quarta-feira, 4 de abril de 2012



CRISTO OU BARRABÁS?

       Nos dias em que a maioria celebra a Páscoa cristã, não queria deixar de lembrar aquele julgamento há quase 2000 anos, em que Cristo - nossa Páscoa - foi sacrificado por nós. Isso aconteceu após absolvição pública pelo pretor Pôncio Pilatos, que governou a Judeia de 26 a 37 a.D. - dependente da Prefeitura Romana na Síria, mas que foi transformada em condenação popular, apesar de dissimulada de judicial.

       Juridicamente, e à luz da História do Direito Romano, este processo penal constituíu um exemplo flagrante da usurpação do poder judicial, por uma turba enfurecida, que se queria independente de qualquer outro poder (administrativo, popular ou religioso). E o insólito aconteceu:

       Um homem-Deus que andara fazendo o bem, que apregoara a paz, a justiça, a humildade e o amor, e que dissera: "O Meu reino não é deste mundo", foi difamado, preso e julgado como alvoroçador do povo, apesar das reiteradas declarações de inocência pelo juiz-presidente do tribunal romano. E um rebelde contra o poder de Roma, pasme-se! foi libertado, em Seu lugar.

Segundo um costume pagão e por proposta de Pilatos, foi libertado um criminoso famoso que fora preso e julgado na sequência de uma revolta e insurreição violenta contra Roma, chamado Barrabás, mas que, apesar dos seus temíveis assaltos à mão armada no caminho de Jericó, tornara-se, para muitos judeus, um herói nacional, alguém julgado com poder para libertar da opressão romana.

       Quem era Barrabás? Em aramaico significa: 'filho de pai' (abbas). Mas São Jerónimo diz ser Bar Rabban e que significa: 'filho de rabi'. Portanto, aquele nome estaria ligado à função de rabi, mestre e senhor. Daqui, a ligeireza da escolha popular em Barrabás, manipulada pelos sacerdotes, em detrimento do Rabi da Galileia - Jesus Cristo - o Senhor, que ameaçava mais (aparentemente) o poder religioso dos sacerdotes judaicos do que o poder político romano.

       Ellen White, uma escritora cristã americana, afirmou que Pilatos, vendo-se impotente perante a pressão contagiante dos príncipes e sacerdotes, foi forçado a agir para, de algum modo, tentar livrar da condenação o justo Jesus. Sua esposa deu-lhe uma ajuda, ao enviar-lhe um recado urgente, após um sonho divino: "Não entres na questão deste justo!" Foi então que Pilatos, através de um costume pagão, que consistia em soltar um preso pela Páscoa, esperava poder apelar ao discernimento espiritual dos príncipes e sacerdotes, e de todo aquele povo presente, para a inocência, a bondade e a justiça de Cristo, em contraste com o rosto pejado de ódio, crueldade e crime de Barrabás.

       Mas não foi assim! A turba enfurecida e insensível aos valores da justiça, da equidade e da bondade, respondeu-lhe qual cerco de animais ferozes: "Solta-nos a Barrabás!"

       É que este encarnava para eles, eivados de um nacionalismo anti-romano, o estilo da salvação política que buscavam, o verdadeiro Messias libertador da opressão estrangeira, ao contrário do que Jesus proclamava: "O Meu reino não é deste mundo ... dai a César o que é de César" e, por isso a escolha!

       Pôncio Pilatos já desesperado, voltava à carga, e pergunta: "Então, que farei de Jesus, chamado o Cristo?" A resposta não se fez esperar pela multidão, que rugia como demónios em forma humana: "Que seja crucificado!" E o pretor-juiz contestou: "Hei-de crucificar o vosso Rei?" E, de novo, responderam: "Não temos outro rei se não César!"
       Perante isto, Barrabás foi solto e recebido pelo povo como um herói nacional, misturando-se com as gentes pelas ruas de Jerusalém, enquanto o inocente Redentor foi entregue para ser açoitado e crucificado numa cruz preparada para Barrabás.

       Quanto a Pilatos, pedindo água para lavar as mãos, pronunciou as suas últimas palavras: "Estou inocente do sangue deste justo!"
Mas não estava! E a prova é que a maldição também caiu sobre ele, ao querer ficar isento perante a causa de Cristo. Foi destituído do seu cargo em 37, e exilado para uma fortaleza onde se suicidou, porque não teve a vontade e a coragem de estar ao lado da verdade e defendê-la. Afinal, aquilo que não queria perder, isso perdeu sem honra nem glória!

       Quanto à escolha dos judeus, e ao seu pedido de que "o Seu sangue caia sobre nós e os nossos filhos", foi uma triste realidade! Primeiro, foram rejeitados como povo de Deus no ano de 34 a.D. com a morte de Estevão - o primeiro mártir do Cristianismo. Em 70, o seu templo foi derrubado, bem como a sua cidade, por Tito, general romano.
Nos séculos seguintes, os judeus foram perseguidos e torturados pela chamada 'Santa Inquisição'. E, já nos nossos dias, foram levados quase até ao seu extermínio pelo nazismo.

As escolhas que fizermos hoje têm sempre repercussões no amanhã! "Escolhamos, pois, a vida para que vivamos", como propôs o profeta Moisés.

O mundo é passageiro! Aceitemos antes o Evangelho de Cristo, tal como chegou a nós, e se encontra no original, pois, depende de cada um nesta Páscoa de 1998 (2012) fazer a sua escolha:

Cristo ou Barrabás?


Daniel Simões da Silva, licenciado em Teologia, História e Direito