John McKay, o grande treinador de futebol da Universidade do sul da Califórnia, foi recentemente entevistado na televisão, quando se falou do talento desportivo do seu filho. John Júnior foi um jogador bem sucedido na equipa do pai. O treinador McKay foi interrogado sobre o orgulho que devia sentir pelas realizações do seu filho no relvado. A sua resposta foi muito impressionante:
"Sim, estou satisfeito que o John tivesse uma boa temporada no ano passado. Ele joga bem e eu estou orgulhoso dele. Mas também me sentiria orgulhoso dele se nunca tivesse jogado."
O treinador McKay estava, realmente, a dizer que o talento de John para o futebol estava sendo reconhecido e apreciado, mas o seu valor humano não dependia da sua capacidade de jogar. Assim, o seu filho não perderia o respeito próprio se, na próxima temporada, tivesse fracasso e desapontamento. O lugar de John no coração do pai era seguro, independentemente da sua actuação.
Mas, ao contrário, o valor humano na nossa sociedade é cuidadosamente reservado para aqueles que atendem a certas especificações rígidas. Pessoas bonitas nascem com ele; aquelas que são altamente inteligentes também encontram aprovação; os astros dos desportos geralmente são respeitados.
Mas ninguém é considerado valioso só porque existe! A aceitação social é concedida com bastante cuidado na certeza de excluir aqueles que não estão qualificados.
Creiam ou não, uma criança de 5 anos de idade é capaz de 'sentir' a sua própria falta de valor neste sistema. A maioria dos nossos pequeninos observa desde muito cedo que algumas pessoas têm valor e outras não; também sabem quando são perdedores! De muitas maneiras, nós os pais ensinamos-lhes inadvertidamente este sistema, começando na infância, a colocar uma etiqueta com preço no valor humano. O resultado é um sentimento de inferioridade e insuficiência que se alastra e, provavelmente, incluíu você e eu.
OS ÚNICOS VALORES VERDADEIROS
... Tendo rejeitado a beleza física, a inteligência e o materialismo como determinantes do valor humano, temos agora de decidir o que colocar no seu lugar. Já examinou conscientemente os valores que está a ensinar aos seus filhos? Está a seguir um plano bem traçado de acção em benefício deles, instilando-lhes atitudes e conceitos que são dignos da dedicação deles? O espírito humano precisa de algo significativo para crer e a responsabilidade instrutiva é demasiado importante para ser manejada a esmo.
Creio que a contribuição mais valiosa que um pai ou mãe pode dar ao filho é instilar nele uma fé genuína em Deus. Que maior satisfação para o ego do que saber que o Criador do Universo é o seu Amigo Pessoal? Que Ele me dá mais valor do que tudo o que existe no mundo, que Ele entende os meus temores e as minhas ansiedades, que Ele me busca com amor sem medida quando ninguém mais se importa, que o Seu Filho único realmente deu a Sua vida por mim, que Ele pode transformar o meu passivo em activo e o meu vazio em plenitude, que há uma vida melhor depois desta, na qual os actuais defeitos e imperfeições serão eliminados - onde o sofrimento e a dor não passarão de lembranças esmaecidas!
Que bela filosofia para 'revestir' o seu filhinho! Que mensagem fantástica de esperança e coragem para o adolescente magoado que foi esmagado pelas circunstâncias da vida. É amor-próprio no mais alto grau, não dependendo de caprichos do nascimento ou aprovação social, ou do culto da supercriança, mas de um decreto divino. Se isto é o ópio do povo, como disse Karl Marx, então arrisquei toda a minha vida na validade da Sua promessa!
Por que destaco o papel da fé cristã tão fortemente com referência ao amor-próprio e dignidade dos nossos filhos? Porque esta crença oferece o único caminho da vida que nos pode libertar da tirania do ego. Não se enganem. O ego humano é um ditador de sangue frio. Quando fica insatisfeito, como no caso de Lee Harvey Oswald e muitos outros contemporâneos seus, pode paralisar a sua vítima, destruindo qualquer vestígio de confiança e iniciativa. Quando é mimado, por outro lado, a sua sede e fome simplesmente tornam-se insaciáveis. Ao contrário do apetite pela comida, água, sexo e outras exigências fisiológicas do corpo, a necessidade de amor-próprio torna-se mais exigente quando gratificada.
Os grandes militares do mundo, por exemplo, respeitados e enaltecidos por milhões de soldados e civis, não se tornaram mais humildes e mais modestos quando atingiram a fama e o poder. O General Douglas MacArthur, o General George Patton, o Marechal-de-Campo B. L. Montgomery, o General Charles DeGaulle e outros líderes militares aliados da Segunda Guerra Mundial mui pouco tinham de humildade e espírito de sacrifício. Do mesmo modo, reis e rainhas, políticos, campeões de atletismo e médicos famosos, todos tiveram a tendência de se tornar mais egoístas na medida em que o seu status social foi subindo. Na verdade, tenho observado que quanto mais exaltada é a pessoa, mais propensa ela fica a revelar as suas exigências infantis.
Os dois homicidas mais sangrentos de todos os tempos, Joseph Stalin e Adolph Hitler, embriagaram-se na gratificação dos seus próprios egos. Conforme o poder de Stalin crescia na Rússia, exigia mais e mais subserviência e adoração dos seus seguidores. Espalhou estátuas, retratos e monumentos dele por todo o país e deu o seu nome a inúmeras ruas, marcos e até mesmo cidades. Conforme o seu orgulho foi crescendo, também a sua brutalidade. Qualquer um que desafiasse a sua opinião mesmo sobre questões triviais logo desaparecia da face da terra. E num dos mais chocantes exemplos de auto-engrandecimento jamais demonstrado, assassinou muitos cidadãos da localidade onde passou a infância, para poder reescrever a sua história pessoal sem testemunhas contraditórias! Vocês são capazes de imaginar a cena de um professor ancião diante do pelotão de fuzilamento pelo inofensivo facto de se lembrar do seu antigo aluno? Diz-se que Stalin executou cerca de dez a trinta milhões de pessoas a sangue frio, muitas das quais morreram por nada mais substancial do que a exigência incontrolável do ego de Stalin!
A história de Adolph Hitler é mais conhecida, mas não menos horrorosa. Temos amplos motivos, para crer que a exterminação impiedosa de seis milhões de judeus resultou da sua crença em que essa raça contribuiu para o seu próprio complexo de inferioridade. Verdadeiramente, o ego do homem é um tirano assustador quando reina irrestritamente.
Repetimos, os princípios do Cristianismo podem libertar-nos dessa tirania egoísta. Eles focalizam os outros e não nós mesmos, enquanto garantem o valor humano numa escala de valores totalmente diferente da escala da sociedade. Jesus Cristo nunca disse que as pessoas bonitas levavam vantagem sobre as demais; Ele nunca prometeu favores especiais para os intelectuais; Ele não foi parcial com os ricos; Ele não se impressiona com o sangue azul. Na verdade, expressou o Seu desprezo por estes e outros valores sociais no capítulo 16 de Lucas, versículo 15 (Versão Revista e Actualizada):
Por outras palavras, Deus realmente odeia as coisas que nós valorizamos mais, porque ele vê a loucura da nossa adoração por aquilo que podemos ter por um período tão breve.
Mas o que Deus valoriza? Não podemos substituir o nosso sistema pelo d'Ele se a Bíblia fornece a chave para o sistema de valores divinos para a humanidade? A meu ver, é composto por seis princípios importantissímos:
1) Devoção a Deus
2) Amor à Humanidade
3) Respeito à Autoridade
4) Obediência aos Mandamentos Divinos
5) Autodisciplina e Autocontrole
6) Humildade de Espírito.
Estes seis conceitos vieram da mão do próprio Criador e são absolutamente válidos e relevantes para a nossa vida. Quando aplicados, estimulam a criança a procurar as oportunidades neste mundo, e não a obrigam a esconder-se em isolamento solitário. Não levam à neurose e desespero, como fazem os valores humanos, mas à saúde física e emocional. Não é isto que Isaías 54:13 quer dizer, quando declara: «Todos os teus habitantes serão Meus discípulos, e viverão em paz total» (Versão Revista e Actualizada)?
O amor-próprio saudável que Cristo ensinou, envolve, portanto, não a arrogância e a presunção, nem a inferioridade e a indignidade. É uma humilde reverência diante de Deus e de cada membro da Sua família humana. Não devemos considerar os nossos próximos como melhores ou piores do que nós mesmos; antes, temos de amá-los como a nós mesmos e essa prescrição coloca toda a questão do amor-próprio na sua devida perspectiva.
Esconde-Esconde - Editora Vida
James Dobson
Psicólogo
(Leia mais em Leituras para a Vida - Nem de menos...Nem de mais! - 01.10.2010)