sexta-feira, 6 de agosto de 2010
TEMPO SÓ PARA A MAMÃ
Tudo o que eu queria esta manhã era uma meia hora sozinha, trinta minutos de paz e silêncio para preservar a minha sanidade. Nada de mamã-faz-isto, mamã-preciso-daquilo, mamã-ele-bateu-me, mamã-entornei-sumo-no-sofá. Apenas eu, um banho quente de espuma e nada mais.
Eu não devia sonhar tão alto.
Depois de enviar os dois mais velhos para a escola, pus o menor sentado à frente da TV e disse:
- Querido, ouve com atenção. A tua mamã vai explodir. Ela está perdendo a cabeça. Está à beira de um ataque de nervos. Tudo isto por ter filhos. Estás a entender-me?
Ele acenou vagamente enquanto cantava: - O Barney é um dinossauro na nossa imaginação...
- Está bem. Se tu quiseres ser agora um garotinho bonzinho, vais ficar aqui sentado a assistir ao Barney enquanto a mamã toma um banho delicioso, quente, pacífico, relaxante. Não quero que me perturbes. Quero que me deixes sozinha durante trinta minutos. Não te quero ver ou ouvir. Certo?
Aceno.
- "Bom dia, meninos e meninas..." – ouvi o apresentador dizer na televisão. Fui para a casa de banho com os dedos cruzados. Fiquei olhando a água a encher a banheira. Vi o espelho e a janela ficarem cobertos de vapor. Observei a água a tornar-se azul com os sais de banho. Entrei.
Ouvi uma batida na porta.
- Mamã! Mamã? Estás aí, mamã?
Aprendi há muito tempo que ignorar os meus filhos não faz com que se vão embora.
- Sim, estou aqui. O que queres?
Houve uma longa pausa, enquanto ele tentava decidir o que queria.
- Olha, posso comer alguma coisa?
- Tu acabaste de tomar o pequeno almoço. Não podes esperar um pouco?
- Não. Estou morrendo de fome. Preciso de comer agora.
- Está bem. Come uma caixa de passas.
Ouvi os passos dele a ir para a cozinha, ouvi enquanto puxava cadeiras e banquinhos, tentando chegar à prateleira das passas, senti o chão vibrar quando pulou da bancada da cozinha, e ouvi - o a correr de volta para a sala da TV. "Oi, Susie! Tu sabes de que cor é
a relva...?"
Toc, toc, toc.
- Mamã? Mamã? Estás aí, mamã?
Suspiro.
– Sim, ainda estou aqui. O que queres agora?
Pausa.
– Olha,... eu também preciso de tomar banho.
- Queridinho, tu não podes esperar até que eu termine?
A porta abriu-se levemente.
- Não. Preciso de tomar banho agora. Estou sujo.
- Sujo! Tu estás sempre sujo! Desde quando te incomodas com isso?
A porta abriu-se toda.
- Eu preciso mesmo de tomar banho, mamã.
- Não, não precisas. Vai-te embora.
Ele ficou de pé no meio da casa de banho e começou a tirar o pijama.
- Vou entrar contigo e tomar banho também.
- Não! Tu não vais entrar comigo e tomar banho! Eu quero tomar banho sozinha! Quero que te vás embora e me deixes em paz!
Comecei a parecer o garotinho de três anos com quem argumentava.
Ele subiu na beira da banheira, balançando-se cuidadosamente, e disse:
- Vou entrar contigo, está bem, mamã?
Comecei a berrar.
– Não! Não está bem. Quero tomar banho sozinha! Não quero dividir! Não quero ninguém comigo!
Ele pensou um pouco e disse:
- Tudo bem. Vou só sentar-me aqui e tu podes ler-me um livro. Não vou entrar, mamã, até que acabes.
Deu-me um sorriso charmoso, de derreter corações.
Passei então a minha manhã-sozinha lendo: "Um peixinho, dois peixinhos, ..." para um garotinho nu sentado na borda da banheira, com o queixo apoiado nos joelhos, os braços em volta das pernas curvadas, um sorriso leve nos lábios.
Por que lutar? Não demora muito até que eu tenha todo o tempo-a-sós que quiser. E irei então provavelmente sentir falta de não ter mais tempo-juntos.
Crystal Kirgiss
Histórias para o Coração da Mãe (Adaptado)