quarta-feira, 24 de junho de 2015

FESTA  DE  SÃO  JOÃO  BAPTISTA



         No Porto, na noite de 23 para 24 de Junho, toda a cidade se envolve em homenagem a São João Baptista. Festa cíclica, de cariz nitidamente pagão e popular, que dura toda a noite em alegre e fraterno convívio colectivo. Assenta fundamentalmente em "sortes" amorosas, encantamentos e divinações que se relacionam, por um lado, com o casamento, a saúde e a felicidade, por outro, com os antigos cultos pagãos do Sol e do Fogo. Reportam-se ainda às virtudes das ervas bentas, ao orvalho, às fogueiras, à água dos rios, do mar e das fontes.
         A primeira alusão a estes festejos populares vem do séc. XIV, pelo cronista Fernão Lopes. Em 1851, os jornais falam de 25 mil pessoas nos Festejos São Joaninos. Mas foi só no séc. XX, em 1911, que o 24 de Junho passou a ser feriado municipal na Invicta. Nas ruas, os foliões 'atacavam-se' com o alho-porro (reminiscências de antigos cultos fálicos) e ramos de erva-cidreira. Agora, 'brindam-se' com martelos de plástico. Compram manjerico, comem sardinha assada e caldo-verde. Fazem subir balões de papel de várias cores que passeiam no ar como sóis iluminados (resquícios do culto do Sol).
         Tudo começa na Ribeira; depois do fogo-de-artifício nascido de barcaças no rio Douro, a festa espalha-se pela cidade, de bairro em bairro, de freguesia em freguesia. São as Cascatas São Joaninas, com a imagem do santo com o carneirinho num altar, são os grupos de amigos (as Rusgas), as tasquinhas, os bailaricos e o saltar às fogueiras que têm origem e substituem as festas pagãs do solstício. A farra só termina ao nascer do Sol com um banho de mar, na Foz do Douro. No dia do padroeiro, o manjar tradicional é anho ou cabrito assado com batatas e arroz no forno.



         Ora, toda esta festa pretende homenagear São João Baptista, também designado por São João Degolado. Na origem do seu martírio, esteve uma mulher chamada Salomé (segundo o historiador Flávio Josefo), filha de Herodias e sobrinha do tetrarca da Galileia, Herodes Antipas. Este repudiara a mulher legítima e passara a viver com Herodias, sua cunhada. Viviam um idílio só interrompido pela voz de um homem estranho, João.
         Vindo do deserto, João Baptista (porque baptizava no Rio Jordão) condenava o incesto. Herodes vivia torturado entre o prazer e o dever. Herodias odiava João e aproveitou a melhor ocasião para o fazer desaparecer - a festa de aniversário do cunhado-marido. O banquete para os nobres convidados foi animado por bailarinas núbias e egípcias, ao som de alaúdes e de flautas. De repente, diz a tradição, para surpresa de todos, aparece uma bailarina desconhecida acompanhada de escravas. Era Salomé. Ela dança e usa o dom da sedução e o erotismo para conseguir os seus intentos. Herodes, louco de desejo, pede que Salomé dance mais uma vez que ele a recompensará até mesmo com metade dos seus reinos. Então, diz o texto bíblico, ela pede a cabeça de João Baptista numa bandeja de prata. Herodes fica perturbado, mas cede. Tem de cumprir a palavra dada perante tantas testemunhas.

         Um pouco mais tarde, a cabeça de João Baptista é trazida à presença de Salomé. A partir daquele momento, João Baptista é um mártir. É evocado no dia do seu nascimento, 24 de Junho, ou a 29 de Agosto, dia em que, de acordo com a tradição, foi degolado.

         Este é mais um exemplo de como o cristianismo, no decorrer dos séculos, se deixou invadir por tradições, festas e práticas pagãs, tentando cristianizá-las através de um sincretismo contínuo e dinâmico. Todavia, nos Evangelhos, João teve a missão de preparar e anunciar a chegada do Messias Salvador, Jesus Cristo. Teve a honra e o privilégio de O batizar. Teve o dever e o entusiasmo de admoestar: "Arrependam-se do mal, porque o Reino dos Céus está próximo!" (Mat. 3:2) O grito-clamor de João Baptista ecoa ainda neste séc. XXI, porque o mesmo Messias está de regresso!!!

Ezequiel Quintino, Teólogo, Pastor e Jornalista, no seu livro Pensar Faz Bem, Novembro de 2010, textos do seu programa da Rádio Clube de Sintra, hoje RCS, Links 1R.

A IGREJA MAIS ANTIGA

Segundo uma das melhores definições "a Igreja" é uma instituição fundada por Deus, composta de almas convertidas do pecado, com o fim de adorar a Deus, e de viver vidas santas sobre a Terra na prática do amor ao próximo.
Qual será, então, a Igreja mais antiga? A Católica Romana afirma ser ela, declarando-se ao mesmo tempo a única, a verdadeira Igreja de Cristo. Segundo ela, as Igrejas Protestantes apenas nasceram com a Reforma no século XVI.

IGREJA ANTIGA

Pode, contudo, a Igreja Romana provar a sua asserção? Pode demonstrar que não existia outra, antes dela, ainda mais antiga? Claro que não. O que conseguirá é demonstrar ser uma Igreja antiga, facto que ninguém contesta.
Como não há testemunhas vivas do seu nascimento, temos forçosamente de procurar o testemunho dos documentos existentes, entre os quais as Escrituras Sagradas do Novo Testamento são supremas, tanto no que diz respeito à sua autoridade, como à sua contemporaneidade.
Um católico romano objectará que a Igreja não se julga pelo Novo Testamento, ao qual ela é superior em virtude de existir antes desse livro ser escrito, e pelo mesmo motivo as suas tradições e ensinos têm direito à primeira consideração.
Se se tratasse disso, e a Igreja Romana fosse realmente mais velha que o Novo Testamento, esperar-se-ia que tal Igreja se mencionasse nas suas páginas. É assim que se escreve toda a história e biografia, isto é, após haverem acontecido os factos relatados.
Portanto, visto que as Escrituras constituem uma história verdadeira e contemporânea dos começos da Igreja de Cristo, sendo também uma revelação da parte do Senhor Jesus à Sua Igreja (Seu representante na Terra), era de esperar que o Senhor não só Se dirigisse à mesma, mas que, nas epístolas, Se ocupasse largamente com ela, dando instruções e explicações acerca do seu proceder, ordem, modo de viver, etc.
É precisamente isto que o Senhor faz no Seu Testamento; porém, quando a Igreja, a quem Ele se dirige e instrui, e a qual Ele descreve nestas Escrituras, é comparada com a Igreja Católica Apostólica Romana, que agora se apresenta na Terra como Sua Noiva, a mais antiga e única Igreja de Cristo, o facto é que não se encontram sinais de identidade, mas sim um contraste dos mais salientes!
Qualquer pessoa dotada de inteligência normal é competente para fazer essa comparação. A história apresenta-nos uma Igreja Romana mostrando pompas, riquezas que não se podem computar, e poder secular rivalizando com o dos reis e governos, sobre os quais ela até reclamou soberania; uma organização que usa de maior influência política, às vezes, que qualquer outra.

IGREJA HUMILDE

No Novo Testamento o Senhor Jesus apresenta-nos a Sua Igreja, já existente na Terra, como um grémio humilde, manso, sofrendo perseguições sem procurar vingar-se, e partilhando do mesmo espírito que Ele manisfestara quando andava no mundo - um pequeno rebanho que é admoestado e acautelado em linguagem fortíssima contra toda a união com o mundo, contra a riqueza e ostentação, e contra a busca do poder temporal. De facto, tudo quanto a Igreja Romana aprecia, e sempre procura e reclama, é condenado no Novo Testamento e proibido à Igreja de Cristo.
Nas Escrituras, divinamente inspiradas, que descrevem a Igreja (a verdadeira Noiva de Cristo), longe de encontrarmos qualquer semelhança da organização romana, verificamos uma completa ausência dos seus distintivos, salvo os verificados no retrato da anti-noiva, no capítulo 17 do livro bíblico de Apocalipse.
Na Bíblia não se fala uma única palavra a respeito de papas, cardeais, arcebispos, monsenhores, padres, monges e outros dignitários. Apenas são reconhecidos apóstolos, anciãos, diáconos e o sacerdócio espiritual de cada crente em Cristo.
Nem uma só vez se alude a água benta, rosários, crucifixos, turíbolos, romarias, altares dos santos, velas, tiaras, anéis, batinas, vestimentas e aos muitos acessórios que acompanham os ritos e cerimónias da Igreja Romana.
Tão-pouco o Novo Testamento fala em missas, confissão aos padres, culto da bendita Virgem, canonização de santos (e preces dirigidas a eles), orações pelos mortos, purgatório, procissões, bulas, infalibilidade papal e muitos outros ensinos e dogmas da Igreja Romana.
Em verdade uma das cartas neo-testamentárias é dirigida à "Igreja em Roma", sendo ela composta do grupo inteiro dos crentes em Cristo que ali residiam, precisamente como outras cartas são endereçadas às igrejas de Filipos ou Tessalónica.
Convém notar, todavia, que tal carta, longe de sugerir que a Igreja de Roma possuía a mínima sombra de supremacia ou autoridade sobre as outras, não oferece a mínima base para o dogma romano de ser bispo de Roma (ou o primeiro papa) o apóstolo Pedro; de facto a epístola nem sequer menciona o seu nome.
O único apóstolo reconhecido no Novo Testamento como instrumento no desenvolvimento da Igreja de Cristo em Roma é Paulo; porém a Igreja em que ele ministrou em Roma nada tinha de semelhança com a Igreja Católica Apostólica Romana de hoje.
Disto se depreende não ser a Igreja Católica Romana a mais antiga, nem ostentar também os sinais da verdadeira Igreja de Cristo, conforme são fielmente indicados na Bíblia. Ela é apenas uma Igreja antiga subindo no horizonte histórico e assumindo forma distinta com a conversão política do Imperador Constantino, nos fins do terceiro século.

IGREJA DE CRISTO

Existia então (e isto está provado) uma Igreja de Cristo mais antiga que a Igreja Romana, e diferente dela - a descrita no Novo Testamento, necessariamente alguns anos mais antiga que essa Escritura, mas de acordo perfeitamente com os ensinos dela. Que é feito da mesma?

Pode-se traçar através dos séculos a história dessa Igreja, demonstrando o seu parentesco com a Igreja Evangélica de hoje? Seguramente que sim, pois a Igreja tem uma história contínua, cumprindo-se na mesma as palavras do Salvador: "As portas do Inferno não prevalecerão contra ela". Se a sua continuação não se encontrar na fé evangélica dos nossos dias, onde é possível encontrá-la?!
Admite-se que durante longos períodos de tempo depois da era apostólica, e a época dos mártires debaixo dos imperadores de Roma, a sua história pouco se salienta na marcha dos acontecimentos humanos. É que o surgimento da anti-noiva, com suas formalidades e costumes pagãos, com seu esplendoroso mundanismo e sua cruel perseguição dos que seguiam a verdade, levou para o obscurantismo, aos empurrões, a Noiva humilde, a Igreja de Cristo.
Porém, embora escondida, aqui e acolá cintilava por entre as trevas a luz da verdadeira luz evangélica. Pela vida individual dos tementes a Deus, pelas assembleias em cavernas e matas com receio da perseguidora, a vida da Igreja preservava-se até que, passado o triste período da Idade Média, raiou a luz da Reforma. Triunfando, na pessoa dos seus adeptos, sobre os exércitos, carnificinas e inquisições da Igreja Romana, a Palavra de Deus e a fé evangélica que ela produz, emanciparam-se.
Sob um nome ou outro, pouco importa, a tocha da fé evangélica tem atravessado século após século, desde a Igreja Primitiva do 1º século até ao vigésimo, sendo sempre a força motriz da obediente Igreja de Deus retratada no Novo Testamento.
Nenhuma Igreja Evangélica se reclama a única Igreja de Cristo, excluindo as outras; nenhuma, quanto à sua constituição eclesiástica, pretende ser tão antiga como a Igreja Católica Romana, mas todas elas (quanto ao seu espírito e prática) afirmam, e pelos seus sinais provam, ser parte daquela Igreja mais antiga nascida no cenáculo de Jerusalém, no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo, descendo sobre os primeiros crentes, os selou para Deus e os dotou com poder divino para desempenhar o seu papel da Igreja de Cristo perante o mundo.

Hipólito Campos in Novas de Alegria, Revista Evangélica, Junho de 1983.

(Uma das coisas que me tem animado a continuar com os blogs é que as postagens são, em 1º lugar, surpresas para mim mesma. Oro a Deus a pedir inspiração e depois... haveria um rol de histórias que poderia contar de como as coisas acontecem. Isso passou-se também desta vez e de uma maneira ainda mais evidente, pois esta postagem anterior só aparece porque uma colega há muitos anos me ofereceu umas revistas da sua Igreja, Evangélica. E eu, como sempre, guardo tudo com muito 'amor e carinho', e embora não tenha lido na altura, agora apareceu-me este artigo quando, para arrumar umas coisas, tive de pegar num dossier onde estava aquilo que me pareceu, num relance na altura, ser a melhor seleção dessas revistas. E 'por acaso' a pasta caiu e abriu-se exatamente nas páginas desta leitura da qual não tinha qualquer ideia. E assim tem sido. É muito agradável reconhecer que há Alguém a dirigir o meu trabalho. Como posso desanimar, desistir?!... Convido os meus estimados leitores a completarem este assunto em Leituras Para a Vida, 24.06.2015. E.E.)


PAULO EM TESSALÓNICA E EM BEREIA

Tendo passado por Anfípolis e Apolónia, chegaram a Tessalónica, onde havia uma sinagoga dos judeus. Ora, Paulo, segundo o seu costume, foi ter com eles; e por três sábados discutiu com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que era necessário que o Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos; e este Jesus que eu vos anuncio, dizia ele, é o Cristo. E alguns deles ficaram persuadidos e aderiram a Paulo e Silas, bem como grande multidão de gregos devotos e não poucas mulheres de posição.
Mas os judeus, movidos de inveja, tomando consigo alguns homens maus dentre os vadios e ajuntando o povo, alvoroçavam a cidade e, assaltando a casa de Jáson, os procuravam para entregá-los ao povo. Porém, não os achando, arrastaram Jáson e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui; os quais Jáson acolheu; e todos eles procederam contra os decretos de César, dizendo haver outro rei, que é Jesus. Assim alvoroçaram a multidão e os magistrados da cidade, que ouviram estas coisas. Tendo, porém, recebido fiança de Jáson e dos demais, soltaram-nos.

E logo, de noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Bereia; e tendo eles ali chegado, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes eram mais nobres do que os de Tessalónica, porque receberam a palavra com toda a avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim. De sorte que muitos deles creram, bem como bom número de mulheres gregas de alta posição e não poucos homens.
Mas, logo que os judeus de Tessalónica souberam que também em Bereia era anunciada por Paulo a palavra de Deus, foram lá agitar e sublevar as multidões. Imediatamente os irmãos fizeram sair a Paulo para que fosse até o mar; mas Silas e Timóteo ficaram ali. E os que acompanhavam a Paulo levaram-no até Atenas ...

Enquanto Paulo os esperava em Atenas, revoltava-se nele o seu espírito, vendo a cidade cheia de ídolos. Argumentava, portanto, na sinagoga com os judeus e os gregos devotos, e na praça todos os dias com os que se encontravam ali. ...
Então Paulo, estando em pé no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos; porque, passando eu e observando os objectos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem O conhecer, é O que vos anuncio.
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tão-pouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois Ele mesmo é Quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, O pudessem achar, O qual, todavia, não está longe de cada um de nós; porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois Dele também somos geração.
Sendo nós, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem.
Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo o lugar se arrependam; porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-O dentre os mortos.
Atos dos Apóstolos 17.