domingo, 1 de junho de 2014



Quem imaginaria que em Lisboa havia uma coisa dessas? Um hospital para bonecas, no coração da cidade, Praça da Figueira, 7. Foi fundado vai para 170 anos, esteve quase a fechar. Todavia, há dez anos atrás, Júlia Valentim e Manuela Cutileiro, suas proprietárias actuais, impediram que isso acontecesse, para satisfação de crianças e adultos.
Um projecto a pensar na criança que persiste em viver dentro de cada um de nós. A prova de que os afectos são essenciais à vida. Mantê-los já é sinónimo de saúde.

São dos mais diversos feitios, materiais e origens. Chegam normalmente em estado lastimoso. É uma perna ou um braço arrancado. É uma cabeça partida. É um rosto esfacelado. É um ventre dilacerado. É uma careca luzente a pedir cabeleira nova. "Às vezes entra-nos aqui cada coisa que nem sabemos por onde pegar-lhe", conta-nos Mª Júlia Valentim, sócia do singular estabelecimento "hospitalar" e nossa anfitriã.
Vêm pela mão de uma mãe ou de uma avó e mais raramente pela mão de uma criança.
Excepcionalmente, são trazidas também por homens, como foi o caso daquele advogado que ali "internou" o "menino" de porcelana e cara rosada, que desde miúdo o acompanha e de que não se quer separar, pois funciona para ele como talismã.
Há quase sempre uma razão afectiva por detrás da decisão de mandar "tratar" ou "operar" as simpáticas figuras. A primeira boneca de cada criança é quase sempre a que é trazida ao "hospital". Júlia Valentim explica-nos que as mães das jovens que vão casar tomam a iniciativa de mandar reparar as primeiras bonecas ou ursos de peluche das suas filhas para que os levem, refeitos, para as novas casas. Mas situações há em que ao afecto se vem juntar também interesses materiais. Há bonecos que, de tão antigos, são verdadeiras raridades, valendo por isso bom dinheiro.

Os "doentes" são atendidos na recepção que funciona no rés-do-chão, recebem um número de inscrição e esperam que chegue a "ambulância" (uma alcofa com uma cruz vermelha que sobe e desce por meio dum sistema de roldanas) e os iça até ao 4º andar, onde ficarão "internados" na "enfermaria" (chefiada pela D. Maria Antónia), à espera de entrarem nas salas de "cirurgia plástica" (onde a operadora-chefe é a Catarina, uma jovem estusiasmadíssima, rodeada de tesouras, bisturis, agulhas e perfuradores eléctricos), de "transplantes" e, quando o caso é irremediável, na "morgue". Tudo devidamente identificado por tabuletas nas portas.
Existe também a inevitável "farmácia", onde se guarda toda a espécie de mezinhas que servem para devolver as cores e o aspecto que se convencionou serem sintoma ou sinónimo de saúde.
Os olhos das crianças esbugalham-se e ficam muitas vezes marejados de lágrimas ao verem a "ambulância" partir com os objectos dos seus afectos, em direcção ao alto. A separação é dolorosa, e muitas delas chegam a telefonar para saberem se a "cama" onde dormem é boa e se a recuperação corre bem e rápida.

E quando vêm em grupos, com os colegas da escola, é o bom e o bonito. Acotovelam-se para chegarem mais à frente, ardendo em curiosidade e querendo tocar em tudo o que veem. Perguntas são mais que muitas e os comentários sempre surpreendentes.
Júlia Valentim sorri, quando nos confessa que este é um dos aspectos mais compensadores no "negócio": "Há também um fim pedagógico nisto. Os miúdos aprendem que não se deve estragar as coisas de que se gosta e que é importante guardar, preservar os objectos a que nos liga uma certa afectividade, que há laços entre pais e filhos que devem ser mantidos pela vida fora."

Entusiasmo igual ao dos miúdos só o que é revelado por fotógrafos e operadores de câmara que têm a sorte de descobrir aquela mina de imagens e situações. "Há sempre mais um pormenor que querem captar", diz-nos a nossa guia, ansiosa para nos conduzir até à secção dos "recuperados" ou "doentes com alta". E não resiste, ela também, a posar para a fotografia, segurando na mão, primeiro, uma boneca de porcelana perfeitamente recuperada e, logo depois, com um ursinho de peluche restaurado.
"Recuperamos todo o tipo de brinquedo. Mas também fazemos trabalhos de restauro em imagens sacras, em porcelanas, louças 'Companhia das Índias', etc. Fizemos restauro também para o Museu da Marinha, para o Hotel do Buçaco, entre outras instituições". Segundo Júlia Valentim, clientes é coisa que não falta ao Hospital das Bonecas. Há clientes de todo o país e até do estrangeiro.


Texto de uma Revista Médica OXIGÉNIO



SÍNDROME  DO  BEBÉ  SACUDIDO/ABANADO


       Se os bebés falassem era este o apelo que fariam aos pais sempre que, frustrados com o choro incessante, se sentem tentados a abaná-los, numa tentativa desesperada para os acalmar. Mas este é um gesto com consequências graves: lesões cerebrais e até a morte podem ser o desfecho.
       Os bebés choram. E choram muito. Porque têm fome, sede, frio, calor, porque têm a fralda molhada ou suja, porque há muito barulho à sua volta, porque têm cólicas, porque estão desconfortáveis, porque querem mimo... Porque sim!
       Chorar é a linguagem dos bebés, uma linguagem muito própria que exige dos pais um constante trabalho de descodificacão, tentar perceber as quase imperceptíveis alterações na tonalidade e intensidade do choro. De tal forma que às vezes só os pais - outras nem os pais - as distinguem. Ainda privados do dom da palavra, é assim que os bébes se integram no mundo e integram o mundo em si próprios. Primeiro choram, mais tarde sorriem, depois lá virão os primeiros sons articulados e finalmente as palavras. Códigos que os adultos tentam assimilar, nem sempre com sucesso. Pais e filhos crescem ao mesmo tempo, afinal... Mas o que fazer quando eles não estão doentes, não têm fome, nem sede, nem frio nem calor e a fralda está limpa e seca e, ainda assim, insistem em chorar como se o mundo fosse acabar? O que fazer quando eles choram inconsoláveis, resistindo a todos os mimos e truques que os pais conhecem e inventam para os acalmar? O que fazer quando embalar o berço ou passeá-los ao colo é o mesmo que nada fazer? À medida que todas as tentativas fracassam, vai aumentando o stress dos adultos, à beira de um ataque de nervos, sem que a bonança pareça tomar o lugar da tempestade. Às vezes é o descontrolo, a irracionalidade dos comportamentos perante a irracionalidade do choro. E os adultos agarram na criança e abanam-na, como se quisessem exorcizar o choro. Agitam-na no ar, vezes sem conta, em movimentos imparáveis de vai e vem, até que ela de facto se cala.

LESÕES PARA A VIDA  OU  A VIDA EM RISCO

       Porém, danos severos podem ter sido entretanto causados no pequeno corpo. Danos que não se notam e para os quais os pais ainda estão pouco alertados. Porém, em países como os Estados Unidos há muito que se investiga este fenómeno, a que médicos deram o nome de shaken baby syndrome - numa tradução literal para o português "síndrome do bebé sacudido/abanado".
       Que danos são afinal esses? Quando um bebé é agitado vigorosamente, a cabeça move-se para a frente e para trás, num sem número de movimentos repentinos que aumentam a pressão sobre o cérebro e podem causar hemorragias.
       Basta lembrar que a cabeça de um bebé é desproporcionalmente grande em comparação com o resto do corpo, assemelhando-se a um pêndulo quando agitado de um lado para o outro. O grau de dano cerebral depende da quantidade e duração dos abanões, se bem que ainda não esteja definido um limite a partir do qual existe perigo para a criança. Mas casos há em que bastam cinco segundos para produzir estas lesões.
       O que se sabe é que os sinais e sintomas desta síndrome compõem um vasto espectro de alterações neurológicas, que vão desde vómitos, letargia, tremores e irritabilidade a situações mais graves como ferimentos, coma e mesmo a morte. Na origem destas alterações neurológicas está a destruição de células cerebrais em consequência do trauma, falta de oxigénio e inchaço do cérebro.
       Na maioria dos casos ocorrem também hemorragias na retina ou num dos olhos. Em casos mais violentos, são igualmente frequentes fracturas nos ossos dos membros superiores e inferiores e nas costelas. Porém, na maioria das vezes não há sinais exteriores de trauma, na cabeça ou no corpo, o que torna mais difícil o diagnóstico. Mas o trauma existe e, segundo os estudos já desenvolvidos, em 20% dos casos conduz à morte do bebé. Nos que sobrevivem é possível encontrar sequelas como desordens na aprendizagem e alterações comportamentais, atraso no desenvolvimento mental, paralisia e cegueira. Para quem provavelmente nunca ouviu falar nesta síndrome, o quadro é de facto assustador. E suscita dúvidas: o que acontece àquelas brincadeiras de que as crianças tanto gostam em que os pais as atiram ao ar e dão reviravoltas? Não têm de acabar! Se as brincadeiras forem adequadas à idade muito dificilmente causarão danos físicos. É claro que atirar um bebé ao ar contém os seus riscos, mas o maior de todos é se ele cair ao chão. Aliás, há uma substancial diferença na força usada quando se abana violentamente um bebé e naquela que está presente quando ele simplesmente tropeça e cai: é que no primeiro caso é dez vezes superior.

UMA FORMA DE MAUS TRATOS

       Esta é uma síndrome que anda muito associada aos episódios de maus-tratos infantis. Pelos hospitais portugueses passam casos de bebés que acabaram por morrer em consequência de violência sobre eles exercida pelo adulto que devia tomar conta mas não soube controlar os impulsos, agitando-o até conseguir que se cale. É claro que, em circunstâncias normais, quando um pai tenta a todo o custo acalmar o choro desesperante de um bebé não pretende magoá-lo. Mas é isso que acontece se decidir sacudir o pequeno corpo até o choro cessar. A verdade é que o bebé deixa de chorar e nada no seu comportamento imediato indicia que possa ter sido magoado. Mas, ironicamente, a presença de uma lesão pode fazer precisamente com que o choro acabe. E quando um bebé deixa de chorar, o comportamento do adulto, inicialmente ditado pelo stress, pode passar a ser a regra, usado de cada vez que o pequeno ser resolva manifestar-se ruidosamente. É um perigoso ciclo vicioso para o qual pais e educadores devem estar alerta. Por isso, da próxima vez que o seu bebé decidir chorar com toda a força dos seus pequeninos pulmões, comece por contar até 20, até 50 ou até 100, se necessário for...

LEMBRE-SE QUE...

Da próxima vez que o seu bebé chorar desalmadamente não desespere.
* Um bebé normal pode passar 2 a 3 horas por dia a chorar.
* Há mil e uma maneiras de acalmar um bebé.
* O choro funciona como um isco: aumenta o stress dos pais, atrai a sua fúria e leva a comportamentos descontrolados.
* Abanar um bebé pode ser perigoso, podendo causar-lhe danos severos ou mesmo a morte.
* A força de um pai à beira de um ataque de nervos aumenta significativamente.
* Não pegue no bebé quando estiver a ter uma discussão.
* Não brinque com o bebé abanando-o.
* Um bebé que chora não faz de si um mau pai ou uma má mãe: deixe-o chorar, desde que o vá vigiando.

SE UM BEBÉ CHORA...

Quando um bebé chora está a comunicar as suas necessidades e desejos, a fazer queixas e a reclamar cuidados. Por isso, quando o seu bebé chorar verifique:
* Se está na hora de comer ou se tem sede.
* Se tem frio ou calor.
* Se a roupa está demasiado apertada.
* Se a fralda está molhada ou suja.
* Se tem cólicas ou qualquer outro sintoma físico.

Se a resposta a estas hipóteses for negativa e ele continuar a chorar, tem duas hipóteses: ou espera que ele se acalme por si ou tenta acalmá-lo (o que acontece quase sempre, pois não há pai ou mãe que resista ao choro do seu bebé...).

Se optar por apaziguar o choro pode tentar algumas estratégias:


* Fale com ele, cante-lhe uma canção de embalar, faça-o ouvir música suave.
* Relaxe-o com massagens suaves - o toque é um verdadeiro calmante.
* Embale-o ao colo ou sobre os joelhos.
* Ofereça-lhe a chucha.
* Distraia-o com um brinquedo colorido ou que emita sons.
* Coloque-o no carrinho e dê um pequeno passeio na rua.
* Peça ajuda, se puder, de modo a evitar entrar em stress.
* Deixe-o chorar se nada resultar.
* Aconselhe-se com o pediatra se o choro se mantiver e a sua preocupação também.

Faça tudo o que estiver ao seu alcance, mas nunca por nunca sacuda o seu bebé!


Texto de uma revista da ANF - Associação Nacional das Farmácias; autor desconhecido.