quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

RECONCILIADOS.
A Melhor SOLUÇÃO!


Sou japonês e cresci num mundo de máquinas. Calculadoras de bolso, relógios digitais, rádios estereofónicos, televisores a cores, mini-cassetes são parte do meu mundo. Os nomes de Honda, Toyota, Datsun, Yamaha, Sony, Hitachi, Seiko tornaram-se famosos durante a minha geração.
Mas em Fevereiro de 1979 dez de nós deixámos tudo isso de lado durante seis semanas e submergimo-nos numa sociedade onde a visão não mudou em milhares de anos. Em Papua, Nova Guiné, vivemos entre os habitantes de uma remota aldeia tribal, e comemos inhame, cocos e bananas, e ocasionalmente galinha e peixe.

Fomos ali como parte de um projecto de reconciliação. O ressentimento e até a hostilidade contra o Japão permaneceram em Papua desde a segunda Guerra Mundial. Por parte da igreja cristã episcopal a que pertenço, desejávamos estender uma mão cordial e mostrar o amor de Cristo aos papuas.
O objectivo prático do nosso grupo era colaborar com os habitantes do lugar na construção de uma casa para a estação missionária. Levantámos o edifício e sobretudo estendemos pontes de reconciliação e compreensão. Embora a minha relação com os papuas tenha representado uma experiência muito valiosa para mim, o ponto culminante dessa viagem foi o meu encontro com um médico australiano.

Durante a guerra ele tinha trabalhado em Papua, Nova Guiné, como médico militar, e desde então ali tinha ficado.
Quando nos encontrámos, a sua saudação foi como uma bofetada: "Não necessita de se preocupar: pessoalmente não tenho nada contra os japoneses, mas os papuas jamais poderão esquecer o que vocês lhes fizeram na guerra!" Que tinha eu que ver com a guerra? Nessa altura, nem sequer tinha nascido. De qualquer modo, a culpa não estava só do lado japonês.
Desculpas e refutações iradas se acumularam na minha mente. Reprimi-as, porém, e nada disse. Durante os dias seguintes tive de trabalhar com este australiano, e de vez em quando a conversação voltava ao tema da guerra.
Cada vez me sentia mais indisposto. Aos japoneses, ensina-se-nos a controlar os nossos sentimentos, de maneira que eu continha a minha reacção perante as suas provocações e ofensas contra o meu povo.

Mas o ressentimento contra aquela pessoa ia aumentando. Certo dia alguns de nós encontrámo-nos num lugar turístico famoso, em frente da cruz de uma igreja.
Ali também estava o médico australiano, e senti o impulso de lhe pedir que se pusesse ao meu lado, em frente da cruz, enquanto um amigo nos tirava uma fotografia. E então ocorreu o inesperado. Até esse momento tinha sentido contra ele uma ira reprimida. Não podia dizer-lhe nada amável ou afectuoso, mas fui colhido pelo impulso de falar-lhe, quase que como obedecendo a um estímulo físico procedente da cruz que estava por detrás de nós. Tinha que falar.

Balbuciei: "A guerra foi terrível e nós tivemos a culpa. Perdoem-nos!" Imediatamente abraçou-me e disse: "Não. Não! Você é que tem que me perdoar!" Não podia acreditar. Este duro australiano sentia-se comovido até às lágrimas.
Desapareceu todo o ressentimento que se tinha ido acumulando. Foi um momento de completa reconciliação diante da cruz ali erguida. Pela primeira vez experimentei de modo cabal o amor de Cristo em acção. Compreendi como nunca antes o que significava perdoar e ser perdoado. O amor de Cristo revelado na cruz tem poder para mudar as nossas vidas. Desde que tive essa experiência não serei mais a pessoa que era antes.


Kentro Atano, tal como o contou a Simon Baynes - (Extraído de Decision) in Sinais dos Tempos