
"Sim, estou satisfeito que o John tivesse uma boa temporada no ano passado. Ele joga bem e eu estou orgulhoso dele. Mas também me sentiria orgulhoso dele se nunca tivesse jogado."
O treinador McKay estava, realmente, a dizer que o talento de John para o futebol estava sendo reconhecido e apreciado, mas o seu valor humano não dependia da sua capacidade de jogar. Assim, o seu filho não perderia o respeito próprio se, na próxima temporada, tivesse fracasso e desapontamento. O lugar de John no coração do pai era seguro, independentemente da sua actuação.
Mas, ao contrário, o valor humano na nossa sociedade é cuidadosamente reservado para aqueles que atendem a certas especificações rígidas. Pessoas bonitas nascem com ele; aquelas que são altamente inteligentes também encontram aprovação; os astros dos desportos geralmente são respeitados.
Mas ninguém é considerado valioso só porque existe! A aceitação social é concedida com bastante cuidado na certeza de excluir aqueles que não estão qualificados.
Creiam ou não, uma criança de 5 anos de idade é capaz de 'sentir' a sua própria falta de valor neste sistema. A maioria dos nossos pequeninos observa desde muito cedo que algumas pessoas têm valor e outras não; também sabem quando são perdedores! De muitas maneiras, nós os pais ensinamos-lhes inadvertidamente este sistema, começando na infância, a colocar uma etiqueta com preço no valor humano. O resultado é um sentimento de inferioridade e insuficiência que se alastra e, provavelmente, incluíu você e eu.
OS ÚNICOS VALORES VERDADEIROS
... Tendo rejeitado a beleza física, a inteligência e o materialismo como determinantes do valor humano, temos agora de decidir o que colocar no seu lugar. Já examinou conscientemente os valores que está a ensinar aos seus filhos? Está a seguir um plano bem traçado de acção em benefício deles, instilando-lhes atitudes e conceitos que são dignos da dedicação deles? O espírito humano precisa de algo significativo para crer e a responsabilidade instrutiva é demasiado importante para ser manejada a esmo.
Creio que a contribuição mais valiosa que um pai ou mãe pode dar ao filho é instilar nele uma fé genuína em Deus. Que maior satisfação para o ego do que saber que o Criador do Universo é o seu Amigo Pessoal? Que Ele me dá mais valor do que tudo o que existe no mundo, que Ele entende os meus temores e as minhas ansiedades, que Ele me busca com amor sem medida quando ninguém mais se importa, que o Seu Filho único realmente deu a Sua vida por mim, que Ele pode transformar o meu passivo em activo e o meu vazio em plenitude, que há uma vida melhor depois desta, na qual os actuais defeitos e imperfeições serão eliminados - onde o sofrimento e a dor não passarão de lembranças esmaecidas!
Que bela filosofia para 'revestir' o seu filhinho! Que mensagem fantástica de esperança e coragem para o adolescente magoado que foi esmagado pelas circunstâncias da vida. É amor-próprio no mais alto grau, não dependendo de caprichos do nascimento ou aprovação social, ou do culto da supercriança, mas de um decreto divino. Se isto é o ópio do povo, como disse Karl Marx, então arrisquei toda a minha vida na validade da Sua promessa!
Por que destaco o papel da fé cristã tão fortemente com referência ao amor-próprio e dignidade dos nossos filhos? Porque esta crença oferece o único caminho da vida que nos pode libertar da tirania do ego. Não se enganem. O ego humano é um ditador de sangue frio. Quando fica insatisfeito, como no caso de Lee Harvey Oswald e muitos outros contemporâneos seus, pode paralisar a sua vítima, destruindo qualquer vestígio de confiança e iniciativa. Quando é mimado, por outro lado, a sua sede e fome simplesmente tornam-se insaciáveis. Ao contrário do apetite pela comida, água, sexo e outras exigências fisiológicas do corpo, a necessidade de amor-próprio torna-se mais exigente quando gratificada.
Os grandes militares do mundo, por exemplo, respeitados e enaltecidos por milhões de soldados e civis, não se tornaram mais humildes e mais modestos quando atingiram a fama e o poder. O General Douglas MacArthur, o General George Patton, o Marechal-de-Campo B. L. Montgomery, o General Charles DeGaulle e outros líderes militares aliados da Segunda Guerra Mundial mui pouco tinham de humildade e espírito de sacrifício. Do mesmo modo, reis e rainhas, políticos, campeões de atletismo e médicos famosos, todos tiveram a tendência de se tornar mais egoístas na medida em que o seu status social foi subindo. Na verdade, tenho observado que quanto mais exaltada é a pessoa, mais propensa ela fica a revelar as suas exigências infantis.
Os dois homicidas mais sangrentos de todos os tempos, Joseph Stalin e Adolph Hitler, embriagaram-se na gratificação dos seus próprios egos. Conforme o poder de Stalin crescia na Rússia, exigia mais e mais subserviência e adoração dos seus seguidores. Espalhou estátuas, retratos e monumentos dele por todo o país e deu o seu nome a inúmeras ruas, marcos e até mesmo cidades. Conforme o seu orgulho foi crescendo, também a sua brutalidade. Qualquer um que desafiasse a sua opinião mesmo sobre questões triviais logo desaparecia da face da terra. E num dos mais chocantes exemplos de auto-engrandecimento jamais demonstrado, assassinou muitos cidadãos da localidade onde passou a infância, para poder reescrever a sua história pessoal sem testemunhas contraditórias! Vocês são capazes de imaginar a cena de um professor ancião diante do pelotão de fuzilamento pelo inofensivo facto de se lembrar do seu antigo aluno? Diz-se que Stalin executou cerca de dez a trinta milhões de pessoas a sangue frio, muitas das quais morreram por nada mais substancial do que a exigência incontrolável do ego de Stalin!
A história de Adolph Hitler é mais conhecida, mas não menos horrorosa. Temos amplos motivos, para crer que a exterminação impiedosa de seis milhões de judeus resultou da sua crença em que essa raça contribuiu para o seu próprio complexo de inferioridade. Verdadeiramente, o ego do homem é um tirano assustador quando reina irrestritamente.
Repetimos, os princípios do Cristianismo podem libertar-nos dessa tirania egoísta. Eles focalizam os outros e não nós mesmos, enquanto garantem o valor humano numa escala de valores totalmente diferente da escala da sociedade. Jesus Cristo nunca disse que as pessoas bonitas levavam vantagem sobre as demais; Ele nunca prometeu favores especiais para os intelectuais; Ele não foi parcial com os ricos; Ele não se impressiona com o sangue azul. Na verdade, expressou o Seu desprezo por estes e outros valores sociais no capítulo 16 de Lucas, versículo 15 (Versão Revista e Actualizada):
Por outras palavras, Deus realmente odeia as coisas que nós valorizamos mais, porque ele vê a loucura da nossa adoração por aquilo que podemos ter por um período tão breve.
Mas o que Deus valoriza? Não podemos substituir o nosso sistema pelo d'Ele se a Bíblia fornece a chave para o sistema de valores divinos para a humanidade? A meu ver, é composto por seis princípios importantissímos:
1) Devoção a Deus
2) Amor à Humanidade
3) Respeito à Autoridade
4) Obediência aos Mandamentos Divinos
5) Autodisciplina e Autocontrole
6) Humildade de Espírito.
Estes seis conceitos vieram da mão do próprio Criador e são absolutamente válidos e relevantes para a nossa vida. Quando aplicados, estimulam a criança a procurar as oportunidades neste mundo, e não a obrigam a esconder-se em isolamento solitário. Não levam à neurose e desespero, como fazem os valores humanos, mas à saúde física e emocional. Não é isto que Isaías 54:13 quer dizer, quando declara: «Todos os teus habitantes serão Meus discípulos, e viverão em paz total» (Versão Revista e Actualizada)?
O amor-próprio saudável que Cristo ensinou, envolve, portanto, não a arrogância e a presunção, nem a inferioridade e a indignidade. É uma humilde reverência diante de Deus e de cada membro da Sua família humana. Não devemos considerar os nossos próximos como melhores ou piores do que nós mesmos; antes, temos de amá-los como a nós mesmos e essa prescrição coloca toda a questão do amor-próprio na sua devida perspectiva.
Esconde-Esconde - Editora Vida
James Dobson
Psicólogo
(Leia mais em Leituras para a Vida - Nem de menos...Nem de mais! - 01.10.2010)