", disse ele, "de que estou pronto para, da maneira mais ardorosa, obedecer a vossa majestade, na honra e na desonra, na vida e na morte, e sem exceções, a não ser a Palavra de Deus, pela qual o homem vive. Em todas as preocupações da presente vida, minha fidelidade será inabalável, pois perder ou ganhar neste mundo é de nenhuma consequência para a salvação. Mas quando se acham envolvidos interesses eternos, Deus não quer que o homem se submeta ao homem; pois tal submissão em assuntos espirituais é verdadeiro culto, e este deve ser prestado unicamente ao Criador.” — D’Aubigné.
       Na viagem de volta de Worms, a recepção de Lutero foi mais lisonjeira mesmo do que na sua ida para ali. Eclesiásticos principescos davam as boas-vindas ao monge excomungado, e governadores civis honravam ao homem que o imperador denunciara. Insistiu-se com ele que pregasse e, não obstante a proibição imperial, de novo subiu ao púlpito. "Nunca me comprometi a acorrentar a Palavra de Deus", disse ele, "nem o farei." — Martyn. Não estivera ainda muito tempo ausente de Worms, quando os chefes coagiram o imperador a promulgar um edito contra ele. Nesse decreto Lutero foi denunciado como o "próprio Satanás sob a forma de homem e sob as vestes de monge." — D’Aubigné. Ordenou-se que, logo ao expirar o prazo de seu salvo-conduto, se adotassem medidas para deter a sua obra. Proibia-se a todas as pessoas abrigá-lo, dar-lhe comida ou bebida, ou por palavras ou atos, em público ou em particular, auxiliá-lo ou apoiá-lo. Deveria ser preso onde quer que o pudesse ser, e entregue às autoridades. Presos deveriam ser também seus adeptos, e confiscadas suas propriedades. Deveriam destruir-se seus escritos e, finalmente, todos os que ousassem agir contrariamente àquele decreto eram incluídos em sua condenação. O eleitor da Saxônia e os príncipes mais amigos de Lutero tinham-se retirado de Worms logo depois de sua partida, e o decreto do imperador recebeu a sanção da Dieta. Achavam-se agora jubilosos os romanistas. Consideravam selada a sorte da Reforma.

       Deus provera a Seu servo nesta hora de perigo um meio para escapar ao mesmo. Um olhar vigilante acompanhava os movimentos de Lutero e um coração verdadeiro e nobre decidira o seu livramento. Era claro que Roma não se satisfaria com coisa alguma senão sua morte; unicamente ocultando-se poderia ele ser preservado das garras do leão. Deus dera sabedoria a Frederico da Saxônia para idear um plano destinado a preservar o reformador. Com a cooperação de verdadeiros amigos, executou-se o propósito do eleitor, e Lutero foi, de maneira eficiente, oculto de seus amigos e inimigos. Em sua viagem de volta para casa, foi preso, separado de seus assistentes e precipitadamente transportado através da floresta para o castelo de Wartburgo, isolada fortaleza nas montanhas. Tanto o rapto como o esconderijo foram de tal maneira envoltos em mistério, que até o próprio Frederico, durante muito tempo, não soube para onde fora ele conduzido. Esta ignorância não deixou de ter seu desígnio; enquanto o eleitor nada soubesse do paradeiro de Lutero, nada poderia revelar. Convenceu-se de que o reformador estava em segurança e com isso se sentiu satisfeito.
       Passaram-se a primavera, o verão e o outono, e chegara o inverno, e Lutero ainda permanecia prisioneiro. Aleandro e seus partidários exultavam quando a luz do evangelho parecia prestes a extinguir-se. Mas, em vez disso, o reformador enchia sua lâmpada no repositório da verdade; e sua luz deveria resplandecer com maior brilho.
       Na proteção amiga de Wartburgo, Lutero durante algum tempo se regozijou em seu livramento do ardor e torvelinho da batalha. Mas não poderia por muito tempo encontrar satisfação no silêncio e repouso. Habituado a uma vida de atividade e acirrado conflito, mal suportava o permanecer inativo. Naqueles dias de solidão, surgia diante dele o estado da igreja, e exclamava em desespero: "Ai! ninguém há neste último tempo da ira do Senhor para ficar diante d'Ele como uma muralha e salvar Israel." — D’Aubigné. Novamente volvia os pensamentos para si mesmo e receava ser acusado de covardia por afastar-se da contenda. Acusava-se, então, de indolência e condescendência própria. No entanto, produzia diariamente mais do que parecia possível a um homem fazer. Sua pena nunca estava ociosa. Seus inimigos, conquanto se lisonjeassem de que ele estivesse em silêncio, espantavam-se e confundiam-se pela prova palpável de que ainda exercia atividade. Sem-número de folhetos, procedentes de sua pena, circulavam pela Alemanha toda. Também prestava importantíssimo serviço a seus patrícios, traduzindo o Novo Testamento para a língua alemã. De seu Patmos rochoso, continuou durante quase um ano inteiro a proclamar o evangelho e a repreender os pecados e erros do tempo.

       Não foi, porém, meramente para preservar Lutero da ira de seus inimigos, nem mesmo para proporcionar-lhe uma temporada de calma para esses importantes labores, que Deus retirara Seu servo do cenário da vida pública. Visavam-se resultados mais preciosos do que esses. Na solidão e obscuridade de seu retiro montesino, Lutero esteve afastado do apoio terrestre e excluído dos louvores humanos. Foi desta maneira salvo do orgulho e confiança em si próprio, tantas vezes determinados pelo êxito. Por sofrimentos e humilhação foi de novo preparado para andar em segurança na altura vertiginosa a que tão subitamente fora exaltado. Ao exultarem os homens na libertação que a verdade lhes traz, inclinam-se a engrandecer aqueles que Deus empregou para quebrar as cadeias do erro e superstição. Satanás procura desviar de Deus os pensamentos e afeições dos homens, e fixá-los nos fatores humanos; ele os leva a honrar o mero instrumento, e desconhecer a Mão que dirige os acontecimentos da Providência. Muitas vezes dirigentes religiosos que assim são louvados e reverenciados, perdem de vista sua dependência de Deus e são levados a confiar em si próprios. Em consequência, procuram governar o espírito e a consciência do povo que se dispõe a esperar deles a guia, em vez de esperá-la da Palavra de Deus. A obra de reforma é muitas vezes retardada por causa deste espírito da parte dos que a amparam. Deste perigo quis Deus guardar a causa da Reforma. Ele desejava que aquela obra recebesse não as características do homem, mas as de Deus. Os olhos dos homens tinham-se dirigido a Lutero como o expositor da verdade; ele foi removido para que todos os olhares pudessem dirigir-se ao sempiterno Autor da Verdade.

Texto extraído do Livro O GRANDE CONFLITO de Ellen White – "O PODER TRIUNFANTE DA VERDADE" - Capítulo 8 (versão brasileira). Pode comprar na CPB - Casa Publicadora Brasileira.
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