quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Nº 3 ("Vivendo em Antecipação")

"Então Como Devemos Esperar?"
PACIENTE PERSEVERANÇA E A SEGUNDA VINDA


Tinha sido uma Semana de Oração emocionante num dos nossos colégios Adventistas. O pastor tinha pregado sobre os eventos do tempo do fim: Jesus voltaria em breve!

       Na realidade, tão em breve que alguns dos pais receberam chamadas telefónicas dos seus filhos nos seguintes termos:
       Filha: "Pai, Jesus vai voltar em breve. Os sinais da Sua vinda já se cumpriram. Está mesmo ao virar da esquina. Acho que devia desistir do meu curso e começar a bater às portas."
       Pai: "Estou muito feliz por estares a gostar desta Semana de Oração. Porque é que queres desistir de tudo agora?"
       Filha: "Mas, Pai, isto é urgente. Não podemos continuar como até aqui. Jesus vai voltar."
       Pai: "Estou tão emocionado por te ouvir a falar assim! No entanto, não conseguirás servir melhor Jesus quando terminares os teus estudos? Não podes arranjar formas criativas de partilhar Jesus - mesmo enquanto estudas?"

       Por vezes, temos dificuldade em esperar. "Quando ganharei o meu primeiro cheque de vencimento?", perguntam os alunos universitários quando chegam ao seu último ano. "Quando é que o Natal chega?", perguntam as crianças com impaciência. "Quando é que vou melhorar?", perguntam-se os que sofrem de uma doença crónica. "Paciência é uma virtude", diz um adágio, e as virtudes, ao que parece, estão fora de moda. Vivemos num mundo de gratificação instantânea.
       Abraão e Sara tiveram de esperar - 25 anos, para ser exato (Génesis 12:4; 21:5). A espera nem sempre foi fácil. Na realidade, o nascimento de Ismael, 11 anos depois da promessa inicial de Deus, parece ter sido um desvio que causou muita dor a todos os envolvidos. No entanto, Abraão e Sara esperaram e voltaram a esperar, e continuaram a instalar-se na terra que Deus tinha prometido dar-lhes. Tal como muitos outros que se seguiram, viveram pela fé (Hebreus 11:8-12) e confiaram que Deus cumprisse.
       E Ele cumpriu. E voltará a fazê-lo naquele grande dia, quando finalmente aparecer nas nuvens dos céus. Apocalipse 14:12 fala-nos das características do povo de Deus dos últimos dias. Sabemos da fé de Jesus e da guarda dos mandamentos. Lutamos, contudo, com a "paciente perseverança" (versículo 12; cf. Apocalipse 13:10) que é parte do núcleo essencial deste grupo. É um grupo de pessoas fiel; compreende os prazos de Deus para o tempo do fim; crê no dom profético dado por Deus; contudo, o traço de caráter que é mais urgentemente necessário é a paciente perseverança.
       Em Apocalipse 13:10, a paciência e a perseverança estão intimamente ligadas à fé. Aqueles que distinguem o mal e resistem aos encantos da besta (apresentada no Apocalipse) e das suas tomadas de posição, são pacientes e perseverantes. Não se comprometerão; contudo, também não se esconderão em mosteiros e em regiões selvagens remotas. Solidamente plantados nas cidades e nos caminhos deste mundo, representam as mãos e os pés de Jesus e estão empenhados em servir "os pequeninos irmãos" (Mateus 25:40).

A ESPERA DO TEMPO DO FIM
       No Seu sermão sobre o tempo do fim, Jesus inclui uma história que nos faz pensar. Descrevendo uma cena de julgamento real, coloca um grupo de ovelhas à direita e um grupo de bodes à esquerda no salão do trono real (cf. Mateus 25:31-46). É claro que Jesus não queria falar sobre criação de gado ou sobre as características das ovelhas e dos bodes. Na história de Jesus, o Rei, falando para as ovelhas à Sua direita, louva-as por O terem alimentado, quando estava com fome; darem-Lhe água fresca, quando tinha tido sede; visitarem-n'O; vestirem-n'O; convidarem-n'O.
Jesus conta a história com tal mestria que, como leitores, quase conseguimos ver o ar comprometido no rosto dos justos. "Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer?" (v. 37), replicam. Então o Rei responderá: "Quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste" (v. 40).
       A espera do tempo do fim é uma espera ativa. Envolve servir os necessitados e associar-se com os rejeitados. Convoca-nos para sairmos da nossa zona de conforto e para envolvermo-nos com aqueles com quem, normalmente, não nos envolveríamos. Quer seja num centro de influência numa pobre e secular cidade do interior ou numa pequena e mal equipada clínica na África rural; quer seja na sala da direção de uma sofisticada instituição educacional que oferece Doutoramentos e Mestrados, ou numa vila do interior, Deus quer que o Seu povo mostre ao mundo o que significa realmente esperar pela Sua vinda.
       "Estamos aguardando e vigiando a grande e terrível cena que encerrará a história da Terra", escreve Ellen White. "Mas não devemos simplesmente esperar; devemos estar vigilantemente trabalhando com relação a este solene acontecimento. A Igreja viva de Deus estará aguardando, vigiando e trabalhando. Ninguém deve ficar numa posição neutra. Todos devem representar Cristo num esforço ativo e sincero para salvar as almas que perecem."1
       Aqui está outro elemento da paciente perseverança do tempo do fim: Esperar pela vinda do Mestre para nos levar para o lar não significa estar dependente de sinos de alarme. As pessoas à nossa volta não necessitam de um entusiasmo febril e de rumores sobre conspirações que as deixem de olhos arregalados. As Escrituras confirmam a existência de poderes satânicos prontos a enganar - até mesmo os eleitos (Mateus 24:24). A perseguição, a informação enganosa, a distorção, o fanatismo e a manipulação são - e sempre foram - ferramentas disponíveis na caixa de ferramentas do arqui-inimigo de Deus.
       No entanto, o foco de Jesus nos Seus sermões sobre o tempo do fim está no serviço e na missão. "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim" (v. 14). Quão encorajador é saber que Jesus não pode ser surpreendido.

PLANTANDO UM JARDIM
       Todos os dias, o condutor de autocarro tinha de esperar sete minutos no fim da sua rota na parte feia da cidade. Aguardando para recomeçar o seu turno, reparou num lote de terreno devoluto, cheio de lixo. Havia sacos de plástico e sucata espalhados por todo o lado. Dia-a-dia o condutor de autocarro observava aquele lugar devoluto. Então, um dia tomou uma decisão. Alguma coisa tinha de ser feita acerca daquela vista tão feia. Saiu do seu autocarro e começou a encher um grande saco com o lixo. Sete minutos mais tarde, estava de novo no seu caminho. Isto tornou-se na sua rotina diária. Ele estacionava, saía do autocarro e começava a limpar.
       As pessoas da área notaram a mudança. Quando todo o lixo e sucata tinham sido tirados, o condutor de autocarro trouxe sementes de flores e sacos de terra para o lote. Começou a plantar um jardim. As pessoas que leram a notícia no jornal começaram a apanhar o autocarro até à última paragem. Algumas ajudavam o condutor de autocarro enquanto plantava e cuidava do seu jardim. Outras ficavam apenas a olhar e a desfrutar da beleza da vista. Sete minutos, todos os dias, foram suficientes para mudar e inspirar toda a comunidade.
       A espera pode ser desconcertante e desanimadora; ela desafia-nos até ao cerne da nossa alma.
       Contudo, no meio da nossa espera, Deus deseja dar-nos a paciente perseverança dos Seus santos do tempo do fim. Enquanto esperamos, somos chamados a examinar, silenciosamente, o nosso coração e a trabalhar. Sim, Jesus voltará em breve. Sim, Ele está à procura de pessoas com o coração e mente totalmente empenhados. Mas, enquanto esperamos, vamos servi-l'O onde quer que estejamos - com todo o nosso coração, a nossa alma e a nossa força (Deuteronómio 6:5).

       1. Ellen G. White, Testemunhos para Ministros, p. 163.

Questões Para REFLETIR E PARTILHAR

1. Há mais de 170 anos que pregamos sobre a volta de Jesus. O que podemos aprender com os muitos personagens bíblicos que também tiveram de esperar?
2. Que elemento do conceito bíblico de paciente perseverança é um desafio maior para si? Porquê?
3. Onde quer que viva, como pode ser, na prática, as mãos e os pés de Jesus?
Revista Adventista, Especial, Setembro 2015 - 7 Artigos nos meus 2 Blogs, de 23 a 26.12.2015