terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O BEM E O MAL TAMBÉM SE APRENDE.
                                                      Até na Quadra de Natal...


DIA  DE  NATAL














Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.


É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce, de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.


De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)


Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.


Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.


Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.


Cada menino abre um olhinho na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha salta da cama,
corre à cozinha mesmo em pijama.


Ah!!!!!!!!!!!!

Na branda macieza da matutina luz
aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.
Jesus, o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho de Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam
que caíam crivados de balas.


Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas alturas.


António Gedeão - Máquina de Fogo (1961), in Poesias Completas, 2ª ed., 1965


















O  NATAL  EM  QUE  FIQUEI  RICA

"Ser  pobre  e  satisfeito  é  ser  rico. E  bastante  rico!"
William Shakespeare

       Havia uma árvore naquele Natal. Não tão grande e frondosa como outras, mas estava pejada de enfeites e tesouros e resplandecia de luzes. Havia presentes, também. Alegremente embrulhados em papel vermelho ou verde, com etiquetas coloridas e fitas. Mas não tantos presentes como de costume. Eu já tinha reparado que a minha pilha de presentes era muito pequena.

       Nós não éramos pobres. Mas os tempos eram difíceis, os empregos escassos, o dinheiro à justa. A minha mãe e eu partilhávamos uma casa com a minha avó e com os meus tios. Naquele ano da Depressão, toda a gente espaçava refeições, levava sanduíches para o trabalho e ia a pé para poupar nos bilhetes de autocarro. Anos antes da Segunda Guerra Mundial, já vivíamos no dia-a-dia, como muitas outras famílias, o que então se iria ouvir como slogan: "Usa-o, aproveita-o ao máximo; faz com que funcione, ou passa sem ele."

       Havia poucas escolhas. Compreendia pois porque era tão pequeno o meu monte de presentes. Compreendia, mas sentia, ainda assim, uma ponta de pesar à mistura com um complexo de culpa. Sabia que não poderia haver surpresas empolgantes naquelas poucas caixas vistosamente embrulhadas. E sabia que uma delas tinha um livro. A minha mãe arranjava sempre um livro para mim. Mas nada de vestidos novos, camisolas ou um roupão acolchoado e quentinho. Nenhum dos miminhos tão desejados na altura do Natal…

       Havia uma caixa com o meu nome da parte da minha avó. Guardei-a para o fim. Talvez fosse uma camisola nova, talvez um vestido — um vestido azul. A minha avó e eu gostávamos ambas de lindos vestidos e de todas as tonalidades de azul. Soltando os devidos "Ohs!" e "Ahs!" ao ver a aromática barra de sabonete feito de mel, as luvas vermelhas, o já esperado livro (um novo da Nancy Drew!), rapidamente cheguei àquele último embrulho. Dei por mim a sentir uma centelha do entusiasmo do Natal… Era uma caixa bastante grande. Com vergonha de mim mesma por ser tão gananciosa, por esperar receber um vestido ou uma camisola (mas esperando na mesma!), abri a caixa.

       Meias! Só meias! Soquetes, meias altas, até mesmo um par daquelas meias horrorosas de algodão branco que estavam sempre a escorregar e se enrodilhavam em volta dos joelhos.

       Esperando que ninguém tivesse dado conta do desapontamento, peguei num dos quatro pares e agradeci à minha avó, com um grande sorriso. Ela também sorria. Não com o seu sorriso educado e distraído de "Sim, querida", mas com o seu sorriso feliz e radiante, de "Isto são coisas importantes para uma mulher!" Será que me esquecera de alguma coisa? Olhei de novo para a caixa no chão — nada, a não ser as meias. Só que agora eu conseguia ver que havia outro par por debaixo do que eu tinha pegado. Duas camadas de meias. E mais uma! Três camadas de meias!

       A sorrir de verdade, comecei a retirá-las da caixa. Meias cor-de-rosa, meias brancas, meias verdes, meias de todos os tons inimagináveis de azul. Toda a gente estava a olhar, rindo comigo, enquanto eu atirava as meias ao ar e as contava. Doze pares de meias!

       Levantei-me e dei um abraço tão apertado à minha avó que até nos doeu às duas. "Feliz Natal, menina Joan!" disse ela. "Agora, todos os dias, terás muitas escolhas a fazer. Estás rica, minha querida!" E era verdade. Naquele Natal e durante todo o ano, todas as manhãs, eu escolhia do meu elegante armário da roupa interior qual o par de meias a usar. E sentia-me rica. E ainda sinto!

       Mais tarde, a minha mãe disse-me que a minha avó tinha andado a esconder aquelas meias durante quase um ano — poupando todas as moedinhas, comprando um par de cada vez. Um dia, tendo visto um lindo par de meias azuis com as beiras elásticas bordadas à mão, ela pedira mesmo ao compreensivo vendedor para deixar um sinal a reservá-las durante três semanas.


Dentro daquela caixa estava embrulhado um ano de amor.
Foi um Natal que eu nunca esquecerei.
A prenda da minha avó mostrou-me como as pequenas coisas podem ser importantes.
E como o amor nos faz a todos imensamente ricos!

Joan Cinelli


Jack Canfield & Mark Victor Hansen
Chicken Soup for the Soul – Christmas Cheer
Chicken Soup for the Soul Publishing, LLC, 2008
(Tradução e adaptação)

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Caros leitores,

O Projecto intitulado Clube de Contadores de Histórias, nascido em 2006 na Escola Secundária Daniel Faria – Baltar, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa, não só em Portugal, mas também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a continuidade do referido clube, foi constituída uma equipa pedagógica, formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que tomarão a seu cargo a selecção, preparação e envio de uma história semanal por correio electrónico, tal como habitualmente tem vindo a ser feito.

Esperando que o projecto continue a merecer a melhor atenção por parte do público leitor, despede-se com os melhores cumprimentos,

A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

ac@contadoresdehistorias.com





ENTÃO É NATAL
(tradução brasileira)

Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez.
Então é Natal, a Festa Cristã do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom Natal, e um Ano Novo também, que seja feliz quem
souber o que é o bem.

Então é Natal, p'ro enfermo e p'ro são, p'ro rico e p'ro pobre, num só coração.
Então bom Natal, p'ro branco e p'ro negro, amarelo e vermelho, p'ra paz afinal.
Então bom Natal, e um Ano Novo também, que seja feliz quem
souber o que é o bem.






AFINAL  QUEM  É  O  ANIVERSARIANTE?...




Neste Natal ofereço a quem me visitar um atractivo Presente: o filme MÃOS TALENTOSAS - Ben Carson, a história de um dos maiores neuro-cirurgiões da actualidade a trabalhar nos EUA (Links 9I).
E podem ouvir mais alguns belos Cânticos de Natal nos Links N-10.


DESEJO A TODOS UM NATAL FELIZ E CHEIO DE AMOR,
COM JESUS! E. E.