
Mas em Fevereiro de 1979 dez de nós deixámos tudo isso de lado durante seis semanas e submergimo-nos numa sociedade onde a visão não mudou em milhares de anos. Em Papua, Nova Guiné, vivemos entre os habitantes de uma remota aldeia tribal, e comemos inhame, cocos e bananas, e ocasionalmente galinha e peixe.
Fomos ali como parte de um projecto de reconciliação. O ressentimento e até a hostilidade contra o Japão permaneceram em Papua desde a segunda Guerra Mundial. Por parte da igreja cristã episcopal a que pertenço, desejávamos estender uma mão cordial e mostrar o amor de Cristo aos papuas.
O objectivo prático do nosso grupo era colaborar com os habitantes do lugar na construção de uma casa para a estação missionária. Levantámos o edifício e sobretudo estendemos pontes de reconciliação e compreensão. Embora a minha relação com os papuas tenha representado uma experiência muito valiosa para mim, o ponto culminante dessa viagem foi o meu encontro com um médico australiano.
Durante a guerra ele tinha trabalhado em Papua, Nova Guiné, como médico militar, e desde então ali tinha ficado.
Quando nos encontrámos, a sua saudação foi como uma bofetada: "Não necessita de se preocupar: pessoalmente não tenho nada contra os japoneses, mas os papuas jamais poderão esquecer o que vocês lhes fizeram na guerra!" Que tinha eu que ver com a guerra? Nessa altura, nem sequer tinha nascido. De qualquer modo, a culpa não estava só do lado japonês.
Desculpas e refutações iradas se acumularam na minha mente. Reprimi-as, porém, e nada disse. Durante os dias seguintes tive de trabalhar com este australiano, e de vez em quando a conversação voltava ao tema da guerra.
Cada vez me sentia mais indisposto. Aos japoneses, ensina-se-nos a controlar os nossos sentimentos, de maneira que eu continha a minha reacção perante as suas provocações e ofensas contra o meu povo.
Mas o ressentimento contra aquela pessoa ia aumentando. Certo dia alguns de nós encontrámo-nos num lugar turístico famoso, em frente da cruz de uma igreja.
Ali também estava o médico australiano, e senti o impulso de lhe pedir que se pusesse ao meu lado, em frente da cruz, enquanto um amigo nos tirava uma fotografia. E então ocorreu o inesperado. Até esse momento tinha sentido contra ele uma ira reprimida. Não podia dizer-lhe nada amável ou afectuoso, mas fui colhido pelo impulso de falar-lhe, quase que como obedecendo a um estímulo físico procedente da cruz que estava por detrás de nós. Tinha que falar.

Desapareceu todo o ressentimento que se tinha ido acumulando. Foi um momento de completa reconciliação diante da cruz ali erguida. Pela primeira vez experimentei de modo cabal o amor de Cristo em acção. Compreendi como nunca antes o que significava perdoar e ser perdoado. O amor de Cristo revelado na cruz tem poder para mudar as nossas vidas. Desde que tive essa experiência não serei mais a pessoa que era antes.
Kentro Atano, tal como o contou a Simon Baynes - (Extraído de Decision) in Sinais dos Tempos